E essa celeuma que veio das profundezas – e aqui daria para falar esgoto sem ofender, porque é da matéria – sobre o banheiro coletivo unissex? Um dos rounds envolveu o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Sílvio Almeida. Para situar, o ministro foi chamado em uma das comissões da Câmara dos Deputados para se explicar pela frase dita em um discurso, “os inimigos da democracia não terão paz”.
O que eu entendo da frase do ministro: os inimigos da democracia não terão paz, ora. Serão processados, vão pagar pelos seus crimes de ódio e outros atos infames, tudo dentro da lei. Mas o deputado que o convocou viu ameaças e perseguições na sentença, e lá se foi o ministro depor. Ministro que, é bom lembrar, é um advogado e professor brilhante, respeitado em todo lugar.
Menos na Câmara.
Na Câmara, sobraram esculachos que ele respondeu com a voz mansa de sempre. A inteligência dispensa o gritedo. E dois temas caros a certo tipo de deputado que se caracteriza por propagar o pânico moral foram levados ao recinto: o casamento homoafetivo e o famigerado banheiro coletivo unissex.
Sobre a baboseira de proibir a união civil homoafetiva – nada a ver com casamento religioso –, direito constituído no Brasil desde 2011 e que um grupo de parlamentares agora quer retirar, a luta continua. A pressão popular e os deputados do campo democrático fizeram com que o relator pedisse o adiamento da votação para rever seu parecer. Tão simples. É só quem não quer casar com alguém do mesmo sexo, não casar. Por que o escândalo?
E aí chegou a hora de assustar mães e pais com o banheiro unissex. Que não é projeto do governo, é apenas uma recomendação de um conselho, sem caráter legal ou obrigatoriedade, e que não prevê a criação de banheiros unissex coletivos em escola alguma. Os congressistas que se dizem conservadores, como se ser conservador significasse ser um reacionário chiliquento, sabem disso. Mas querem porque querem causar pânico moral.
E conseguem.
A tal recomendação foi elaborada pelo Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, ligado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. No caso dos banheiros unissex, a recomendação foi a instalação, sempre que possível, de um banheiro individual e além dos que já existem nos espaços públicos, os masculinos e femininos que todo mundo conhece, para minimizar o risco de violência e/ou discriminação contra pessoas transexuais, travestis e outras. Ninguém vai obrigar quem se identifica com o próprio gênero a ir nesse banheiro, se e onde ele for instalado. Não é lei, é só uma recomendação. Por que o escândalo?
Os pseudodefensores da família tradicional brasileira partiram para cima do ministro dos Direitos Humanos e Cidadania com argumentos do tipo: uma menina de seis anos estará nua no banheiro unissex e vai entrar lá um sujeito de 18 anos, nu. Eu me pergunto que tipo de banheiro essa gente anda frequentando. Em lugares como aviões, pequenos estabelecimentos comerciais e consultórios médicos, por exemplo, em que geralmente existe um só banheiro, será que esses senhores entram berrando e fazendo Vade Retro com o crucifixo? E mais: se algum adulto entrar pelado em um banheiro, está em surto, não bate bem ou é tarado. Melhor chamar a segurança.