Uma amiga comentou algo que muitos – entre eles, eu – vêm sentindo de uns anos para cá: chega esta época do ano e, apesar do Amigo-Secreto e das demais obrigações de dezembro, ela não tem vontade de comprar nada. Será que acontece com todo mundo depois de uma certa idade?
Que consumismo não combina com esses nossos dias inseguros, poluídos e falidos, não combina mesmo. Ainda que comprar seja um prazer, o comprar por comprar – sem necessidade, sem utilidade, sem finalidade – acabou por se transformar em um ato muito cafona. E ainda tem aquela triste hora em que chega a fatura do cartão, momento de olhar para o horizonte com os olhos úmidos e pensar: mas por que mesmo eu comprei esse troço? Quem nunca, meus amigos, quem nunca.
Nessas todas, e porque os parentes e amigos não precisam sofrer o pênalti pelo nosso espírito comercial na contramão da data, a ideia de dar livros de presente caiu do céu. Livro não tem contraindicação, não faz mal acumular, não engorda, não deixa ninguém culpado quando compra – aliás, deixa culpado quando não compra –, sempre interessa e deixa quem lê mais interessante. Fica perdido quando entra em uma livraria e não sabe o que levar? Fácil, nunca se viu tanta sugestão boa de leitura como neste Natal. É só ver nas edições anteriores aqui mesmo do jornal, nos posts das redes sociais, nos segundos cadernos por aí, nos sites das editoras (serei bairrista: Arquipélago, Belas Letras, L&PM, Piu, Projeto, Libretos, Dublinense e Besouro Box, para citar só algumas das gaúchas), a quantidade de autores e autoras de páginas abertas, só esperando a oportunidade de serem levados para a sua árvore de Natal.
Dessa vez, aqui na coluna, vou focar nelas. Não por corporativismo, mas porque ler mulheres abre mercado e perspectivas para novas escritoras. Vamos a elas, escolhidas a partir de um critério bem simples: gosto de todas.
Infanto, juvenis e infantojuvenis? Jane Tutikian, Christina Dias, Marô Barbieri e Paula Taitelbaum – que também é poeta.
Falando em poesia: Angélica Freitas, Ana Martins Marques, Maria Rezende, Luz Ribeiro, Nina Rizzi, Eliane Marques, a patrona Maria Carpi. Ana Cristina César sempre. Fora as clássicas Cecília Meirelles, Sophia de Mello Breyner, Wislawa Szymborska, entre tantas-tantas.
Rainhas do conto? A canadense Alice Munro, a escocesa Ali Smith, Natália Borges Poletto, Adriana Lisboa, Adriana Lunardi. Os contos de Lygia Fagundes Telles em uma linda edição pronta para ser dada de presente. Muitas também são romancistas, caso de Cíntia Moscovich, que tem inclusive uma novidade para começar o ano: em janeiro, uma oficina criativa multidisciplinar em parceria com a atriz Mirna Spritzer e a designer Renata Rubim. Para mexer com o texto, o corpo, as cores, as formas, a expressão, enfim. Informações: oficinasubtexto@gmail.com.
Romancistas de mão cheia? Conceição Evaristo, Elvira Vigna, Maria Valéria Rezende, Ana Paula Maia, Carol Bensimon, Luisa Geisler, Ana Maria Gonçalves, Clara Averbuck, Valesca de Assis, Lya Luft, Leticia Wierchowski. E, sempre, Clarice Lispector, Virginia Woolf, Margaret Atwood. Algumas também são contistas e poetas, vale a pena conhecer.
Humanismos, humanidades? Simone de Beauvoir (que também é uma maravilhosa novelista), Márcia Tiburi, Heloisa Buarque de Holanda, Lau Patron, Katia Suman.
Cronistas. Ana Cardoso lançou neste ano. Tati Bernardi é sempre ela mesma & suas neuras, e sempre é boa, em ficção ou não ficção. Sem livro novo, mas sempre nas páginas, Cláudia Laitano, Diana Corso e Magali Moraes. Martha Medeiros não só relançou, como lacrou: agora tem um canal no YouTube onde suas crônicas ganham voz e o leitor-espectador se sente ainda mais íntimo. Dá para se inscrever no canal e rever a primeira temporada – enquanto a segunda já está sendo gravada – aqui.
Às muitas autoras que ficaram de fora dessas sugestões, peço mil desculpas pelo esquecimento e/ou a falta de espaço. E para quem ainda achar que o livro não vai agradar à fulana ou ao fulano porque, afinal, nem todo mundo gosta de ler, dê um livro mesmo assim. Periga pessoas pouco acostumadas com ele acharem que estão ganhando alguma coisa diferente e nunca vista, o acesso para outra dimensão ou um mundo desconhecido, talvez. De certa forma, é isso mesmo. Quem sabe aí a gente não ganha de presente novos leitores?
Feliz Natal e muitos livros bons na sua árvore.
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