Elisa Volpatto coleciona trabalhos no cinema, participações em especiais da RBS TV e personagens marcantes no teatro. Mas foi só há pouco tempo que a gaúcha de 33 anos começou a ser conhecida do grande público fora do Estado, ao aparecer na TV aberta em seriados como Doce de Mãe (2014), na pele de Carolina, e Assédio (2018), ao interpretar a jornalista Mira. Em outubro, com a estreia da série Bom Dia, Verônica, na Netflix, a atriz impressionou – e irritou – o público como a delegada Anita.
Natural de Nova Prata, Elisa, que mora em São Paulo, está envolvida em um novo trabalho, a segunda temporada da série Aruanas, da Globo e Globoplay, cujas gravações serão retomadas em janeiro. Ela vai viver uma ativista que volta ao Brasil depois de passar um tempo na Europa. Enquanto não retoma o projeto, ela se dedica à divulgação do curta-metragem E Se Fossem Crianças?. Neste bate-papo, Elisa conta como foi seu ano e, é claro, relembra um pouco sua infância e adolescência em terras gaúchas.
Sua personagem em Bom Dia, Verônica é o contraponto ao papel de Tainá Müller e chega a ser uma figura odiada pelo público. Como foi sua preparação para viver a delegada Anita?
Visitei o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo junto da autora da série, a Ilana Casoy. A Ilana é uma criminóloga, já circulou muito por esse ambiente da Polícia Civil. Então, ela me falou um pouco sobre o lugar que as delegadas ocupam, como se vestem, sobre a postura delas no trabalho. Contou algumas histórias que foram preenchendo meu imaginário. E eu pude ver com meus próprios olhos durante essa visita, pude conhecer quatro delegadas, nessa ocasião, e conversar bastante com elas. Além disso, fiz um trabalho com o preparador de elenco, Sergio Penna. Fiz também minha pesquisa individual, fui juntando todas essas informações e experimentando a energia da Anita no meu corpo ao estudar as cenas propriamente ditas.
Como tem sido a repercussão desse trabalho em Bom Dia, Verônica, apontado como fundamental na luta contra a violência de gênero e o machismo?
Tem sido incrível, pois a série consegue fazer uma denúncia social da maior importância por meio de uma história de crime e investigação. Acho que esse é um dos trunfos da série: trazer a discussão real e uma consequente tomada de consciência para o grande público.
Tanto em Bom Dia, Verônica quanto na série Assédio, são abordados temas difíceis. Como foi para você o preparo psicológico para se jogar em papéis com essa forte carga dramática?
Eu costumo dizer que a Mira, de Assédio, tem muito de Verônica. Foi uma personagem que exigiu muito de mim. Eu precisava estar com a energia lá em cima, puxando o barco. Pois ela encabeça a investigação, é ela quem toma a frente, quem acredita na história daquelas mulheres quando ninguém está dando bola. Igual a Verônica. Além disso, tinha a responsabilidade de estar lidando com histórias reais e, pela primeira vez, colocando foco nas vítimas e não no agressor. Anita exigiu de mim no sentido de ter de retratar o machismo que respinga nas atitudes das mulheres. Isso existe e é triste, pois as mulheres que agem assim também são vítimas de um sistema. Elas estão reproduzindo aquele único comportamento masculino que foram acostumadas a ver. Não conhecem outro. Para você ver como o machismo é estrutural e afeta a todos nós enquanto sociedade.
Quais são as melhores lembranças que você tem do Rio Grande do Sul? Consegue vir ao Estado com frequência?
Gostaria de ir mais. Procuro estar aí, ao menos uma vez ao ano, no Natal, com minha família, que mora no Interior (Nova Prata). Mas tenho também muitos amigos em Porto Alegre. Então, fico dividida quando eu vou: quero ir para Nova Prata ver a família, mas também curtir os amigos na Capital. Tenho lembranças ótimas dos passeios pelo centro de Porto Alegre, da Casa de Cultura Mário Quintana, por exemplo. Como eu amo esse lugar. Ele reúne tudo o que eu mais gosto – teatro, cinema, literatura, aulas, oficinas e exposições... E do Interior, eu tenho saudade dos passeios pelo Vale dos Vinhedos e pelo Caminho das Pedras. Já levei vários amigos de São Paulo para lá. Eles ficam impressionados com a beleza da paisagem.
Como foi sua rotina durante o período de isolamento social?
Foi um período de introspecção. Eu li muito, repensei muitas coisas, principalmente os meus privilégios. A gente teve tantas possibilidades, enquanto teve gente que não podia não sair de casa para trabalhar... Depois de um tempo, comecei a ficar mais ativa e até gravei um curta dentro de casa. Foi um convite do diretor André Gustavo, da (produtora) O2, que idealizou um projeto chamado Crônicas da Pandemia, que envolve vários curtas-metragens gravados com celular, dentro da casa dos atores, cada um com uma temática diferente relacionada ao momento de isolamento. Meu companheiro, Guto Portugal, que é roteirista e dramaturgo, escreveu o roteiro. Gravamos aqui, com os recursos que a gente tinha, sendo dirigidos pelo André por videochamada. O curta se chama E Se Fossem Crianças? e está disponível no meu IGTV no Instagram (@evolpatto). O resultado foi superlegal.
Qual você acha que será a grande lição que a humanidade deve tirar do que está acontecendo?
Foi um momento de desacelerar e pensar. Estamos esgotando o planeta em todas as suas possibilidades. Se não usarmos essa lição para pensarmos em um mundo sustentável, não terá adiantado de nada essa pausa, pois eu vejo essa pandemia como uma resposta do planeta à forma como utilizamos os seus recursos naturais. Se o ar ficou mais limpo com menos carros na rua, talvez seja a hora de repensar a utilização do petróleo como fonte de energia. Não só nos automóveis, mas nas grandes indústrias que usam o petróleo como matéria-prima. A segunda temporada da série Aruanas, do Globoplay,da qual participo, vai tratar disso.