Chegou nesta sexta-feira (16) ao catálogo da Netflix o documentário Einstein e a Bomba, que narra um episódio menos conhecido da vida do físico Albert Einstein. Com roteiro elaborado por Philip Ralph, o longa se distingue por utilizar apenas as palavras de Einstein retiradas de seus discursos, cartas e entrevistas para criar os diálogos da obra.
O lançamento ocorre em um contexto relevante, atuando como complemento ao Oppenheimer (2023) de Christopher Nolan, indicado ao Oscar em 13 categorias em 2024. Mas, enquanto o longa-metragem se concentra na figura central do Projeto Manhattan, Einstein e a Bomba examina a contribuição indireta do físico para o início do projeto, enfatizando as implicações morais e éticas do desenvolvimento de armas nucleares.
O documentário é estrelado Aidan McArdle, Andrew Havill e Rachel Barry, e tem direção de Anthony Philipson. Realizado em parceria com a BBC, a produção mescla imagens de arquivo com recriações dramáticas para examinar aspectos decisivos na vida do físico, com foco especial no período em que ele se refugiou de ameaças nazistas em uma cabana isolada em Norfolk, na Inglaterra. Esse momento não apenas representou uma mudança significativa na trajetória pessoal e profissional de Einstein, mas também influenciou no desenvolvimento científico global.
O ponto de virada na vida de Einstein
No início da década de 1930, o mundo assistia ao crescimento de uma ameaça que mudaria o curso da história: a ascensão do regime nazista na Alemanha. Forçado a fugir do país e, posteriormente, a buscar refúgio em uma cabana isolada em Norfolk, Inglaterra, o físico enfrentou um momento de reclusão que se provaria transformador. Longe das certezas de seu laboratório, ele foi confrontado com a realidade brutal de um mundo à beira da guerra. A pressão desses eventos globais aliada à sua condição de refugiado impeliu Einstein a reavaliar suas convicções pacifistas.
A carta a Roosevelt e o Projeto Manhattan
No contexto iminente da Segunda Guerra Mundial e com a descoberta da fissão nuclear em 1938, a comunidade científica começou a perceber o potencial devastador dessa nova tecnologia. Leo Szilard, um físico húngaro, junto com outros cientistas, convenceu Einstein da necessidade de alertar o governo dos Estados Unidos sobre os avanços alemães em pesquisa nuclear. Em 2 de agosto de 1939, uma carta redigida por Szilard e assinada pelo físico foi enviada ao Presidente Franklin D. Roosevelt, advertindo sobre a possibilidade de o regime nazista desenvolver bombas atômicas e sugerindo que os EUA acelerassem suas próprias pesquisas em energia atômica.
A carta, entregue em outubro de 1939, serviu como um catalisador para a ação governamental. Embora a resposta inicial tenha sido cautelosa, o alerta de Einstein e Szilard eventualmente levou à criação do Comitê Consultivo para o Urânio, marcando o início do que viria a ser conhecido como Projeto Manhattan, tema central do filme de Christopher Nolan, Oppenheimer.
O remorso de Einstein
Após os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, Albert Einstein ficou profundamente afetado pela devastação causada pelas armas nucleares. Confrontado com as consequências de sua ação, ele expressou publicamente seu pesar, refletindo sobre o papel que desempenhou no nascimento da era nuclear e sua preocupação com o futuro da humanidade. "Se soubesse que os alemães não teriam sucesso no desenvolvimento da bomba atômica, eu nunca teria levantado a questão".
O momento de arrependimento pessoal também tornou-se um ponto de inflexão que definiu seu ativismo pelo resto de sua vida, transformando-o de um dos principais cientistas do mundo em um defensor da paz e da responsabilidade ética na ciência.