Eu nunca fui ao Peru. Na verdade, o mais perto que eu tinha chegado do Peru na vida foi no Natal e mesmo assim meio de longe porque não é uma das minhas carnes preferidas. Mas tudo isso mudou quando eu pus os pés na Siwichi Chebicheria.
Logo de cara você se encanta com o cuidado do ambiente. Tudo parece ter sido milimetricamente planejado e nada está no seu lugar por acaso. A decoração, como não poderia deixar de ser, remete ao país andino. Quadros, máscaras, jarros, tudo muito bem pensado e organizado para deixar os clientes no clima.
Basicamente o Siwichi se divide em dois ambientes. O primeiro tem uma pegada mais de pub, com um barman fazendo estripulias com garrafas e uma vista privilegiada da cozinha. Segundo os donos, esse espaço pode ser fechado para festas privadas. Deve ser legal fazer um aniversário por lá.
O segundo, que se subdivide em três pequenos ambientes, é mais clássico, ideal para quem quiser comer um ceviche com vinho. O primeiro salão é o maior, com diversas mesas e cadeiras.
Aliás, nesse salão, todas às quartas, tem um trio tocando um jazz muito honesto. Vale a pena.
O segundo é um pouco mais reservado, ideal para casais a procura de um local que inspire um romance maroto.
E o terceiro, que foi onde eu fiquei, tem duas mesas grandes e perfeitas para grupos, que era o meu caso.
Eu falei de vinho aí em cima e tenho que dar um recado para você, que é maníaco por uva. Sim, você mesmo. A carta de vinhos do Siwichi vai deixar você igual aquele Urso do Pica Pau, sem saber pra onde ir. São dezenas de opções, de vários países, escolhidas com todo o cuidado pelo sommelier Leonardo Lucena. Mas vamos ao que importa: quantidades nucleares de comida. Começamos com o Couvert Andino, que consistia em chifles, mote e chips de batatas servidos com antepastos de ocopa e huancayana.
As chips estavam excelentes, bem fininhas e crocantes. Os molhos eram deliciosos e foi difícil parar de comer. Como o Siwichi é uma cevicheria, começamos pelo carro-chefe da casa: a pizza. Não, brincadeira, começamos pelos ceviches mesmo. O primeiro foi um Ceviche Totoritas, que levava peixe branco, camarões, lula, batata doce, fritos e crocantes em molho de limão, finalizado com cebola rosada.
Estava muito bom. Realmente delicioso. Mas por mais curioso que seja, a cebola rosada foi a parte do prato que eu mais gostei. Quase comi tudo sozinho, de tão gostoso que estava. O segundo foi um Ceviche Misto, que levava peixe branco, camarões e lula com pimenta dedo de moça e coentro, acompanhado de jerimum.
Estava excepcional. A lula estava perfeita e o limão deu um toque incrível em tudo. Mas o que mais chamou minha atenção no prato foi o jerimum. Ele estava meio que congelado e me passou a sensação de eu estar comendo um raspa-raspa (ou raspadinha, dependendo da região onde você esteja). Parece bizarro mas estava curiosamente gostoso. Junto com ele foi pedido um Pulpo al Olivo, que consistia em pedaços de polvo ao molho de azeitonas pretas acompanhados de cubos de batata doce maçaricados.
Vou trabalhar na honestidade com vocês: eu achei que polvo com batata doce não ia ficar bacana. Mas eu estava enganado. E como estava. As duas iguarias combinaram perfeitamente e o molho de azeitona juntou tudo como uma liga construída por deuses bondosos e caridosos. Depois de tudo isso, chegou a hora de pedir os pratos. É, amigos. Estávamos só começando. Vou iniciar pelo meu prato, que estava inacreditavelmente delicioso. Era um El Gran Pulpo que, segundo o cardápio, é um chicharón de polvo inteiro com pétalas de cebola roxa e azeite de ervas acompanhado de purê de pimentão vermelho e batatas rústicas.
Sim, é isso mesmo. Um polvo praticamente inteiro. E foi apenas o melhor polvo que eu já comi na vida. E olhe que eu já comi muito polvo na vida. É uma das minhas comidas preferidas. Ele estava perfeito. A consistência estava perfeita, a temperatura estava perfeita, o tempero estava perfeito, a água com gás estava perfeita, a lua estava perfeita, até a gravata do garçom estava perfeita. Tudo influenciado pelo polvo. Não sou nada fã de pimentão, então nem provei o purê. Mas as batatas estavam…adivinhem. Isso. Perfeitas. Merece mais uma foto para apreciação.
Depois que eu acabei de chorar de emoção com o polvo, prestei atenção nos demais pratos. Um deles era o Camarónes de la Cordillera, que consistia em camarões em crosta de quinoa, arroz verde e puré andino.
Não provei porque estava ocupado demais com o polvo, mas os donos disseram que estava uma delícia. Pela cara, acho difícil que estivesse ruim. Além dos camarões, também foi pedido um Arroz Chaufa, que era um arroz salteado com lombo de porco, bacon, ovos, shoyu e cebolinha, acompanhados de salsa agridulce de tamarindo.
Esse eu provei e posso dizer que estava mais ou menos. Nada de especial, sabe? A impressão que me deu é que era apenas um risoto com um monte de coisas dentro. Depois de todos os pratos serem devorados, partimos para a sobremesa. Foram dois pedidos. O primeiro foi uma porção de Alfajores Peruanos, que eram seis alfajores feitos com delicada massa perfumada com raspas de limão e recheado com doce de leite caseiro.
Estavam realmente uma delícia. Diferentemente do alfajor argentino, esse era mais crocante. E o doce de leite estava como todo bom doce de leite: incrível. Rapidamente eles desapareceram da mesa e abriram espaço para a segunda sobremesa: ¡Que Ricos Churros!, que como o nome entrega eram churros servidos com doce de leite, ganache e mousse de guanábana.
Os churros em si estavam ótimos. O doce de leite, como já falei aí em cima, estava incrível. O ganache também não deixou nada a desejar. Mas a mousse de guanábana não agradou ao meu paladar, mas outras pessoas da mesa adoraram. Sendo assim, acho que o problema era eu mesmo. Depois disso pedimos mais um polvo. Brincadeira. Estavam todos tão cheios que eu estava começando a duvidar seriamente da minha capacidade de levantar da cadeira. De todo jeito, a conta deu R$80,00 por pessoa (éramos 6) sem bebidas alcoolicas o que achei justo pela quantidade dantesca de comida que ingerimos. Agora só me resta marcar a volta para comer novamente o melhor polvo do mundo. Nem que eu tenha que ir até o Peru para isso.
Siwichi Cebicheria
Rua do Cupim, 53 - Graças
Fone: (81) 3204-9921
Recife/PE
* Conteúdo produzido por Paulo Cabral