Quem viveu no Brasil nos últimos 40 anos dificilmente passou ileso ao fenômeno Xuxa. Gostem ou não, as pessoas sabem quem ela é, leram sobre sua vida e obra em jornais e revistas e talvez até tenham consumido sua marca. Querendo ou não, já a viram na televisão, em algum filme no cinema, em memes na internet. Ouçam ou não, conhecem alguma música.
A impressão é que não há nada inédito sobre a vida pessoal e profissional de uma das celebridades mais expostas do país nas últimas décadas. Mas apesar da sensação de velha conhecida, conforme a própria estrela gaúcha, quem assistir a Xuxa: O Documentário, que estreia nesta quinta-feira (13) no Globoplay, sob direção-geral de Pedro Bial, vai entender, contextualizar e descobrir fatos até então desconhecidos pelo público e até por ela, que celebrou 60 anos de idade e 40 de carreira, que nem sempre foram doce mel, como diz a música.
Dos amores com os maiores ídolos do esporte nacional, Pelé e Ayrton Senna, à proposta de casamento do ícone internacional Michael Jackson. Do anúncio da gravidez no Domingão do Faustão ao nascimento da filha, Sasha, que virou matéria do Jornal Nacional. Do sucesso nacional ao internacional. Tudo foi noticiado à sua época e está aprofundado na produção, que tem direção de Cássia Dian e Mônica Almeida, e roteiro de Camila Appel.
Bial é enfático ao afirmar que Xuxa é o maior ato pop que o Brasil já produziu.
— Ela não é apenas uma cantora, apesar de estar entre as cantoras que mais venderam álbuns no país e fora dele. Ela não é apenas uma atriz, apesar de ter feito filmes de grande sucesso. Ela não é uma artista dentro das categorias clássicas das artes. Ela é uma apresentadora de TV que transcendeu o próprio lugar e que virou o maior astro pop, virou mais que uma marca, criou toda uma estética, uma linguagem que influenciou gerações e gerações.
Para o jornalista, mergulhar na trajetória desse fenômeno é entender melhor a cultura que é produzida no Brasil, a época que ela representou, entre os anos 1980 e 1990, e a transformação dos costumes e da moral, os progressos, os retrocessos, a evolução das coisas.
— Tudo está muito representado de forma exemplar na trajetória dela. Falando da Xuxa, estamos falando de todo o país.
E não foi fácil resumir em cinco episódios – que serão lançados semanalmente, a partir desta quinta (13) – a trajetória de seis décadas de vida de uma artista com status de estrela internacional. Bial confessa que, como em todo processo de criação de uma história real, os desafios foram os critérios utilizados para a escolha dos fatos a serem explorados.
— Os critérios dos "sins", "nãos", por que esse e por que não aquele, na maior parte das vezes, justificam-se pelos seus significados. Procuramos o que tinha maior capacidade de ficar além das aparências; de expor o que não imediatamente estava compreensível, e que hoje já pode ser possível compreender.
Bial, que entrevistou Xuxa pela primeira vez em 1987, para um Globo Repórter especial sobre o sucesso da gaúcha, conta que foi a partir da amizade, cultivada ao longo de décadas, que surgiu a confiança que ela teve em contar a ele os detalhes, inclusive os mais difíceis.
Entre os momentos mais esperados da produção, dois reencontros: com o ex-ator mirim Marcelo Ribeiro, que contracenou com ela no emblemático filme Amor Estranho Amor, e com a ex-empresária, Marlene Matos, com quem ela não falava há 19 anos.
Raio X
Xuxa descreve a experiência de assistir a um documentário sobre sua vida como um raio X e uma grande homenagem em vida. Sem medo de encarar traumas do passado, a apresentadora reconhece que não foi agradável mexer em certas caixinhas de memórias.
— Embora desagradável, foi importante e necessário, senão seria um documentário em que as pessoas só veriam e ouviriam coisas que elas já sabem ou que eu já mostro quase diariamente.
Sobre os momentos que a emocionaram, destaca o depoimento da Maria, funcionária que ela definia como uma segunda mãe, gravado dias antes de ela morrer.
— Uma das coisas que ela falou foi que ela gostaria de morrer ao meu lado, e foi o que aconteceu. O documentário tem muitas passagens que me emocionaram, mas vou deixar que as pessoas que verem digam as que mais emocionaram elas.
Poucas pessoas têm a oportunidade de ver sua vida passando como um filme diante de seus olhos (no caso de Xuxa, azuis). A estrela teve esse privilégio e pôde comparar a mulher de 30 anos atrás com a mulher de hoje, com suas memórias frescas e revisitadas.
— Trinta anos atrás, eu tinha trinta anos e ainda não era mãe, então eu posso dizer que existe uma pessoa antes de ter a Sasha e outra pessoa depois. Eu me transformei numa pessoa melhor para ela, para que ela sentisse orgulho de mim, para que ela sentisse vontade de dizer para todos que é minha filha. Eu quis melhorar como pessoa, como ser humano e como profissional.