Se vai ter segundo turno, quem vai para o Senado, para a Câmara, para as assembleias, para os governos estaduais, tudo é incógnita, a essa altura do campeonato. Mas uma coisa já se sabe: de uma eleição para outra, e isso ao longo dos tempos, a propaganda política muda muito pouco, quase nada, a ponto de, às vezes, confundir o eleitor. Essa campanha é de 2022 ou de algum século passado?
Os slogans de campanha são um caso à parte. É neles que a criatividade de quem faz as campanhas, principalmente as dos candidatos sem maiores chances de eleição, estoura o criativômetro. É preciso achar algum diferencial para botar o postulante na boca do povo, nem que seja pela bizarrice.
Eu mesma, quando era jovem – e a candidata, também -, cometi o slogan “joga voto na Geni”. Um fusca andava pela cidade com o jingle a milhão, e dane-se o direito autoral do Chico. Não me lembro se a Geni se elegeu, tomara que sim. Era uma boa candidata, ao contrário de sua propaganda.
Alguns slogans ficaram marcados pela tosquice, caso daquele que o delegado do caso Eliza Samudio lançou na cara do eleitor: “Vote pela sua segurança, senão você vai morrer”. Nesse 2022, um candidato a deputado pede para que não o deixem morrer na curva, como um Ayrton Senna. No quesito mau gosto, já temos um campeão.
O clássico “pior do que tá não fica” não só elegeu o palhaço Tiririca, em 2014, como revelou-se dolorosamente equivocado. Piorou, sim. E muito. Em 2022, de cada 10 candidatos que falam em Deus, pelo menos quatro defendem a população armada. Essa pesquisa Ibofe é minha, carece de fundamento, mas foi o que me pareceu depois de 10 minutos na frente da televisão.
Não tem um marqueteiro para dizer, deixem Deus fora disso? Desde quando Deus e uma espingarda podem ocupar a mesma frase?
Desde 2018, eu sei. Foi apenas uma pergunta retórica.
Outros slogans que fazem rir (pela bizarrice) e chorar (de desgosto) ao mesmo tempo: “Não vou fazer, mas os outros também não vão”. “Minha mulher assina embaixo”. “Vou cuidar do meu país como cuido da minha cozinha”. “Eu podia estar roubando, eu podia estar matando, mas quero ser deputado”. “Bengala neles” (esse é do famoso Kid Bengala, ator pornô bem dotado). “Sem experiência, mas com consciência”. “Uma carraspana na corrupção”. E por aí vai.
Também tem chamado a atenção um ilustre convidado de todas as campanhas, o Photoshop. Acabaram-se as rugas, a oleosidade, o bigode chinês, a falta de cabelo dos candidatos, tudo sem cirurgia, só com os programas de manipulação de imagem. Bolsonaro, por exemplo, aparece todo lisinho nas fotos, sem a pele que faria a alegria de um bom dermatologista.
Políticos que estão na estrada há décadas surgem nos banners das esquinas como se tivessem a cara de seu início de carreira. Às vezes nem dá para reconhecê-los, de tão remoçados digitalmente. Vai ser estranho, no dia da posse, ver todos tão diferentes ao vivo. Muitos, com certeza, serão barrados pelos seguranças das casas legislativas.
Seja como for, essa é só uma crônica amena sobre campanha eleitoral. O Photoshop é, sim, uma prática republicana e legítima. Antes ela que o orçamento secreto.
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Esse toque é porque sou assumidamente fã e amiga dos Darma Lóvers (foto acima), banda do eixo Porto Alegre-Três Coroas que está completando 25 anos de estrada. Para realizar um show e um documentário sobre a trajetória da banda, os darmas Irínia e Nenung estão em campanha não-eleitoral no Apoia-se. Para contribuir, é só entrar aqui: apoia.se/darmalovers25anos