Foto: Leonardo Finotti, Divulgação
Foto: Alberto Andrich, Divulgação
Palco de Brasil x Alemanha na tarde desta terça-feira pela semifinal da Copa do Mundo 2014, o Estádio Mineirão foi cenário de outras cinco partidas do mundial, incluindo a vitória do Brasil sobre o Chile nos pênaltis em 28 de junho em Belo Horizonte. Idealizado em 1940 e inaugurado em 1965, o imponente estádio passou por uma completa - e complexa - transformação interna e do entorno que o deixou pronto para brilhar tanto quanto a Seleção Brasileira.
O escritório responsável pela remodelação do Mineirão, o BCMF Arquitetos, estará representado por um de seus sócios em evento na Capital gaúcha nesta quarta-feira. Bruno Campos irá palestrar, a convite da AsBEA-RS, no British Club, às 12h30min, sobre como ele e seus sócios - Marcelo Fontes e Sílvio Todeschi - executaram o projeto por dois anos para adequação ao Padrão Fifa e modernização do complexo para fins multiuso.
- O pessoal da imprensa nos deu feedback incrível dizendo que os jornalistas europeus elogiaram muito o Mineirão. Ficou em nível internacional de qualidade.
Casa&Cia conversou com Bruno nesta terça-feira sobre a transformação do Mineirão, antecipando o tema da conversa com profissionais da área.
:: História do estádio
Planejado na década de 40, com projeto de Eduardo Mendes Guimarães Júnior e Gaspar Garreto, na época em que Juscelino Kubitscheck era prefeito de Belo Horizonte, o estádio Mineirão só ficou pronto em 1965. Ícone na paisagem da cidade, está inserido no Complexo de Lazer e Turismo da Pampulha, que contou com nomes como Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Cândido Portinari, entre outros, no projeto. Quando a estrutura ficou pronta, o Mineirão era o segundo maior estádio do mundo, com capacidade para 130 mil pessoas, perdendo apenas para o Maracanã. Hoje, a estrutura do Mineirão é tombada.
- Foi um trabalho hercúleo - conta Bruno por telefone a ZH. - O grande desafio era como transformar um estádio tombado adequando-se aos padrões Fifa e que fosse uma contribuição para a cidade, que deixasse um bom legado e possibilidades de uso para shows e outros eventos - diz Bruno.
:: Necessidade de mudança
Com a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014 e a consequente escolha do Mineirão como um dos estádios que seria palco de jogos, foi realizada uma parceria público-privada para a remodelação do estádio. Em troca, uma empresa receberia a concessão de uso do empreendimento por 25 anos. A empresa vencedora da licitação foi o Consórcio Minas Arena, que convidou a BCMF Arquitetos, experiente em projetos de arquitetura esportiva, para ser responsável pela renovação do Mineirão. Além disso, o Mineirão também será palco das Olimpíadas Rio 2016 (abrigará partidas do futebol masculino e feminino).
Principais intervenções realizadas
:: Arquitetura
Por ser tombado, o Mineirão não podia sofrer alterações na estrutura externa: foram mantidos os 88 pórticos estruturais, a cobertura de concreto e a arquibancada superior. O interior do estádio, porém, foi completamente remodelado. Há uma nova extensão da cobertura, um trabalho muito cuidadoso para inserção dessa estrutura, que agora cobre todos os assentos. Existia, ainda, um conflito de fluxo muito significativo: pedestres e motoristas circulavam na mesma área. Atualmente, os carros estão sob a Esplanada (área externa), mantendo o número de vagas de veículos.
:: Arquibancadas
De 130 mil, a capacidade do estádio passou a 62.160 lugares. Isso porque antigamente muitos torcedores ficavam em pé. Pelo mesmo motivo, para proporcionar conforto a todos os setores, o campo foi rebaixado em 3m40cm, já que a área ocupada pela "Geral" não permitia ângulo de visão aos torcedores que ficassem sentados. Agora, os assentos são numerados, ergonômicos e resistentes. Retráteis, permitem a fácil circulação do público.
:: Comunicação visual
Os assentos são em três tons de cinza (médio, claro e escuro), para combinar com a sobriedade do concreto aparente do Mineirão.
- A torcida é o verdadeiro espetáculo que colore o lugar - afirma Bruno.
Cores vibrantes como laranja e púrpura na identificação dos quatro setores de acesso do público ao estádio, chamados de "vomitórios". O projeto destes espaços é da Hardy Design.
:: Vestiários e campo
"Não há muitos luxos", conta o arquiteto, na área em que os jogadores se concentram antes da partida. Os dois vestiários foram remodelados e têm piso amarelo emborrachado e quatro banheiras de hidromassagem. Estes dois ambientes, um para o time da casa e outro para o visitante, podem ser divididos internamente, ou seja, dar origem a quatro vestiários para quando houver necessidade de duas partidas no mesmo período. Quanto ao gramado do campo, a especificação da grama vem da Fifa. Chama-se "bermudas celebration" a espécie usada no Mineirão. Uma empresa especializada, a Green Leaf, foi a responsável pelo complexo sistema de drenagem das camadas do gramado.
:: Sustentabilidade
O projeto contempla também soluções sustentáveis, usando recursos como energia solar, reaproveitamento de água da chuva, sistemas eficientes de iluminação, controle inteligente de energia e outros (Certificação LEED).
- Essa é uma das coisas mais importantes do projeto. Foi o primeiro estádio verde do Brasil. Inclusive, todo o material de demolição foi reciclado também. Além das placas de energia solar, há um reservatório pra reaproveitamento interno no estádio de toda a água da chuva.
:: Entorno do estádio
A área externa ao Mineirão é outro grande legado da reforma do Estádio à cidade. A Esplanada tem 80 mil metros quadrados e conta com serviços variados no entorno, funcionando como imensa praça aberta ao público pedestre, integrada ao bairro da Pampulha, adaptada na topografia de BH, com muitos desníveis.
- O potencial de sinergia do Mineirão é incrível. As pessoas vão para a área externa andar de bicicleta, skate, caminhar. Tem o Museu do Futebol ali perto atraindo turistas também - comemora Bruno, ressaltando que o paisagismo ainda está em desenvolvimento.
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