A primeira imagem que apareceu quando abri o Instagram em 2019 foi uma ecografia, dois bebês dentro da barriga da mãe. Felipe e Gabriel, Gabriel e Felipe. Nada mais perfeito para um ano começado há poucas horas.
Enquanto as pessoas esperam tanta coisa de um ano, das mais possíveis àquelas que só com um milagre para acontecer, a mãe do Felipe e do Gabriel vai esperar por eles. Política, economia, os acordos e os desacordos, o que se ambiciona e até a vaidade. Prioridades, favor tirar uma senha e aguardar a vez.
Felipe e Gabriel serão iguaizinhos na aparência, serão diferentes? Qual deles vai nascer antes? O primeiro vai se comportar como o mais velho ou não dará a mínima para isso? Há muito tempo – no meu tempo –, o primeiro filho vinha com certas obrigações de fábrica. Precisava ser o mais comportado, ir bem na escola, ajudar em casa, cuidar dos menores. Muitos saíam desse riscado e pegavam a fama de “revoltados”. Fulano é revoltado, não faz a lição. Dorme tarde. Briga com o amiguinho. O adjetivo não parece muito bem empregado, mas era assim que os mais rebeldes eram chamados, no meu tempo.
Já o que nascer por último, se assumir o papel de caçula, terá certas regalias. As parentes costumam mimar o mais novinho, o que pode causar alguma ciumeira entre os irmãos. Mas a mãe do Felipe e do Gabriel não precisa se preocupar com isso. Dizem que os gêmeos se dão muito bem e dividem tudo sem maiores dramas. Depois de dividir a mesma barriga, todo o resto é fichinha. Mas há exceções, claro, principalmente nas novelas e nos romances, onde uma boa disputa entre irmãos gêmeos segura a audiência por incontáveis capítulos.
O ano começou a se cumprir e, antes do fim de janeiro, ninguém vai lembrar que agora mesmo ele era novidade. Passaremos 2019 envolvidos com coisas terrenas, as mais de todas: pagar as contas, manter o trabalho, arrumar um trabalho, dar conta das entregas, das tarefas, dos perrengues.
Já a mãe do Felipe e do Gabriel passará 2019 em uma espécie de outro planeta que, a despeito da medicina, da tecnologia e dos palpites das mulheres experientes da família, ficará mais e mais desconhecido a cada dia.
É uma longa viagem que não termina com o nascimento. Não termina nunca. E, como logo, logo a mãe e o pai do Felipe e do Gabriel verão, é melhor não contar muito com as noites para recuperar as energias. Mas essa parte a gente não divulga para não assustar os tripulantes.
Sejam muito bem-vindos, guris.
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Falando em filhos, um agradecimento para quem, na véspera de 2019, atendeu o meu quando o mundo já era todo recesso: o dr. Jarbas Osório, a supercirurgiã Neiva Baldissera, o anestesista Paulo Correa da Silva Neto, a enfermeira Cláudia, da Recuperação, e toda a equipe da Emergência e do quarto andar do Hospital Mãe de Deus. Depois de estrear o ano operando uma apendicite, o que vier é lucro. Mãe e pai do Felipe e do Gabriel, preparem-se.