É possível contar nos dedos quantas vezes os personagens de Os Pássaros de Massachusetts falam. Mas isso não torna o longa-metragem do gaúcho Bruno de Oliveira menos denso. Gravada em cartões-postais de Porto Alegre, a produção foi disponibilizada recentemente no Amazon Prime Vídeo e teve sua première no Festival de Cinema de Gramado em 2019.
O silêncio foi proposital: a intenção do cineasta era conhecer mais a fundo, testar e aprimorar a dramaturgia adotada por Robert Bresson, um dos diretores franceses mais importantes do século 20.
— Ele busca limpar os excessos dramatúrgicos através da repetição para alcançar austeridade na performance (…) Acabou sendo uma linha de trabalho que interessava adaptar ao fato de tanto eu quanto meninas não sermos atores profissionais — aponta Oliveira.
Na trama, o destino de três jovens se cruza nas ruas da Capital. Fernanda (Fernanda Detoni), Bruno (interpretado pelo próprio diretor) e Sofia (Sofia Nóbrega) se conhecem em uma festa. Antes disso, Sofia acabou de receber a aprovação em um mestrado nos EUA, mas fica emotiva com a despedida. Em seu caminho, cruza Fernanda, que leva a vida como costureira, e as duas acabam no agito em que trocam ideias com o fotógrafo Bruno.
Durante uma hora e meia, será possível ver os personagens comendo no Guga's Restaurante, caminhando nos gramados da Redenção e até em sebos do Centro Histórico. Moradora desde 2009 da Capital, Fernanda garante que as filmagens nessa parte mais antiga da cidade, como nas proximidades da Praça da Alfândega, foram animadas.
— A primeira vez que andei por lá, quando cheguei na cidade, fui com medo, mas amei. No início, eu cursava arquitetura e uma das cadeiras era sobre a história de Porto Alegre, então eu estava descobrindo a mesma cidade em dois tempos diferentes. Ainda hoje, andar pelo Centro é mágico pra mim — garante a atriz.
Encontros e separações
O título do filme acaba sendo um spoiler: os pássaros são conhecidos por estarem sempre migrando, rumo ao desconhecido. No fim, é o que o longa acaba propondo: uma reflexão sobre as idas e vindas da vida.
Oliveira confessa que o título surgiu nos momentos finais das gravações, em conversas com Leonardo Michelon, responsável pela montagem. Solitários, os personagens se encontram em determinado momento, mas acabam se separando quando o público menos espera. Exatamente como as aves.
— E quem está aqui embaixo olhando pra cima, ou assistindo ao filme, não tem como medir a brevidade ou profundidade desses encontros, apenas observar de longe — aposta Fernanda.
Essa atmosfera de constante mudança também esteve presença nas gravações. Oliveira cita novamente que nenhum dos atores é profissional e que o longa acabou se adaptando a cada um deles.
— O maior desafio foi a insegurança, se essa ideia iria ficar coerente, boa. As mudanças aconteciam até na véspera da gravação. E acho que funcionou, porque ficou só o essencial — finaliza Oliveira.