Ela, louca pela Anitta, sabe todas as músicas e coreografias da poderosa de Honório Gurgel. Ele, fã de carteirinha do gênero sertanejo, conhece todas as duplas, aí incluídas as mais obscuras e desafinadas que o show business já lançou. Os dois cheios de planos para o primeiro Dia dos Namorados que passariam juntos, e acontece o quê?
Um sertanejo mira no tororó da Anitta e acaba por botar no forévis do Gusttavo Lima. A frase não é minha, mas é tão boa que precisei usar. Queria dar o crédito, mas não sei quem foi o autor da pérola.
É a treta de milhões, que começou com a crítica de sempre à Lei Roaunet — só para lembrar, o incentivo que permite a uma empresa repassar até 4% de seu imposto devido para projetos culturais, e que hoje tem um teto de R$ 3 mil por artista — e a menção à tatuagem íntima da Anitta por um cantante sertanejo.
O que o fiofó tem a ver com as calças? Nada. Ou melhor: tudo. Era para ser apenas lacração, mas serviu para abrir a caixa preta das contratações milionárias de shows sertanejos pelas prefeituras de pequenas cidades do Brasil. Isso porque os fãs da cantora e os jornalistas abriram uma sindicância informal, que já está sendo chamada de CPI dos Sertanejos.
Os números são feios, para se dizer o mínimo: R$ 704 mil para Gusttavo Lima cantar na Festa da Banana de Teolândia, cidade baiana com 15 mil habitantes. R$ 1,2 milhão para um show na 32ª Cavalgada do Jubileu do Senhor Bom Jesus do Matozinhos, em Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais, cidade com 17 mil habitantes. Além da disparidade no valor dos cachês, um quase o dobro do outro, descobriu-se que a verba para os shows viria de recursos originalmente destinados à educação, à saúde, à habitação,
à reconstrução das cidades atingidas pelas chuvas que arrastaram tudo, pouco tempo atrás.
A lista é grande e está em todos os jornais. Caiu aqui: o que será que os críticos da Lei Rouanet estão dizendo agora? Se lá o mecanismo é o da renúncia fiscal, aqui é dinheiro público no duro. Sérgio Reis, o Matuto da Porteira, não demorou a passar pano. Isso não é dinheiro público, é dinheiro para o público, disse ele. Arrã.
Voltando ao tema da coluna, o esperado Dia dos Namorados de Larissa e Beto — digamos que eles se chamem assim. Desde que Gusttavo Lima fez um vídeo reclamando da perseguição a um trabalhador que precisa ganhar bem porque tem uma folha alta, espremendo os olhos para ver se derramava alguma lágrima,
o Beto mudou com a Larissa.
— Vocês não respeitam um pai de família. O cara tem dois filhos.
— E precisa cobrar um milhão por show para sustentar dois filhos?
— Quem ganha mais, gasta mais.
— Ele faz show dia sim, dia não. O que alguém faz com tanto dinheiro?
— Esse é o legítimo pensamento de pobre.
— Pois sou e me garanto. Nas atuais circunstâncias, me sentiria rica se ganhasse R$ 10 mil por mês.
— A gente é muito diferente. Melhor esquecer essa comemoração de Dia dos Namorados.
— Tu vai terminar comigo por causa do cachê do Gusttavo Lima?
— E pelo marquês de rabicó da Anitta.
No fim das contas, os dois combinaram de deixar o 12 de junho para lá. Vão se encontrar no dia 13 e recomeçar, as mágoas maiores que o romantismo da data. Larissa só está em dúvida sobre falar ou não para Beto da suspeita de um suposto esquema de rachadinha entre prefeituras e cantores nas contratações milionárias. Escaldada, a mãe dela fez uso de um antigo ditado à guisa de conselho.
— Olha lá, minha filha. A boca fala e o boró paga.
Sábias palavras.