Todo ano tem Porto Alegre Em Cena, festival que une o que de melhor se faz na cena local com o que há de mais inovador no teatro do país e do mundo. Nesse 2020 de salas fechadas e espetáculos cancelados, o 27º Porto Alegre Em Cena – como a vida – será virtual. Se o palco é o computador, nem por isso ele vai ser menor. Como diz o diretor-geral do festival, Fernando Zugno, isolamento social não significa isolamento cultural.
“O Em Cena não é só um ato de resistência, é um ato de compreensão da importância vital da arte”, considera Zugno. Para ele, ainda mais que uma festa cultural, o festival é um espaço aberto para todos os pensamentos. O que existe em comum na criação, o que se pesquisa, o que se descobre, os encontros e os desencontros da arte, tudo está lá.
Sobre a atual percepção de que a arte só interessa a alguns poucos, e por isso mesmo vem recebendo cada vez menos orçamento e valorização oficiais, Zugno dá outra versão. “As 20 mil pessoas, em média, que participam de cada edição do Em Cena são a prova viva de que existe um público interessado em arte e cultura em Porto Alegre. E mais. O público do Porto Verão Alegre é outro, o do (festival) Palco Giratório é diferente também. É muita gente. São eventos que interessam, que lotam, que fazem a cidade pensar.” Fernando Zugno destaca a iniciativa do Em Cena de estender a programação para a periferia da cidade nas edições anteriores, não apenas trazendo as pessoas para os teatros, mas levando os espetáculos e as discussões para sessões fora do centro. “É um grande trabalho de formação de plateias, de acessibilidade, de democratizar a cultura.”
Não serão poucas as atrações do festival que estreia no dia 21 de outubro e vai até o fim do mês. As apresentações individuais, locais, nacionais e internacionais acontecerão por lives, projeções, vídeos e podcasts, e a discussão com o público se dará por Zoom, Instagram, YouTube, até mesmo WhatsApp. A programação e as ações estão completas no site portoalegreemcena.com. O canal
Em Cena, no YouTube, vai apresentar a agenda ao vivo diariamente, sempre às 11h.
Enquanto se discute o que é ou não essencial em tempos de coronavírus, o Porto Alegre Em Cena propõe que se atualize esse conceito
Entre os inúmeros espetáculos nos 10 dias de festival, Zugno recomenda Marcha à Ré, filme do diretor Eryk Rocha a partir da performance do Teatro da Vertigem e Nuno Ramos. É a primeira coprodução do Em Cena com os artistas do grupo e a Bienal de Berlim. Body A é uma vídeo-instalação escocesa sobre os limites do humano que ganha transmissão no canal e projeção nos prédios de Porto Alegre. Trabalhos de grupos como o pernambucano Magiluth, Tudo que Coube numa VHS, e Juntos e Separados, da companhia Anti-Status Quo, de Brasília. Fernando Zugno ainda reforça a qualidade de todas as produções locais que concorrem ao Prêmio Braskem, e a única atividade presencial desta edição, o Galerias em Cena: “Quatro galerias da cidade, a Bronze, a La Photo, a Casa Musgo e a Ista, vão receber obras do festival. O público poderá fazer um tour por esses espaços independentes com horário marcado, dentro de todos os protocolos de segurança e sem pagar nada”.
Enquanto se discute o que é ou não essencial em tempos de coronavírus, o Porto Alegre Em Cena propõe que se atualize esse conceito. “Mesmo com a pandemia, mesmo com a grande peste, fazer o Porto Alegre Em Cena é essencial. É essencial que as pessoas pensem, que as pessoas reflitam, que as pessoas se encontrem umas com as outras, mesmo que virtualmente”, diz Zugno.
Aplausos para o 27º Porto Alegre em Cena. Cai o pano.