Patrícia Goedert, 48 anos, de Florianópolis, é um exemplo clássico. Durante anos, foi responsável pelas sobremesas da família. Sempre teve “mão boa” para o preparo de doces. Casou, foi morar no Mato Grosso e, quando retornou a Santa Catarina, com as filhas ainda pequenas, decidiu se aventurar na área. – Acho que esse meu lado é uma herança da minha mãe, o artesanal, o capricho, a arte – relembra, comentando que só aos 32 anos iniciou a produção das primeiras encomendas. O start para o reconhecimento e o famoso e insuperável boca a boca vieram depois de uma mostra para casamentos que, mesmo sem expertise, ajudou a montar no vão central do Beiramar Shopping. Na época, com a internet ainda engatinhando, mandava trazer da Austrália, por exemplo, revistas da área.
Há um clichê que permeia o imaginário coletivo quando se fala das doceiras e confeiteiras, aquelas senhoras de quem nossas mães encomendavam delícias como tortas, bolos e docinhos. Quase como a personificação das pinturas do colombiano Fernando Botero. As doceiras de hoje em dia em nada lembram essas memórias guardadas na caixinha da infância. Profissionalizadas, muitas delas deixaram a informalidade da cozinha de casa para abrir espaços com seus próprios nomes, decorados por arquitetos reconhecidos com logomarcas planejadas para apresentar uma variada produção com ingredientes de qualidade e invenções que derrubam por terra qualquer dieta restritiva.
Com o sucesso e alguns anos depois, o marido fechou a empresa que mantinha, as duas filhas “criadas na panela de brigadeiro” já estavam crescidas e, enfim, a doceria ganhou um espaço próprio. Em quatro anos, passou por três reformas e pulou de 100 metros quadrados para 700. Hoje, instalada em uma fábrica com 50 funcionários na movimentada SC-401, Patrícia produz de 15 a 20 mil docinhos por semana e entre 40 e 50 bolos artísticos. A Patrícia Goedert Doçaria já conta com três unidades, todas franquias. As filhas se formaram em profissões que se encaixaram perfeitamente no negócio familiar. É o quarteto que trabalha junto para a expansão dos negócios.
– Em quatro anos queremos ter 20 lojas – aposta a empresária, que na hora de revelar qual seu doce predileto é certeira: – O brigadeiro, claro (risos). E olha que já fiz inúmeras revisões de receitas, mas é o que eu mais gosto.
Macarons da Casa de Chá Mayra Paulli
Ainda com a primeira loja e prestes a transferir-se para um lugar maior, há dois anos e três meses a paulista Priscila Gemente de Carvalho, 34 anos, abriu as portas da Pannacotta Bake Shop no Córrego Grande, bairro da Capital que aos poucos vai ganhando interessante forma gastronômica.
Nascida em Mairinque, interior de São Paulo, Priscila trabalhou por alguns anos, depois de formada em Administração, como gerente de comunicação. Acompanhou ainda o marido em moradas por Manaus e Argentina até chegar há três anos em Floripa. Mas desde os 16 anos vive cercada por estas delícias.
– Sou fanática por doces. Mesmo estudando ou trabalhando, usava o tempo livre para preparar as encomendas de tortas, bolos e doces – comenta.
Foi o boom do cupcake que a fez deixar de lado o dia a dia no escritório e partir para o próprio negócio. O pequeno espaço não tem um cardápio fixo – apesar do bolinho de Leite Ninho, sucesso da doçaria, se manter onipresente – e Priscila faz questão de frisar que tudo é feito em seu pequeno ateliê.
Das geleias dos recheios às massas. Como uma forma de se destacar, Giulia Librizzi, 26 anos, aposta na palha italiana e no naked cake feito com massa de amêndoas. De família italiana, a florianopolitana cresceu provando as maravilhas gastronômicas que a avó preparava durante o verão à beira da piscina da casa no Sambaqui, vinda da Itália para temporadas em terra brasilis. O pai é dono de um famoso restaurante na Capital e foi ali, em plena Beira-Mar Norte, que ela passou a adolescência em diferentes turnos para colaborar com o empreendimento dos Librizzi.
Mas na hora do vestibular titubeou e prestou para Direito.
– Nem cheguei a cursar. Logo vi que a Gastronomia falava mais alto. Fiz um tempo em Floripa e depois mudei para um curso (na Univali) em Balneário Camboriú. Foi uma das melhores coisas que eu fiz. Aprendi muito – revela.
Como se não bastasse a ascendência, Giulia garantiu, após a finalização da universidade, um estágio na Casa Fasano, tradicional espaço de festas que leva a assinatura da mais famosa família italiana da capital paulista. Por lá, se aprofundou na área de eventos e mergulhou na confeitaria.
– O que eu mais gosto dos Fasano, e o que trago para o meu trabalho, é a aposta no clássico. O que é tradicional, quando bem feito, não tem que mudar. Em seguida, partiu para uma temporada na Itália, fez cursos, novos estágios e rodou pela Europa em busca de novidades, de conhecimento.
Na volta, criou um blog, o La Mia Dolce Vita – que hoje dá nome ao seu espaço, instalado no Centro de Floripa – para relatar experiências e dar dicas de restaurantes, passeios e pontos turísticos pelos quais passou. Paralelamente, começou a criar seus doce para eventos familiarese aberturas de lojas, além das encomendas dos amigos. Neste momento, a palha italiana já era sua marca registrada. Até embarcou na onda do cupcake, mas deixou de lado pouco tempo depois. Em agosto do ano passado, recebeu o convite de uma amiga arquiteta para criar uma loja entre os espaços da Mostra Casa & Cia, realizada pelo Diário Catarinense.
O sucesso foi tão grande que, antes mesmo de a mostra terminar, já havia alugado uma bela casa na Travessa Harmonia, em Florianópolis, toda decorada com a cor rosa e com peças de murano, para em dezembro abrir as portas encarando uma grande prova, o Natal. Com quatro funcionários, optou por não fazer muito alarde na inauguração.
– Quis criar uma identidade, um produto, até mesmo as embalagens, que fossem a minha cara – finaliza.
Dona de uma deliciosa casa de chá em Floripa, Mayra Pauli, nascida em Antônio Carlos, cursou Administração e trabalhou por anos em uma empresa de tecnologia. Já instalada em Florianópolis, quando a filha única nasceu ela decidiu mergulhar profundamente no universo dos doces.
– Era para ficar mais tempo com ela, mas não foi isso que aconteceu – relembra, aos risos, de quando criou a pequena entre as panelas, chocolate belga, leite condensado e o forno de casa.
Em 2002, graças a um famoso cerimonialista, ela começou a ganhar fama entre os fanáticos por suas delícias. Até hoje, casamentos e eventos corporativos, muitos em parceria com a colunista de Donna Lica Paludo, sustentam a empresa. Mas em 2011 realizou seu maior sonho. Abriu no Santa Mônica a charmosa Casa de Chá Mayra Pauli, onde pode expor e vender suas criações. Apaixonada por chás – há, inclusive, receitas de doces feitas com infusão da bebida –, ela mistura as duas coisas.
– Eu gosto dessa alquimia. Não saio da cozinha, é das 7h da manhã às 8h da noite – revela.
Para manter-se atualizada, assim como a equipe de 10 funcionários, já trouxe especialistas de diversos países, incluindo da França. O olhar apurado capta as dicas dos experts, mas adapta para o paladar brasileiro.
– Não adianta, na França eles usam bastante gelatina, e aqui não faz sucesso. Assim como
os chocolates amargos, de 70%, por exemplo – afirma, enquanto comemora o sucesso do puxa-puxa de pistache, um doce que faz parte de sua própria história e faz enorme sucesso.