Gabriela Loran está acostumada a ser pioneira, tanto na profissão quanto na vida. Em 2018, foi a primeira atriz trans de Malhação, no papel de Priscila. A partir daí, a carioca de 28 anos passou a ser reconhecida por seu trabalho e não tardou a aparecer novamente na telinha, desta vez como a Luana, na novela Cara e Coragem.
O título da novela das sete cabe como uma luva na trajetória de Gabi, que segue na luta por visibilidade e respeito, sem temer os haters. Recentemente, denunciou vários perfis que a atacavam nas redes sociais e tenta dar voz a tantas pessoas que ainda sofrem com a violência, no mundo real ou virtual.
A participação de artistas LGBTQIA+ em produções culturais tem crescido nos últimos anos, mas Gabi sonha com voos mais altos para uma população tão invisibilizada.
– Eu quero protagonismo, principalmente em novelas, algo que nunca aconteceu no Brasil. Quero que atrizes como eu tenham a possibilidade de mostrar o quanto são competentes e talentosas, sem o rótulo de ser trans – projeta.
Em bate-papo com Retratos da Fama, a atriz conta um pouco sobre seu trabalho na trama das sete e destaca a importância da representatividade no audiovisual.
Como surgiu o convite para integrar o elenco de Cara e Coragem?
O convite veio pela Natália Grimberg, que foi a minha diretora em Malhação, e que me deu a oportunidade de trabalhar com ela novamente, então estou muito feliz e grata. Ela é uma grande profissional, é importante ter olhares femininos na direção.
Na novela, sua personagem é uma mulher cisgênero (pessoa que se identifica com seu sexo biológico). O que você acha disso? É um movimento natural do audiovisual hoje em dia?
Essa informação ainda não foi exposta, então não sei ainda se ela é cis ou se é trans (pessoa que não se identifica com seu sexo biológico). Uma coisa de cada vez. Como não foi definido, eu prefiro não me posicionar ainda em relação a isso, a não ser que surja essa questão em algum momento. Mas enquanto isso, ela está em aberto. A Luana pode ser uma mulher trans ou não, e isso também é muito legal. A condição de ser trans não a define.
Como você vê o aumento da diversidade no audiovisual, ainda que a passos lentos? O que ainda precisa melhorar neste aspecto?
A gente vem galgando muitos espaços lentamente. E acho que não podemos nos acomodar. Temos que fazer uma pressão também para os roteiristas, diretores... Para que eles nos deem oportunidades de vivenciar outros tipos de personagens, não nos limitar à questão trans. Que existam personagens trans, mas que a questão da transexualidade não seja apenas a única do personagem, porque assim, a gente esvazia muito o significado. Nós, pessoas trans, somos tão complexas como a nossa condição de vida. É preciso que escrevam personagens com mais profundidade. Não só sobre questões de banheiro, sobre contar se é trans ou não, se a personagem está se descobrindo enquanto pessoa trans. A gente já entendeu este debate. Pode ser que ela apareça, sim, mas que não seja a única problemática das personagens, porque somos mais complexas do que isso.