Em determinadas cidades, o comércio pode ficar aberto; em outras, deve fechar. Em alguns países, os surtos diminuíram; em outros, foram detectadas novas variantes do vírus. Há crianças sem aulas por aqui e com aulas no hemisfério oposto. Cada ponto do planeta tem suas próprias diretrizes e demandas relacionadas à covid-19, o que me parece alarmante. Se a pandemia, como o próprio nome diz, é global, a solução para erradicá-la não teria que ser minimamente integrada também?
De que adianta um país zerar o número de contaminados se os países vizinhos são menos céleres? Perguntas sem fim, respostas inexatas. Nosso caminho para a liberdade ainda tem muitos obstáculos e dificilmente trilharemos de lá pra cá com a facilidade de antes. Só recorrendo à utopia. Tudo o que nos difere (cultural, espiritual e ideologicamente) teria que ser desconsiderado em prol de uma ambição maior: derrotar o inimigo comum. Mas, para isso, todos os países precisariam entrar em acordo, o que é fantasioso. Se nem mesmo em um prédio residencial existe unidade de pensamento entre os condôminos, como vencer a pandemia juntos, de forma planetária?
Há pressa em fabricar vacinas e distribuí-las, há pressa em produzir os próprios insumos, há pressa em fazer a economia girar, há pressa dos cidadãos em voltar a trabalhar, a estudar, a viajar, e eu observo o ranking das nações adiantadas e atrasadas nesta corrida contra o tempo e penso: estamos nos mexendo, mas ainda falta um senso de responsabilidade único e geral.
Contra o apocalipse, John Lennon deu sua receita: “Imagine todas as pessoas vivendo o presente, imagine que não haja países, nada pelo que matar ou morrer, e nenhuma religião também; imagine que não existam posses, nem ganância e fome, imagine todas as pessoas compartilhando o mundo inteiro”. São fragmentos da canção Imagine, o hino dos sonhadores, que este ano completa 50 anos e que apresenta uma fórmula fora da realidade, mas sábia.
Para que o caos seja extinto sem deixar fios soltos, precisamos de uma liderança mundial que fale mais alto do que as diferenças, que coloque o bem-estar de todas as nações acima das disputas de poder. Se eu acho plausível essa trégua coletiva? Minha fé não chega a esse ponto (o Brasil, por exemplo, precisaria antes recuperar o respeito internacional), mas acredito, sim, que uma suspensão temporária de conflitos poderia fazer diferença no resgate da normalidade que tanto desejamos, e ainda nos ensinaria muito sobre os poderes da empatia e da paz. Óbvio que estou pirada, você não? Então permita-me concluir: além da vacina, só uma revolução profundamente humanista e universal nos tirará desse sufoco. O ex-beatle era viajandão, mas gênio. All we need is love, pra ontem.