Tem sangue novo no horário nobre da Globo. Lícia Manzo se une ao seleto grupo de autores das 21h e já chega dizendo a que veio. Nada é óbvio em Um Lugar ao Sol, novela que estreou na segunda-feira. Até o que parece um clichê ganha outro viés, provando que sempre é possível recontar a mesma história de formas diferentes.
A trama dos gêmeos separados na infância se repete, mas as semelhanças param por aí. Os primeiros capítulos tiveram duas narrativas paralelas, para apontar o quanto Christian e Renato, interpretados por Cauã Reymond, seguiram trajetórias diferentes. O primeiro, rejeitado pela família adotiva do irmão ainda bebê, cresceu em um abrigo e, aos 18 anos, precisou se virar para sobreviver. Sempre cabisbaixo, olhando o mundo por detrás dos óculos e parecendo pedir licença para tudo, até para viver.
Renato, criado no luxo, tinha outra postura. Acostumado a peitar todos que tentassem barrá-lo, ocultou suas frustrações nos vícios. Se Christian pedia licença, Renato metia o pé na porta.
E assim se delinearam as vidas dos gêmeos, até o esperado reencontro, já no terceiro capítulo. E aí, Cauã brilhou como nunca. Em dose dupla nas cenas, imprimiu as diferenças gritantes entre os dois personagens com talento e profundidade. Pena que a relação dos irmãos tenha durado tão pouco. Seria interessante ver mais sequências dessa dobradinha.
No limite
Nestes primeiros capítulos, o grande mérito da autora foi construir o arco narrativo de Christian de forma a nos convencer de que, no lugar dele, qualquer um seria capaz de tomar decisões nem um pouco éticas. Tudo deu errado na vida dele, culminando em uma situação que o obrigou a trocar de lugar com o irmão morto. É um anti-herói? Sim. Mas quem se atreve a julgá-lo ou condená-lo?