Era para ser um fim de tarde-começo de noite qualquer, nada muito diferente dos outros dias que oficialmente terminam quando o primeiro apresentador de telejornal dá o seu boa noite para os telespectadores. Bem verdade que o tempo não estava firme, quem saiu sem guarda-chuva precisou se deslocar entre uma pancada e outra, e que pancada.
A chuva vinha quase sem aviso, despencando da camada de nuvens tão pesada como algumas das tristezas que nos acompanharam nesses últimos anos.
Era para ser um fim de tarde-começo de noite qualquer, até que o que parecia ser uma pedrinha bateu na lataria do Uber. E depois outra e outra e outra. Curioso é que, pelo menos na Avenida Independência, ainda caíam poucos pingos de chuva.
Parecia óbvio, mas não contive a ansiedade de perguntar para o motorista: isso é granizo, moço? Claro que não, ele respondeu, cheio de sabedoria. Precisa cair uma tempestade para vir granizo.
O sujeito acabou de falar e foi como se abrisse um portal, o céu começou a despejar água como uma represa que tivesse estourado. E pedra. E mais água. E mais pedra.
Na rua, era um tal de gente correndo para se abrigar nas marquises, nas portas, onde desse. Os carros em dúvida, alguns diminuindo a velocidade, outros querendo andar mais rápido para escapar do granizo. Como se houvesse para onde escapar. Em segundos a água subiu na avenida, e quem estava a pé não ficou de canela seca.
O fim de tarde-começo de noite virou caos. As luzes foram se apagando rápido. Em alguns lugares, a se julgar por eventos recentes, aposto que a energia não voltou ainda.
No dia seguinte, as notícias sobre desabrigados e desaparecidos nos jornais. Lembrei de quando era pequena e caía granizo, a gente ia de roupa para a chuva, pegar as pedrinhas na mão. Era uma festa.
Em 50 anos mudou tudo. E olha que 50 anos deveriam ser apenas uma piscada, quando se fala em mudanças no planeta.
Era para ser um fim de tarde-começo de noite como outro qualquer. Mas, no dia seguinte, as plantinhas que mal ameaçavam despontar nos canteiros de pré-primavera estavam amassadas, arrancadas, mortas. Nada a estranhar. Se os desatinos do tempo pegam as pessoas desprevenidas, o que dizer das flores?
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Uma das livrarias mais bonitas de Porto Alegre está fechando as portas para reabrir, daqui a pouco, em novo endereço. Sábado (20), a Baleia – hoje na Fernando Machado, 85 - promove dois lançamentos. Às 14h é Sofia Nestrovski quem apresenta o romance A História Invisível.
Às 16h, Jeferson Tenório conversa com Manuela D’Ávila sobre a nova edição de Estela sem Deus. Tudo na praça General Osório, em frente à Baleia, com música e clima de festa – porque não é epílogo, é capítulo novo.
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Show que Porto Alegre nunca viu – aliás, ninguém viu, porque é a primeira vez que o Encruza se apresenta no palco. A diva Juçara Marçal, voz mais bonita da MPB de hoje, vem com todos os nomes da nova música paulista para um show que reúne os projetos Metá Metá, Passo Torto e Sambas do Absurdo. Vai ser no Theatro São Pedro, no dia 24 de agosto, às 21 horas. Ingressos de vários e diversos preços em theatrosaopedro.eleventickets.com.
Uma dica: é possível comprar ingresso sem taxa de conveniência para os shows e peças do teatro na bilheteria, duas horas antes de qualquer espetáculo. Já sobra mais para as próximas atrações do São Pedro, que em dezembro fecha por dois anos para reforma. A hora de ir é agora.