— Eu sou filho de uma stripper com um assaltante de trem. Meu padrinho era um falsificador de quadros e a minha madrinha, uma atriz pornô. Que início de vida maravilhoso que eu tive, né? — diz Michael Biggs, o Mike, na primeira fala da minissérie documental A Superfantástica História do Balão, que estreia no Star+ nesta quarta-feira (12).
Com este depoimento de abertura, e que também tem destaque no trailer, o público pode criar alguma expectativa de que a produção, que tem direção-geral de Tatiana Issa — responsável pelo impactante Pacto Brutal — O Assassinato de Daniella Perez (2022) —, traga um olhar mais sombrio sobre a turminha do Balão Mágico, que arrebatou o Brasil nos anos 1980.
Porém, não é o que acontece. E isso não seria um demérito, se o marketing do projeto não tentasse vender a produção com esta roupagem. Apesar da declaração inicial ser um contraste com aquele universo fantástico criado pelo grupo infantil há quatro décadas, o documentário é bem convencional, criado apenas para recontar aquela história e mostrar como estão os personagens hoje em dia.
Em três episódios, que somam pouco mais de 2h30min de duração, a série realiza um reencontro que deve mexer com os corações dos mais nostálgicos: Simony, Mike — o personagem mais interessante —, Tob e Jairzinho sentados juntos, recordando as aventuras, alegrias e tristezas daqueles anos do fenômeno chamado Balão Mágico.
Quase protocolar, a produção segue à risca o checklist dos documentários, com muitas imagens de arquivos, depoimentos dos envolvidos na produção e, ainda, com famosos que acompanharam e se inspiraram naquelas crianças-prodígio que cantavam e representavam. Este último elemento vem de uma necessidade de deixar a produção mais interessante e conseguir esticar a narrativa. Entretanto, funciona.
Com as vidas daquelas crianças sendo exploradas midiaticamente há décadas, pouco do que foi dito no especial deve ser novidade para quem foi fã, de fato, do grupo. O que a minissérie consegue trazer, realmente, é o lado mais humano e o choque da passagem do tempo, jogando o holofote no trabalho infantil e como isso pode afetar o desenvolvimento de uma pessoa.
Quem exemplifica tal problemática é Tob — Vímerson Cavanilas —, que fez dupla com Simony na criação do Balão Mágico e, quando a sua adolescência chegou, foi removido do grupo. Tanta exposição, exigências do trabalho, como decorar falas, e, depois, esta espécie de descarte geraram sequelas, contadas por ele mesmo no documentário, que o fazem repetir a palavra "medo" diversas vezes, bem como alguns momentos de lágrimas.
Negócios
O time escalado para falar sobre o fenômeno Balão Mágico é extenso, indo dos quatro protagonistas, seus parentes e amigos, passando por personalidades que fizeram participações no programa de televisão, como Fábio Jr., Pepeu Gomes e Baby do Brasil, além de famosos que cresceram assistindo ao grupo, como Lázaro Ramos e Rodrigo Fagundes. Porém, as declarações mais impactantes surgem das mentes por trás da carreira da banda.
As falas do produtor musical Marcos Maynard e do compositor Edgard Poças, em determinados momentos da produção, entram em conflito, com o primeiro sendo uma espécie de antagonista da história, com frases de efeito dignas de personagens quase vilanescos — "eu só lembro dos sucessos, não lembro dos fracassos (risos)". E é com os dois, também, que o público conhece melhor como funcionava a máquina de ganhar dinheiro que era o Balão Mágico.
Mesmo assim, falta um aprofundamento e, mesmo sendo curioso e um objeto interessante para as novas gerações entenderem a grandiosidade que foi o grupo musical e o programa televisivo do Balão Mágico, torna-se repetitivo em alguns momentos, ao bater repetidamente na mesma tecla. Porém, encontra grandes momentos de reflexão ao explorar o universo com poucas regras dos anos 1980, em que crianças menores de 10 anos se apresentavam em programas televisivos que tinham apelo sexual e dançarinas de biquíni como seus principais elementos.
Família
Ainda são abordadas, dentro da minissérie, as relações familiares, mostrando como o pessoal e o profissional, na vida daquelas crianças, estavam entrelaçados. E é curioso descobrir que, na visão dos agora adultos que estão próximos dos 50 anos, aquele dia a dia era normal — mesmo que chegassem a gravar 19 horas seguidas, além de fazer dois ou três shows por dia.
A minissérie que, apesar de narrar um revolucionário grupo infantil, pouco tem de inovadora, cumpre o seu papel de resgatar os personagens que ficaram marcados no passado de uma legião de fãs e os situa no presente, atualizando aquelas histórias. Evitando pisar em grandes polêmicas, a produção comandada por Tatiana Issa apenas pincela os episódios problemáticos para, então, deixar-se mergulhar na nostalgia.
O que fica de marcante, ao final dos três episódios, é o abraço carinhoso entre o quarteto fantástico de outrora e a música, que é impossível não ficar cantarolando: "Superfantástico amigo / Que bom estar contigo no nosso balão / Vamos voar novamente / Cantar alegremente mais uma canção / Tantas crianças já sabem / Que todas elas cabem no nosso balão / Até quem tem mais idade / Mas tem felicidade no seu coração / Sou feliz, por isso estou aqui / Também quero viajar nesse balão".