Em 1980, o cientista Carl Sagan (1934-1996) mostrou ao mundo que era possível cativar o público falando de ciência com Cosmos. Com 13 episódios que exploravam as fronteiras do universo, a série foi pioneira no uso de efeitos especiais e metáforas, como a Nave da Imaginação e o Calendário Cósmico, para explicar a natureza. E entrou para a história como uma das produções mais famosas do gênero, vista por quase 500 milhões de pessoas, em mais de 60 países.
Quarenta anos depois, com uma pandemia sem precedentes em curso e avanços tecnológicos constantes, nunca falamos tanto de ciência — apesar de também crescerem as vozes que a negam. É neste cenário que o clássico retorna às telas com Cosmos: Mundos Possíveis, que estreia neste sábado (6), às 22h30min, no National Geographic.
É a segunda vez que o astrofísico Neil deGrasse Tyson conduz a produção, após o remake de grande sucesso de 2014, Cosmos: Uma Odisseia do Espaço-Tempo. O objetivo segue apresentar uma visão abrangente do mundo a partir da ciência, com cenas que transitam de colisão de galáxias até os tempos modernos, costurando a jornada de forma não linear pelo espaço-tempo.
Desta vez, no entanto, há mais. Já na abertura de Mundos Possíveis é resgatada a voz do próprio Sagan em um de seus mais famosos discursos, sobre um pálido ponto azul no horizonte. "A fronteira", lembra ele, "era todos os lugares. Éramos limitados pela terra, pelos oceanos e pelo céu. E a estrada aberta ainda nos chama suavemente, quase como uma canção esquecida da infância".
Em sua visão, no futuro já não estamos mais aqui. A humanidade encontrou formas de desbravar o espaço e colonizar novos mundos. "Apesar das nossas limitações e falhas, nós humanos somos capazes de grandeza", sentencia. É este o futuro que Cosmos decide defender, falando sobre a tecnologia que a ciência já conhece e sobre aquela que ela sonha. São avanços que surpreenderiam até Einstein, destaca deGrasse Tyson, conjecturando sobre a possibilidade de cientistas manipularem ondas gravitacionais como fazem com eletromagnéticas. E dai, quem sabe?
— É tão impossível de visualizar o que virá, como a nossa realidade foi para os cientistas que testavam a eletricidade no século 19 — compara o astrofísico.
Mas Cosmos tenta mesmo assim.
Uma ode à ciência
Uma jornada intergalática não é banal. Para falar de um tema tão amplo, Cosmos toma proporções gigantescas. Os novos episódios foram gravados em 19 locações, espalhadas por 11 países. Da África do Sul, onde visita o sítio arqueológico Caverna Blombos — lar dos primeiros desenhos deixados por homo sapiens —, deGrasse Tyson vai até a Amsterdã dos dias de hoje para relembrar os grandes cientistas que passaram por lá.
Para ilustrar as palavras do astrofísico, animações em diferentes estilos são utilizadas ao longo dos capítulos. Há ainda viagens no mundo microscópico e momentos de computação gráfica que transformam até o Deserto de Atacama, no Chile, em ponto de partida de uma missão espacial.
É uma superprodução criada para exaltar o cosmos e, principalmente, a capacidade da ciência de explicá-lo. Não à toa, o herói do capítulo de estreia é Espinoza, o cientista que acreditava que as Leis da Natureza eram o único milagre real. E que, mesmo após atacado por religiosos, seguiu com seus métodos, ostentando até a capa rasgada por seus inimigos.
A defesa dos cientistas não é acidental. Ann Druyan, viúva de Sagan e coautora da série, além de produtora executiva e roteirista, falou sobre sua esperança de que a ciência guie as pessoas, em entrevista a National Geographic:
— Parecemos uma civilização de zumbis que parece não querer acordar para que possamos nos salvar, salvar o nosso futuro, proteger os nossos filhos e netos… Neste período de quarentena devida ao vírus, as pessoas começaram subitamente a ouvir os cientistas e a levar finalmente a sério aquilo que eles dizem. E a minha esperança é que façam o mesmo com os avisos que eles andam a fazer há cerca de 20 anos acerca do aquecimento global [...] Que este seja o momento para despertarmos, para começarmos a pensar seriamente e para começarmos a viver de acordo com a escala de tempo dos cientistas.