Você já imaginou ser um ícone de estilo por mais de oito décadas? Ao completar 94 anos hoje, a rainha Elizabeth II pode comemorar também o fato de ser uma referência de moda perene a acompanhar praticamente toda a evolução da moda contemporânea. Não é uma loucura?
E o mais interessante disso tudo é que o estilo da rainha sutilmente mudou nesta transformação completa da indumentária feminina. Se a moda viu as mulheres vestindo calças, desfilando de microssaias, usando biquínis, dando adeus à roupa íntima, dançando rock com jeans apertados, sendo quem quisessem ser, misturando o ordinário ao luxo, criando combinações ousadas, brindando o conforto... a rainha se mantém impecável com seus conjuntos estruturados e cheios de cor. Assim como com seus sapatinhos simpáticos, com sua indefectível bolsa preta e com seus broches que revertem atenção. E a gente adora cada vez mais essa personalidade fashion tão marcante – e repleta de códigos e tradições.
Quase todas as escolhas da rainha têm uma razão de ser, a começar pelas cores vibrantes de seus tradicionais conjuntos, que já renderam memes divertidíssimos, associações à paleta Pantone e todo tipo de analogia tão essencial ao universo pop que ama referenciar seus mitos.
Robert Hardman, o biógrafo da rainha, uma vez afirmou que a própria Elizabeth disse: “Eu nunca posso usar bege porque ninguém vai saber quem eu sou”. Eis aí um dos grandes motivos da escolha dos tons vibrantes, como também revela o documentário The Queen 90: são usados para que a rainha se destaque entre multidões. Afinal, nas aparições públicas de sua majestade, há milhares de pessoas e com esses tons de impacto todos podem vê-la.
Outro detalhe dos conjuntinhos da rainha é que todo o acabamento tem pequenos pesos de chumbo para evitar que o vento mostre mais do que vossa majestade desejaria – um recurso bastante usado também em roupas de alta-costura para aprimorar o caimento. As peças ainda são produzidas em tecidos que amarrotem pouco, já que roupas amassadas não fazem parte da imagem imaculada que uma rainha deve ostentar diante das câmeras. Ah! E a rainha nunca, nunca tira o casaco em público. Ou seja, sempre impecável.
E se a roupa é um tapa de cor, os sapatos e as bolsas mantêm o classicismo do preto. A rainha usa os sapatos da marca Anello & Davide of Kensington há mais de 50 anos, feitos à mão – é necessária a mão de obra de quatro pessoas para confeccionar apenas um par. Em couro de novilho e salto de cinco centímetros, levam fecho de metal e acabamento em verniz impermeáveis. A empresa trabalha com um molde de madeira que tem as dimensões exatas dos pés da monarca, mas, mesmo assim, é necessário que alguém amacie os calçados antes de Elizabeth usá-los. Sim: ela tem empregados de calce idêntico ao seu que usam os sapatos para que fiquem no ponto ideal do conforto. Uma rainha tem o direito de não sentir dor nos pés, né?
A bolsa preta segue à risca o gosto da rainha por relações duradouras até mesmo na moda: usa um modelo pretinho da marca Launer desde 1968. Dizem que Elizabeth tem mais de 200 bolsas com pequenas variações de comprimento de alça e de matéria-prima. Segundo o jornal The Telegraph, a rainha sempre carrega um pequeno espelho, batom, balas de menta, óculos de leitura, caneta, gancho portátil, amuletos de família e, aos domingos, uma nota de 5 ou 10 libras para ofertar na igreja.
Mas o mais interessante no uso da bolsa é que ela serve como um código entre a rainha e seus assessores. Verdade. As Launers da rainha são responsáveis por enviar mensagens secretas à sua equipe. Por exemplo, se a governante passar o acessório de uma mão para outra, isso indica que ela terminou a conversa e que um membro de sua equipe deve intervir.
Quando Elizabeth coloca a bolsa em uma mesa durante um evento, isso sinaliza às damas de companhia que ela quer sair em cinco minutos. Em casos mais graves, como abordagens agressivas ou inconvenientes, vossa alteza pode deixar a peça cair, colocando todo seu comboio em modo resgate. Não é ótimo?
Outra marca registrada da rainha são as joias. Embora tenha um acervo inconcebível para qualquer mortal em valor histórico e em cifras, a monarca é modesta em suas escolhas, usando cerca de 30 joias de sua extensa coleção, com exceção de algum encontro que pede algo mais extravagante. Entre as preferências, pequenos brincos de diamantes, colares de pérolas e seus broches, que se tornaram outra marca registrada de Elizabeth. Ela incrementa seu visual clássico e colorido com broches marcantes e costuma finalizar o look com chapéus ou lenços de marcas como Burberry e Hermés.
Sim. A rainha pode não ser uma trend setter, mas passa alguns recados que se percebem cada vez mais essenciais hoje: um consumo de peças de qualidade que duram anos, respeito pelo estilo pessoal sem se deixar levar por correntes passageiras, uma boa joia e uma cor transformam o básico em fantástico e que repetir roupa é muito bacana – e ela faz isso sem qualquer frescura. Podemos sempre aprender alguma coisa, né?! Viva a rainha!