Aiatolás na direção: isso sim é perigo constante Ganhou o Oscar e pediu igualdade
Até bem pouco eu era da ala que menosprezava o Dia da Mulher. Se alguém me desse parabéns, recebia de volta um latido. À rosa vermelha entregue na entrada do supermercado, respondia com o meu desprezo. Sem falar que deviam entregar a tal da rosa na saída. Não é nada prático fazer o rancho com uma flor na mão.
Pela natureza da minha profissão, faço parte de uma minoria - e bota minoria nisso - que não enfrentou grandes disparidades salariais ou casos graves de assédio moral pelo caminho. Não que não tenham existido. De uma posição assim protegida, com que direito eu posso menosprezar uma data que se refere à imensa maioria que sofre com situações muito diferentes da minha?
As notícias batem todos os dias na nossa cara e lembram que ainda falta muito para que as mulheres sejam respeitados mundo afora. Exemplo é um apanhado de algumas das leis mais ridículas contra a liberdade feminina - das que parecem piada às que remetem à Idade Média. E o pior: todas estão em vigor neste 8 de março de 2015. Vamos a elas.
Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão proibiram a venda, importação ou fabricação das calcinhas de renda. O argumento oficial é o de que "a vestimenta não deixa o corpo respirar". Houve passeatas de repúdio à bobagem - e os homens desfilaram com calcinhas de renda na cabeça.
No Iêmen, depoimentos de mulheres não são reconhecidos nos tribunais - a menos que haja o testemunho de um homem. Em casos de adultério, difamação, calúnia, roubo ou sodomia, elas são proibidas de depor. Também não podem sair à rua sozinhas.
Em Malta e no Líbano, qualquer crime é perdoado se o agressor se casar com a vítima. Os mais comuns são sequestro e estupro.
Na Arábia Saudita e no Marrocos, as mulheres estupradas são culpadas se tiverem saído de casa sozinhas ou ficado na companhia de um homem estranho.
Ainda na Arábia Saudita, mulheres não podem dirigir. A justificativa oficial é a de que, para isso, teriam que mostrar o rosto - o que é terminantemente proibido.
Já no Brasil presidido por uma mulher, os salários seguem desiguais e o aborto continua na clandestinidade. E matando milhares por ano.
E para quem achava que a única preocupação das atrizes era o vestido com que iriam ao Oscar, a vencedora Patricia Arquette mandou um recado: "É hora de ter igualdade de salários de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos". Na plateia, Meryl Streep urrava e Jennifer Lopez aplaudia. Se está difícil para elas, o que sobra para a gente?
Por isso, a todas as companheiras, feliz 8 de março. E que, muito mais que rosas vermelhas na entrada do supermercado, não falte respeito o ano inteiro.