Nada contra quem faz, até tenho amigas que fizeram, quem me conhece, sabe. Já comecei o texto dando as desculpas furadas de quem é pego na mentira para parecer que não tenho preconceito contra o chá de revelação, esse evento que não para de ganhar adeptos no mundo. Tudo começa com o casal levando junto uma amiga ou parente na ultrassonografia que revelará o sexo do bebê. Ela então se torna a fiel depositária do segredo: menino ou menina?
A guardiã ajuda a organizar a festa que, com algum efeito pirotécnico, revelará aos pais, irmãos e demais convidados o sexo do bebê. Se de repente o lugar se colorir de rosa, guria. Se for de azul, guri. Tia Damares aprovaria, quem sou eu para criticar?
Fato é que as coisas vão se sofisticando com o passar do tempo. Primeiro foi o tacape na cabeça, depois o casamento forçado, depois o casamento por amor. Certamente existem mais fases além dessas. Antes, só se sabia o sexo do bebê no nascimento. Eram nove meses de palpites. Barriga redonda é menina, barriga pontuda é menino. Pele ressecada, menino, pele macia, menina. Se os cabelos ficam sedosos, menino. Se afinam e perdem o viço, menina. Se tiver desejo de doce, menina. Agora, se a mãe quiser comer uma buchada de bode no capricho, com certeza, é menino.
A ultrassonografia aposentou os palpites e trouxe certezas. Não é um, são dois. Não são dois, são três. Não são três, são quatro. A essa altura, a mãe já tinha desmaiado.
Então a sociedade cansou de ser simples e, hoje em dia, a moda é revelar o sexo do bebê em um evento com trajes combinados, local apoteótico e transmissão pelas redes. Vale alugar o Maracanã para a revelação, fazer uma live com quinhentas mil almas assistindo, contratar avião para soltar fumaça colorida, dar tiro em balão para ver que cor de papel sai de dentro. Um casal do Mato Grosso foi autuado por colocar corante azul na água de uma cachoeira. A criatividade não tem limites, infelizmente.
Para quem tem tempo e dinheiro para gastar nisso, bom chá de revelação. Ainda que não morra de amores pela ideia, acho que daria para adaptar um pouco o formato e usar o método para tentar algumas revelações que a gente não consegue ter de jeito nenhum, por mais que vá atrás.
Por exemplo, quando volta a luz depois de um vendaval.
Seria assim: depois de quatro dias no escuro, tudo perdido na geladeira, sem ter como carregar o celular, sem ventilador para espantar o calor e os mosquitos, sem poder trabalhar, estudar ou mesmo dormir, pessoas se juntam em algum lugar do bairro para ligar um interruptor. Nervosismo, moradores emocionados, todos na expectativa. Se ligar e tiver luz, comemoração generalizada, viva, estamos salvos até a próxima tempestade. Se ligar e continuar escuro, daí é CEEE Equatorial.
O chá de revelação pós-temporal também pode ser feito abrindo-se uma torneira para ver se a água voltou. Nesse caso, sem chá, porque tudo indica que a torneira continuará seca. Sem energia, sem água. E sem internet. Imagina se as nossas operadoras de internet iam ficar para trás nessa.
O pior é que, depois de cada temporal, o que se revela é uma coisa só: incompetência.
Pobres cidadãos.