E eis que a Copa Covid, digo, Copa América, acabou do jeito que todo mundo imaginava: não com o Brasil campeão, mas com uma variante inédita do coronavírus no país. A cepa B.1.612, vinda diretamente da Colômbia, foi identificada em Cuiabá, uma das cidades-sede do torneio. Não por acaso, palco do jogo entre Colômbia e Equador. Caiu um lenço: alguém aí ficou surpreso?
Entre motociatas e soluços, só sei que o melhor programa da televisão brasileira, hoje em dia, é a CPI. TV Senado, a número 1 no ibofe. Não tem novela que bata a CPI em audiência nos lares da família brasileira. Contra ou a favor dos depoentes, a torcida se mobiliza tanto quanto em Gre-Nal. E até mais, se considerarmos o estado em que nossos times chegaram ao último embate. O meu time, em último lugar. Tomara que não atire dinheiro fora trazendo um goleiro cascudo depois do que fez o Gabriel Chapecó.
Voltando à CPI. Se antes as crianças dormiam cedo por causa das cenas em que o José Mayer se embolava todo com a Torloni, agora é de bom-tom tirar os pequenos da sala para eles não aprenderem a mentir com os nobres depoentes. Pessoal faz juramento e não quer nem saber, tasca a maior cara de paisagem para negar os fatos ou dizer “não me recordo”. Sugestão de texto para a coisa ficar mais crível: Excelência, tomei um “boa noite, Cinderela” e, quando acordei, tinham levado toda a minha dignidade.
Fato é que a CPI tem desfilado um elenco de canastrões e mistificadores jamais visto na televisão. Saudade do Uri Geller entortando colheres. Do Mister M e seus truques surrados – ainda assim, mais confiáveis que certos tratamentos. Até dava para engolir quando ele fazia aquelas mágicas velhas com cartas.
Sendo eu corporativista, gosto de ver as mulheres mandando bem. A maravilhosa Natalia Pasternak e a doutora Luana, lá no início dos trabalhos. A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, que passou de investigada à testemunha e disse, com todas as letras, que o governo atrasou a vacinação e não fez as campanhas que seriam necessárias para conscientizar a população. As senadoras Simone e Eliziane, que pegam os mentirosos na tampinha. Se os partidos que apoiaram Rodrigo Pacheco para a presidência do Senado tivessem apostado na candidatura da Simone Tebet, talvez nem tudo estivesse tão perdido.
De todos os personagens desse elenco, sou fã do Randolfe. O vice-presidente da CPI lava a alma da audiência com perguntas claras que desnorteiam os enrolões. E justamente por isso, volta e meia é chamado de “saltitante” pelo homem do soluço, que vive insinuando a homossexualidade do senador para desqualificá-lo diante da claque. Tem que ser muito parvo para achar que a homossexualidade desqualifica alguém. Independentemente da fake news, e não que importe, o senador Randolfe até hétero é, o que prova que a homofobia não escolhe suas vítimas. É ignorância e preconceito no nível mais baixo.
A CPI se fortalece se quem sentar naquela cadeira souber que mentir pode ter consequências. Só assim para passar essa vergonheira toda a limpo
Interessante foi o que aconteceu quando o senador Aziz perdeu as estribeiras e mandou prender o cabo vendedor de vacinas inexistentes. Não faltou quem dissesse: coitado, perdeu um amigo e um irmão, está muito sensível.
Coitado, perdeu um amigo e um irmão, como outros milhões de brasileiros que perderam amigos, irmãos, pais, mães, filhos, pessoas queridas – e que não precisariam ter perdido, se a doença tivesse sido tratada com seriedade. Aziz ouviu o que as mulheres costumam ouvir quando reagem a alguma situação sem o tradicional combo paciência-doçura-submissão: isso é TPM, ela é descontrolada.
Assim como não engolir sapos não tem a ver com os hormônios, acredito que o senador não falou o teje preso por estar fragilizado. Bem pelo contrário. A CPI se fortalece se quem sentar naquela cadeira souber que mentir pode ter consequências. Só assim para passar essa vergonheira toda a limpo.
Aguardemos os próximos capítulos.