Nesta quinta-feira (25), estreia um dos filmes mais comentados do ano, principalmente por quem curte moda: Casa Gucci (House of Gucci), de Ridley Scott. Inspirado no livro homônimo de Sara Gay Forben, lançado originalmente em 2008 e republicado agora em diversos países, inclusive o Brasil, o longa foca em um curto período da grife italiana que também está celebrando 100 anos neste 2021.
A trama destaca o romance que termina no assassinato do herdeiro do selo, Maurizio Gucci, interpretado por Adam Driver, pela ex-mulher, Patrizia Regiani, vivida por Lady Gaga. Não bastasse esse enredo de glamour e crime e os dois atores principais, estrelas em ascensão no cinema, o filme ainda conta com figurinos deslumbrantes, um elenco espetacular, que inclui Al Pacino, Salma Hayek, Jeremy Irons e Jared Leto, e a direção de Scott, cineasta de grandes sucessos, como Alien, Blade Runner e O Gladiador – está bom ou quer mais? A gente fez uma listinha de tudo que você precisa saber sobre Casa Gucci antes de entrar o cinema. Bora lá?
1. A grife
Filho de um artesão italiano de origem humilde, Guccio Gucci trabalhava como ascensorista e maleiro em Londres. No ano de 1921, Guccio retornou a Florença para abrir a primeira loja, utilizando todas as economias que conseguira guardar (um total de $30 mil liras na época). A intenção era vender acessórios de viagens, em couro de alta qualidade, que vinham da região de Toscana, feito pelos melhores artesãos da cidade. Nascia a Gucci, que fez de suas bolsas objeto de desejo no mundo todo, assim como sapatos, cintos e óculos.
Nos anos 1990, a marca expandiu para o vestuário, com a assinatura do estilista que viria a colocar a Gucci no mapa do estilo, o texano Tom Ford. Há sete anos, a grife tem à frente da criação o italiano Alessandro Michele, que trouxe um estilo subversivo e maximalista à Gucci, transformando o mercado de luxo ao romper com códigos rígidos que simbolizavam status e propondo uma desconstrução de referências, gêneros e padrões.
2. O livro
Publicado pela primeira vez em 2008, Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte (Editora Seoman) foi relançado este ano. Autora da obra, a jornalista e historiadora de moda Sara Gay Forben entrevistou mais de 100 pessoas, incluindo familiares, funcionários e ex-funcionários, vários nomes intimamente ligados ao universo Gucci e seu drama.
"Muitas pessoas dividiram comigo suas experiências nas empresas e na família Gucci. Isso tem grande valor para mim, porque essa ligação com os Gucci inevitavelmente provoca emoções profundas e impressões duradouras. Até hoje, a grife Gucci e a família que a fundou continuam a inspirar, surpreender", aponta a autora.
3. O filme
O filme retrata a história com base na perspectiva de Patrizia Reggiani, vivida por Lady Gaga, desde o momento em que ela conhece Maurizio, interpretado por Adam Driver, é apresentada à família e passa a mergulhar nesse universo de poder regado a muito glamour. Mas esse não é um conto de fadas, e a mulher foi acusada de ser a mandante do crime que matou o executivo com um tiro. A motivação seria o fato de Patrizia ter sido "trocada" por outra mulher, Paola Franchi. Condenada a 29 anos de prisão, ela cumpriu apenas 18 e foi solta por ter apresentado bom comportamento.
4. A história de Patrizia e Maurizio
Mauricio e Patrizia se conheceram no começo dos anos 1970, em uma festa de debutantes da alta sociedade. Ela, no entanto, tinha uma condição financeira diferente: era filha de uma lavadeira com um industrial, o que não foi aprovado pelo pai dele, Rodolfo. O casal se distanciou e nenhum familiar foi ao casamento, realizado em 1973. Tio de Maurizio, Paolo, que será vivido por um Jared Leto irreconhecível em Casa Gucci, foi quem fez o jovem voltar ao círculo familiar, pois o viu como o sucessor ideal dos negócios, propondo uma mudança de Maurizio e Patrizia para Nova York, onde eles poderiam ajudar na expansão da marca em território norte-americano.
A entrada de Maurizio nos negócios da família, no entanto, fez a relação com Patrizia mudar. Se anteriormente ele se aconselhava com a mulher, a partir da década de 1980, eles ficaram cada vez mais distantes. Em 1985, desistiram de manter um casamento de fachada. Maurizio não passou o Natal com a família naquele ano e a situação deixou a socialite extremamente incomodada, bem como as proibições impostas por ele às visitas dela às propriedades dos Gucci, como a mansão icônica em Saint Moritz, na Suíça.
Em 1990, Maurizio tornou pública uma nova relação, com a modelo Paola Franchi. O novo relacionamento do empresário (e até então marido, pois o divórcio ainda não havia sido concluído) deixou Patrizia ainda mais inconformada.
Na mesma época, ela descobriu um tumor no cérebro e não gostou da forma como Maurizio se portou: ele enviou um buquê para ela após a cirurgia, sem comparecer ao hospital. Uma gravação enviada por ela ao empresário foi um dos primeiros indícios de que Patrizia estaria disposta a se vingar. Em um trecho da fita, a socialite garantiu que não daria "um minuto de paz" a ele e que "o inferno" iria chegar até Maurizio. Patrizia contratou um motorista de fuga, Orazio Cicala, um matador de aluguel, Benedetto Ceraulo, e um criminoso que fez a ponte entre elas e os dois, Ivano Savioni.
O assassinato aconteceu em 27 de março de 1995: Maurizio foi morto com quatro tiros quando saía de seu escritório. Patrizia, no entanto, só foi presa dois anos mais tarde, em 1997. Isso porque, a princípio, os investigadores e policiais acreditaram que a morte teria relação com os negócios do empresário com a máfia. O julgamento aconteceu no ano seguinte, em 1998, e teve uma intensa cobertura midiática: a "Viúva Negra", como ficou conhecida, foi condenada a 29 anos.
5. A opinião da família
Desde que começaram as filmagens de Casa Gucci, parte da família Gucci tem se mostrado incomodada com o andamento do filme. Patrizia Gucci, sobrinha de Maurizio Gucci, reclamou que Ridley Scott estava apenas tentando lucrar por meio da história e de interpretações que buscavam envergonhar a imagem da família. Ela também protestou sobre a escolha de Al Pacino para o papel de seu avô, por conta de diferenças físicas.
"Meu avô era um homem muito bonito, como todos os Guccis, e muito alto, olhos azuis e muito elegante. Ele está sendo interpretado pelo Al Pacino, que já não é muito alto, e essa foto o mostra gordo, baixo, com costeletas, muito feio. Vergonhoso, porque ele não se parece em nada com ele", disse a membro da família Gucci.
Além da sobrinha de Maurizio, a própria Patrizia Reggiani, interpretada por Lady Gaga no filme, fez um protesto sobre a atuação da atriz e cantora. Ela admitiu não ter gostado do fato de Gaga personificá-la sem nem ao menos conversar ou conhecer Reggiani antes. A artista respondeu dizendo que não queria fatores externos interferindo em sua atuação.
Scott, que dirigiu e idealizou o filme, disse que não fez nada de errado e que os acontecimentos da família Gucci são "domínio público" por conta da notoriedade dos casos.
"Eu não me envolvo com isso. Você tem que lembrar que um Gucci foi assassinado e outro foi para a prisão por sonegação de impostos, então você não pode estar falando comigo sobre ter lucro. Assim que fizer isso (cometer crimes), você se tornará parte do domínio público", argumentou Scott.
6. O figurino
Além das elogiadas atuações de Casa Gucci, principalmente a interpretação de Lady Gaga, unanimidade entre os críticos, mesmo os que não apontam cinco estrelas para o filme, os figurinos têm revertido a atenção. Como não, né? Quem assina o figurino é Janty Yates, que já trabalhou com Ridley Scott em em mais de uma dezena de filmes, entre eles Cruzada (2015), Prometheus (2012), Perdido em Marte (2015), Alien: Covenant (2017) e Gladiador (2000), que lhe rendeu o Oscar de melhor figurino.
A equipe de Janty teve acesso ao arquivo da Gucci, que assina, logicamente, boa parte das roupas que veste Lady Gaga no filme. Além disso, a figurinista trabalhou com uma equipe e um costureiro, que produziram cerca de 30 vestidos, 10 ternos, 30 blusas, oito calças, 40 saias, com inspiração no visual das décadas que envolvem o roteiro, principalmente os anos 1970 e 1980. Janty conta que também teve acesso ao arquivo da Alaïa e da Valentino, comprou peças de época no EBay e da Boohoo e ainda teve ajudinha de Lady Gaga, que ofereceu acesso ilimitado ao próprio closet – imagina?!
Entre as peças mais valiosas que surgem no filme, os casacos de pele de mink protagonizam a lista, assim como as joias da Bucherer e da Bulgari.
“Usamos peças da Bucherer e da Bulgari que eram escoltadas no set de filmagem por dois seguranças o dia todo, para que elas não desaparecessem, nós tivemos que nos acostumar com a presença deles”, comentou Janty.
Outra peça que merece atenção é o vestido de casamento da Patrizia Reggiani. O modelo, todo costurado e bordado à mão, demorou cerca de oito semanas para ser produzido. O interessante é o que o modelo não tem nada do vestido que Patrizia usou de verdade (abaixo), que era liso e simples. A equipe de figurino chegou a fazer uma réplica. No dia da gravação da cena, Lady Gaga experimentou o modelo original e depois a criação da equipe, que foi a escolhida.