Com quatro temporadas disponíveis na Netflix, Casamento às Cegas Brasil se consolidou como uma das apostas mais certeiras da plataforma de streaming para agradar os espectadores brasileiros. O programa apresentado pelo casal Camila Queiroz e Klebber Toledo virou um verdadeiro fenômeno no país. A premissa é construir relações baseadas não na aparência física, mas na conexão.
Tratado pela Netflix como um "experimento", o reality show coloca homens e mulheres que buscam o matrimônio para conversarem sem nenhum contato visual, isolados em cabines, a fim de que, assim, apaixonem-se por alguém. Se isso ocorrer, os pedidos de casamento são feitos e, só depois, eles podem se enxergar pela primeira vez.
A experiência é seguida de uma fase de convivência, crucial para que os participantes, já noivos, decidam se dirão "sim" ou "não" diante do altar. Ao fim de cada temporada, um programa de reencontro revela o que ocorreu depois do grande dia.
Mas por que o formato vem fazendo tanto sucesso no Brasil? Abaixo, Zero Hora reúne pontos que tentam explicar.
Por que Casamento às Cegas faz tanto sucesso no Brasil
Bons antecedentes
Quando o programa estreou nos Estados Unidos, em 2020, um alerta já foi ligado no público brasileiro. Estávamos no meio da pandemia e todo mundo (ou quase) queria uma opção leve para assistir, então, por que não dar uma chance? Foi tiro e queda: a versão norte-americana fez muito sucesso entre os brazucas, que há tempos são adeptos dos realities de relacionamento — do controverso Em Nome do Amor, comandado por Silvio Santos na década de 1990, ao explícito De Férias com o Ex, sucesso atual da MTV.
Entretanto, para realmente agradar, o reality precisa ser bom; e a primeira temporada de Love is Blind, título dos EUA, mostrou que tinha muito a oferecer nesse sentido. O programa conquistou os entusiastas do gênero por dosar barracos acalorados e reviravoltas dignas de M. Night Shyamalan com histórias de amor simples e irresistíveis (quem não se apaixonou pelo casal Lauren e Cameron? ❤️). Assim, quando a franquia foi transportada para o Brasil, já estava com meio caminho andado.
Identificação e ranço potencializados
Sob o título de Casamento às Cegas, o reality show ganhou sua primeira temporada com participantes do Brasil em 2021. A versão tupiniquim entregou tudo já na primeira temporada (e não se trata de patriotismo). Os barracos, as reviravoltas e as histórias de amor vistas em Love is Blind seguiram presentes, mas com um "jeitinho brasileiro" que torna tudo mais próximo da realidade dos espectadores do país. E isso deixa os sentimentos do público ainda mais aflorados.
As histórias mostradas, por vezes, podem ser parecidas com as de quem as assiste, de modo que fica fácil se identificar e torcer pelo final feliz de alguns participantes. Ao mesmo tempo, também não demora muito para que outros acendam o ranço dos espectadores — tipo o catarinense Thiago Rocha, eleito o "boy lixo" da primeira temporada, ou o paulista William Domênico, da segunda, que despertou a fúria do público ao dizer um "não" totalmente inesperado para Verônica (que já havia dito "sim").
Famílias que fazem a diferença
William também está ligado a outro ponto que explica o sucesso do reality no Brasil: as famílias dos participantes. São personagens secundários que vêm fazendo toda a diferença nos enredos das temporadas, podendo, inclusive, influenciar o desfecho dos casais. Foi o que ocorreu com o paulista, que teve na mãe, Maura, a principal hater de sua união com Verônica. Ela implicou tanto com a então nora que ganhou o título informal de "maior megera do Casamento às Cegas"; ao mesmo tempo, justamente por isso, foi uma das melhores personagens já vistas no reality.
Wanderley Tavares, pai de Thamara Térez, da segunda temporada, também entrou para o hall da fama da versão brasileira, mas com o título de "queridão mor". Ele, que faleceu em março desse ano, conquistou o coração dos espectadores por ser o maior incentivador da filha, além de um poço de carisma e simpatia. Ganhou ainda mais pontos quando criticou William e dona Maura no programa de reencontro — o que nos leva a outro tópico importante.
Interesse pela vida alheia
Realities são como novelas (que nós, brasileiros, amamos), mas com personagens da vida real — o que significa que eles não somem depois o último capítulo. Assim, os espectadores podem seguir acompanhando a vida dos participantes, que, muitas vezes, continuam a render entretenimento fora da tela. No caso do Casamento às Cegas, a curiosidade é sempre grande por saber quais casais continuam juntos ou como se desenrolou alguma confusão.
O programa de reencontro cumpre a função de colocar todos esses pingos nos is, mas as redes sociais abrem um leque infinito de possibilidades nesse sentido. Por meio delas, já vimos, por exemplo, casais do programa celebrarem a chegada do primeiro filho e outros se separarem com direito a lavação de roupa suja. Na temporada atual, teve até ex-namorada usando as redes para acusar um participante, Evandro, de cometer abandono parental. Babado sério e fortíssimo 👀
Mas por qual razão o público gosta de saber disso tudo? Porque, convenhamos: a vida alheia é um assunto interessante. Não fosse assim, os realities shows não fariam tanto sucesso e a fofoca não seria quase um patrimônio nacional. Está tudo bem gostar de programas que exploram isso.
Fator julgamento
Se acompanhar a vida alheia já é bom, poder julgá-la de camarote é ainda melhor. E realities como Casamento às Cegas se prestam perfeitamente a esse papel. É delicioso assistir às atitudes dos participantes e opinar sobre quem está certo ou errado, quem pesou a mão ou quem parece ter sangue de barata. O exercício de construir hipóteses sobre o futuro dos casais (e às vezes acabar surpreendido ou decepcionado) também pode ser muito legal.
Reflexões paralelas
Casamento às Cegas ainda consegue ser vetor para a discussão de pautas importantes. O programa já incitou debates sobre temas como racismo e gordofobia. É bem verdade que alguns não foram tão sérios assim (como a "calvofobia" denunciada por Patrick nessa temporada), mas, de um modo geral, o reality pode ser uma boa forma de trazer luz a questões que precisam ser percebidas pela sociedade. Tudo isso sem deixar de lado o romance, os barracos e os plot twists que fazem da atração um case de sucesso no Brasil.