Nunca fui muito fã de Star Wars – mil desculpas aos adoradores, que são bilhões em todo o planeta. Quer dizer, até gostei dos filmes originais, os que vieram lá nos anos 1970, que mais tarde descobrimos não serem os primeiros, e sim o 4, o 5 e o 6. Depois disso, tudo se confunde para mim, o som das lutas intergalácticas (chaaaaaato) se sobrepondo às tramas e aos personagens. O Darth Vader era bom e ficou mau, a princesa Leia usava umas trancinhas em formato de fone de ouvido, todo mundo era meio parente e, volta e meia, um sabre de luz cortava a mão de alguém.
Também tinha os dois robôs que as crianças amavam, o Chewbacca – peludérrimo e armado até os dentes –, um barzinho maneiro com seres que bem poderiam estar nas saudosas festas do Ocidente (Bonfim, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, América do Sul, Planeta Terra) e, claro o mestre Yoda. Uma simpatia enrugada que invertia a ordem das palavras, e não é que as frases ficavam mais interessantes?
Não tente fazer isso em casa, um adulto imitando o mestre Yoda, a essa altura do campeonato, seria deprimente.
Comecei a ouvir sobre The Mandalorian – até dá para chamar de O Mandaloriano, mas os aficcionados falam The Mandalorian, e Deus me livre de desgostar para além da minha confissão ignorante de não sentir nada por Star Wars – dentro da minha própria família. Um seriado com personagens resgatados dos filmes originais de Guerra nas Estrelas, que espetáculo, que maravilha, estreia logo, quero, preciso, pelo menos uma coisa boa em 2020! Passei meses ouvindo essa ladainha. E pensando: gente, o mundo caindo e eles estão por um seriado de TV. Eu, como sempre, estava (e estou) pela vacina.
The Mandalorian é uma série sobre um mandaloriano, e que raios é isso? Ah, um guerreiro do planeta Mandalore sujeito rústico que usa uma armadura e nunca tira o capacete. Em linhas gerais, é isso, embora o pessoal que coabita comigo não concorde com a simplificação.
O tal mandaloriano é um caçador de recompensas que recebe a missão de encontrar um fugitivo. Não pretendo dar spoiler, apenas revelar a única razão que me levou a assistir à série com tanta coisa mais urgente para fazer, entregar capítulos do meu trabalho, ler os livros acumulados e limpar a cozinha – que, por mais que eu me esforce, sempre me dá um baile.
Passei pela frente da TV bem quando o bebê Yoda apareceu na tela. E ele me enfeitiçou.
Uma impressão racional: quem criou o bebê Yoda é um gênio. Jon Favreau é o nome do consagrado. Ator, diretor, roteirista. Não só inventou o personagem mais carismático em muito tempo, como ainda descobriu uma mina de ouro. Tanto quanto os filmes, as vendas do boneco, e de toda a cacarecada que vem junto, devem ter garantido um Papai Noel bem gordo para a Disney. É a velha máxima do dinheiro chama dinheiro.
O bebê Yoda, que na verdade se chama Grogu, parece o bebê que eu tive um dia. Mesmas reações
E, para terminar, uma impressão emocional. Talvez seja pela carência de encontrar alguma coisa fofa e querida e ingênua em um ano tão sofrido quanto 2020, mas o bebê Yoda conquista quem o vê. Nos bastidores, atrizes e atores contam que quase morriam de amor ao contracenar com ele, um robozinho muito bem manipulado por artistas que morriam de amor ao dar vida ao personagem.
O bebê Yoda, que na verdade se chama Grogu, parece o bebê que eu tive um dia. Mesmas reações. As mãozinhas que querem pegar tudo. O descontrole diante de guloseimas, sendo as do Grogu tão nojentinhas quanto as balas de dentadura, por exemplo. Meu filho nunca foi esverdeado, mas as orelhas eram parecidas com as do bebê Yoda. Encontrei no YouTube um compilado só de cenas do Grogu. Quando fico triste, quando me entedio, quando vejo o presidente vociferando contra a vacina, puxo o celular e dou uma espiadinha nele. O próximo passo é colocar a foto da criatura na carteira.
Só pode ser amor recolhido. Está chegando a hora de adotar uma criança. E não precisa ser verde. É amor de verdade, pode ser de qualquer jeito, de qualquer tamanho, de qualquer planeta, de qualquer cor.