O filme é rodado perto de sua casa, traz o sotaque de sua cidade, sua rua aparece, até seu vizinho fez uma ponta. Mas e depois, como assisti-lo? Apesar dos inúmeros serviços de streaming, dificilmente as produções locais marcam presença nesses catálogos. Consequentemente, muitos trabalhos se perdem. Pensando nisso, a Sulflix foi criada. Com a finalidade de reunir as artes produzidas no Rio Grande do Sul, a plataforma entrou no ar no dia 17 de dezembro. A assinatura custa R$ 10.
Na Sulflix, há mais de 500 obras gaúchas de diversas temáticas e formatos. Há clássicos do cinema do RS como Anahy de las Misiones (1997), Houve Uma Vez Dois Verões (2002), Ainda Orangotangos (2007), Morro do Céu (2009), Antes que o Mundo Acabe (2010), Yonlu (2017), filmes do Teixeirinha, animações de Otto Guerra e curtas de Jorge Furtado, entre outras produções. Há também séries como Ocidentes, Paralelo 30 e Fora de Quadro, além atrações infantis como Kalanga — Cidade das Bicicletas e Os Filosofinhos.
Só que a Sulflix não se limita a filmes e séries, como boa parte dos serviços de streaming. É possível encontrar espetáculos de teatro como Bailei na Curva, Hotel Rosa Shock, Pois é, Vizinha… e Nós por Nós. Guri de Uruguaiana também marca presença com esquetes e paródias. Ainda há programas de gastronomia, cursos online e clipes de grupos e artistas do Estado — vide Nenhum de Nós, Bibiana Petek, Bloco da Laje e Império da Lã.
A Sulflix foi criada por Daniela Gouveia Menegotto, que também é proprietária da distribuidora Lança Filmes. É uma ideia que a empresária fomentava havia anos e conseguiu pôr em prática através do programa Pró-Cultura RS. Daniela lembra que umas das motivações para o projeto era a dificuldade de acessar os conteúdos locais — sendo que boa parte ficava relegada a alguma cópia de qualidade inferior no YouTube ou ao download ilegal.
— Senti que havia essa dificuldade de encontrar mais espaços, de ampliar os circuitos dos filmes daqui. Com a Sulflix, a ideia é de que produções tenham uma vida mais longa — relata a empresária.
Por enquanto, só há a versão desktop da plataforma. Daniela estima que o app do serviço para Android e iOS chegue nas próximas semanas. O plano a curto prazo é expandir os conteúdos da plataforma. Quem sabe, no futuro, desenvolver uma produção própria da Sulflix, abrigando conteúdos exclusivos. De qualquer maneira, um dos principais objetivos é formar um acervo de produções gaúchas.
— Queremos que a Sulflix seja tanto um local de pesquisa quanto de entretenimento. Temos muita vontade de ampliá-la para a área de turismo, fazendo um link dos filmes com a cidade onde foram rodados — diz Daniela.
Grêmio, Lumine e Cubo
A Sulflix não é a primeira plataforma de streaming gaúcha. Há mais de dois anos, por exemplo, a Lumine está em atividade. A empresa foi criada por Matheus Bazzo em Dois Irmãos, no Vale dos Sinos, e apresenta filmes e séries que versem sobre o catolicismo. Também há espaço para produções do cinema clássico, mas desde que estejam alinhados com valores familiares e católicos.
Outro exemplo é o Grêmio Play, lançado em abril de 2021. Além do conteúdo esportivo dedicado ao time, há filmes, séries e shows.
Já em junho do ano passado surgiu o Cubo Play, braço da produtora Cubo Filmes. A plataforma foca nas transmissões ao vivo e nas opções de programas para consumo on demand. Tendo como base apresentações musicais e eventos esportivos, o serviço possibilita ao usuário comprar ingresso para a atração que deseja assistir. Também é possível alugar um show por período determinado. Já se apresentaram na plataforma nomes como Nenhum de Nós, Garotos da Rua, Antonio Villeroy e Nei Van Soria, entre outros.
— Como que você fala de sua aldeia em uma linguagem universal? A música permite isso. Nosso plano é levar essa música e o esporte para lugares não pensados antes — afirma Claudio Fagundes, diretor da Cubo Filmes.
Além disso, o serviço transmitiu espetáculos do Porto Alegre em Cena, torneios como Copa Evolution de Jiu Jitsu e o Campeonato Brasileiro de Muay Thai, promoveu em setembro o Festival 100 Grandes Álbuns e está realizando o festival Verão Jazz e Blues. Também abriga podcasts em vídeos, que podem ser acessados gratuitamente.
Fagundes destaca que o Cubo Play já recebeu acesso de 114 países e vendeu ingressos para 40. A plataforma costuma ser acessada mais de 500 vezes por dia. Nos próximos meses, o serviço deve promover um modelo de assinaturas.
— Pretendemos aumentar cada vez mais o número de shows e artistas na plataforma, além de produzir documentários e séries, para que seja também um espaço de memória da cultura e do esporte — pontua Fagundes.