São só 185 quilômetros desde Porto Alegre e, mesmo assim, a já longa estrada da minha vida nunca tinha me levado até lá. Separando o Rio Grande do Sul de Santa Catarina, os Aparados - encostas verticais da Serra Geral que, diz a geologia, começaram a se formar há 200 milhões de anos, antes ainda dos processos tectônicos que separaram a América da África - são uma exuberância de rochas, vegetação, bichos, céu e espaço de tirar o fôlego. Aparados da Serra, com seus mistérios e caminhos que serão desconhecidos para sempre. E com duas joias abertas ao maravilhamento, Fortaleza e Itaimbezinho.
É de Cambará do Sul que se parte para os cânions. Parece que a região tem mais de 60 pousadas, de todos os preços e confortos. Quem só quer dormir, quem quer ser mimado, quem quer mais contato com a natureza, basta escolher. Para quem quer comer bem, vale uma reserva no restaurante Alma, que fica no Parador Casa da Montanha. Sem esquecer do pão da padaria que fica na ruazinha ao lado do posto Ipiranga, indo pela rua principal de Cambará. Baita lanche depois de um dia de idas e subidas.
A região ainda tem outras cascatas e passeios que merecem uma estadia um pouco mais longa. E é possível conhecer a parte de baixo dos cânions a partir da Praia Grande, em Santa Catarina. Entre os caminhos que o GPS sugere, freeway, BR-101 e Rota do Sol na sequência são boas opções a partir de Porto Alegre.
O Fortaleza, que fica no Parque Nacional da Serra Geral, tem mais de sete quilômetros e chega a 1.240 metros acima do nível do mar. O nome é por conta dos paredões que lembram muralhas, verdes de todos os tons nas suas encostas. O caminho não é íngreme, famílias inteiras fazem o percurso para se encantar com a vista ao final das trilhas do Mirante do Fortaleza e da Borda dos Cânions. Com um pouquinho mais de dificuldade, mas não muita, a trilha da Pedra do Segredo termina em uma rocha de mais de cinco metros de altura apoiada em uma base muito pequena. A vista, claro, é grandiosa.
O Itaimbezinho fica no Parque dos Aparados da Serra e tem duas trilhas. A do Cotovelo, mais extensa, é um prazer só. Suave, vai revelando o cânion à medida que a gente sobe. Lá em cima, o deslumbre. O Cotovelo fecha às três da tarde quando, dizem, uma neblina quase sólida encobre a paisagem toda. A trilha do Vértice, bem mais curta, deixa o visitante na cara da cachoeira Véu de Noiva. Em três horas dá para fazer as duas trilhas e voltar para a cidade com toda aquela beleza armazenada nos olhos e no espírito.
A região ainda tem outras cascatas e passeios que merecem uma estadia um pouco mais longa. E é possível conhecer a parte de baixo dos cânions a partir da Praia Grande, em Santa Catarina. Entre os caminhos que o GPS sugere, freeway, BR-101 e Rota do Sol na sequência são boas opções a partir de Porto Alegre. As estradas de terra que vêm depois só confirmam a máxima: é no final das picadas que estão as maiores lindezas. Um conselho: água, repelente e protetor solar, não bote o pé fora da pousada sem eles.
Depois de um começo do ano assim, qualquer um fica mais animado para enfrentar a vida na selva, essa que se vive entre os bombardeios reais do outro lado do mundo e os figurados de cada dia. Fortaleza e Itaimbezinho, até a próxima. É um alívio saber que, assim como há milhões de anos, vocês estarão sempre aí, esperando pela gente.