O Estado do Rio de Janeiro é conhecido economicamente pela produção de petróleo, de cerveja e turismo. E agora quer ser visto também como um importante produtor de vinhos finos. Isto mesmo. As regiões Serrana e do Vale do Paraíba, no Estado do Rio, estão investindo na produção da bebida.
Este movimento é algo bem recente, vem ocorrendo desde o início da década passada, e já começa a impulsionar o enoturismo fluminense. Quem chega neste mercado é a Vinícola Maturano, em Teresópolis (RJ), que comemora a sua primeira vindima. Fomos conhecer um pouquinho do trabalho deles e, claro, colher alguns cachos de uvas.
A Vinícola Inconfidência foi a pioneira no Estado, fundada em 2010 às margens da Estrada Real, no município de Paraíba do Sul. Desde então, percebe-se um crescente movimento de outros vinhedos e vinícolas na região. Já em Teresópolis, a Fattoria Vinhas Altas, administrada por Murilo Pilotto, iniciou a sua plantação em 2017 com dois tipos de uvas, syrah e viognier.
É neste cenário que chega a Maturano, com um projeto ambicioso, que, além da produção de vinhos, contará com hotel e empreendimento imobiliário.
Atualmente, a Maturano possui algo em torno de 70 mil plantas cultivadas em 18 hectares plantados, que variam entre 850 e 1.050 metros de altitude. E o planejamento é adicionar mais 32, totalizando 50 hectares com três terroirs diferentes. De acordo com o sócio Marcelo Maturano, as áreas de cultivo passam por um período de dois anos de pré-preparo do solo.
– Estamos realizando o plantio de mix de verde para fazer adubação e de plantas que fixam 200 quilos de nitrogênio no solo, a quase dois metros de profundidade, para evitar ao máximo as erosões e criar um novo perfil de solo – explica Marcelo.
Todo este trabalho conta com a supervisão de uma gaúcha de Bento Gonçalves, que foi responsável pela criação da linha de vinhos oficiais da Copa do Mundo Fifa, de 2014, no Brasil, e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Trata-se da enóloga Mônica Rossetti, especialista em projetos de viticultura de precisão, atualmente radicada em Bergamo, na Itália. Ela foi convencida a entrar de cabeça no projeto pela família Maturano que foi até a Toscana apresentar a ideia da vinícola e a proposta de dupla poda.
– Estamos buscando dar significado a este projeto, que não é apenas o sonho de uma família ou de mais uma vinícola no Brasil. Não estou exagerando, mas é algo que vai impactar positivamente no futuro do vinho brasileiro e toda a região de Teresópolis. Mostrando que fazendo pesquisa interna nós podemos crescer ainda mais, criar uma identidade e ter vinhos originais – conta Mônica, que acredita que a vinícola venha se tornar uma referência no Brasil e no exterior.
Manuela Maturano, também sócia do empreendimento, conta que nesta primeira vindima estão colhendo syrah, cabernet franc, sauvignon blanc. A colheita deve ultrapassar 50 toneladas de uva, produzindo algo próximo de 40 mil garrafas. Em 2025, iniciarão a produção de malbec, merlot e chardonnay, além de outras 11 variedades que entrarão em testes.
Como ainda estão finalizando as instalações, a primeira produção de vinhos terá de ser feita em uma vinícola que fica em São Paulo. A previsão é de que as obras terminem em dezembro e, a partir de 2025, comecem a própria produção com potencial de chegar a 320 mil garrafas em 2032.
– Em breve, traremos para Teresópolis uma uva rara, de mesmo nome da família, por meio de acordo assinado com a Pesagro Rio (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro). Trata-se da uva Maturano, originária da região de Lazio, na Itália, especificamente de Picinisco, na província de Frosinone. A espécie é uma variedade autóctone, ou seja, ela não tem ‘pais’ conhecidos – conta Manuela.
Além da vinícola, o empreendimento contará com um hotel de 48 quartos e 13 lofts, um heliponto com serviço de hangaragem de até cinco helicópteros e um condomínio de 206 terrenos, com uma área de lazer de 14 mil m², incluindo quadras de tênis e beach tênis, áreas gourmets e piscina, entre outros itens.