Lembra quando as recepções dos consultórios ofereciam revistas para os pacientes aguardarem – pacientemente – sua vez? Dia desses, vi seis pessoas mergulhadas em suas telas na sala de espera e me dei conta de que não existem mais revistas nos consultórios. Ninguém mais precisa delas, com os celulares trazendo notícias mais atuais que a morte de Getúlio Vargas. Ah, as revistas dos consultórios. De quantas informações defasadas não tomei conhecimento por causa delas?
Muito depois de o ex-presidente Collor já ser passado, ainda que ele tenha chegado ao presente e agora esteja, parece, saindo da história para entrar no xilindró, lembro de ter encontrado uma reportagem gigantesca sobre o guarda-roupa da então primeira-dama Rosane enquanto esperava pelo dentista.
Estávamos já pelos idos de 2000 e meu dentista tinha no revisteiro uma edição sobre o guarda-roupa da Rosane Collor. Pelo menos o tempo passou feito um Dodge, como se dizia, com as fotos e as declarações dos estilistas da Casa da Dinda. Pode-se reclamar de que muita coisa piorou ao longo dos anos, mas ninguém poderá dizer que a moda não ficou mais gentil.
Que a Lídia Brondi havia abandonado a carreira, soube uns 10 anos mais tarde lendo uma revista Manchete, que nem era mais publicada, enquanto aguardava por algum procedimento. E lamentei, embora com atraso.
A regra da revista de sala de espera era uma só: ser obsoleta. Em geral ela já não tinha capa e trazia folhas soltas, obrigando o leitor a remontar a edição para conseguir chegar ao fim de uma matéria. A mais disputada era sempre a Veja, que mesmo de uns cinco ou seis anos atrás, conservava a entrevista das páginas amarelas e a crítica sobre um filme que ainda interessasse. Frustrante era quando calhava de alguma página ter sido arrancada antes do fim da notícia. Tudo bem que os resultados da Copa do Mundo de 2002 já fossem conhecidos, mas precisava cortar o barato da leitura?
Outras revistas disputadas eram as Caras e as Caprichos velhas. Nas Caras dos consultórios, Susana Vieira era jovem para sempre e o Mocotó da Malhação vivia eternamente como um adolescente. Enquanto passava para os pacientes, o tempo não se mexia nas páginas das revistas da sala de espera.
Agora, sacanagem mesmo – e não existe outra palavra para isso – era quando os consultórios tinham uma pilha de revistas do tipo O Construtor Moderno, Síndicos & Condomínios, O Comércio em Desfile, Ecos do Transporte. Não havia uma linha que interessasse. Devia se promulgar um código de ética contra essas publicações em uma sala de espera.
Pois esses dias fui a uma consulta e, para minha surpresa, o lugar de decoração moderninha tinha uma pilha de revistas tão antigas, mas tão antigas, que me pareceu entrar em um metaverso. Enquanto a médica não chamava, pude me emocionar com os últimos momentos de Elvis Presley. E até uma matéria sobre as conquistas não-futebolísticas de um Renato Portaluppi de vinte e poucos anos estavam lá. Só faltou uma Fatos & Fotos do tempo do descobrimento com uma exclusiva do Pedro Álvares Cabral: “Se eu soubesse, tinha vindo antes”.
Depois a médica me contou que as revistas estavam no consultório que ela herdou do pai. E que resolveu mantê-las na reforma não por memória, mas como um toque vintage. Não que tenha perdido a graça, mas perdeu um tanto da poesia. Sinal dos tempos.