— Foi um processo muito doloroso, mas eu saí muito melhor como pessoa.
Assim resume Matheus Leitão ao comentar sua investigação para localizar os torturadores de seus pais durante a ditadura militar. Já relatada em um livro, a história agora também será mostrada nas telinhas em uma série documental de quatro episódios. Em Nome dos Pais estreia nesta quarta-feira (4), às 20h, no canal por assinatura HBO Mundi, para contar com detalhes o passado dos jornalistas Miriam Leitão e Marcelo Netto, que já não formam mais um casal, e fazer um resgate de um período de repressão no Brasil.
A ideia de transformar a história em série veio durante a escrita do livro de mesmo nome, como contou Matheus em entrevista a GaúchaZH. Por isso, vários depoimentos colhidos para a obra também estão na produção. Porém, para adaptar a trama à TV, foi necessário uma contextualização visual do período.
— Eles precisaram contextualizar o período da ditadura com outras entrevistas, como historiadores, por exemplo. Mas eles fizeram uma coisa muito interessante de usar imagens da época para contar como era aquilo que estava acontecendo no Brasil naquele momento, como propagandas que o governo fazia para justificar o golpe e a perseguição aos comunistas — revelou o jornalista.
Além de um frente a frente com o delator e com um dos torturadores, há também depoimentos de personalidades da política brasileira, como do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e de Jair Bolsonaro, deputado federal na época das gravações.
— Em alguns momentos foi complicado para mim, porque eles ficavam me filmando e eu me emocionei. Tiveram pessoas que me pediram perdão durante as gravações e eu tinha que decidir naquele momento se perdoava ou não — lembrou Matheus Leitão.
Busca da verdade
Apesar de ser uma história familiar, a série também traz à tona as experiências traumatizantes vividas por milhares de brasileiros nos porões da ditadura. Na época militantes do PCdoB, Miriam e Marcelo foram presos e torturados na década de 1970 por serem contra o regime militar. Em 2014, a jornalista revelou em uma entrevista que foi espancada, deixada nua, sem água e comida enquanto estava grávida. Além disso, foi trancada em uma cela escura com uma jiboia.
Para Matheus Leitão, muito além de ser uma questão pessoal, sua investigação também ajuda a mostrar o que realmente aconteceu no Brasil nesse período, como se fosse um canal de combate à fake news.
— Esse documentário e esse livro são importantes para combater essa narrativa mentirosa que foi reforçada na eleição de 2018. Esse documentário é mais um que mostra a realidade. É importante que a sociedade saiba que o que realmente aconteceu em um momento em que a ditadura é louvada. É lamentável que a gente viva com pedidos de volta dos militares ao poder, nós já vivemos isso e vimos que não é nada bom — explicou o jornalista, que ainda concluiu:
— Meus pais nunca pegaram em armas e foram barbaramente torturados. A maioria daqueles que lutaram contra a ditadura não pegaram em armas. Era apenas um grupo de estudantes tratados pelos militares como extremamente perigosos.
Em Nome dos Pais foi produzida por Roberto Rios, Patricia Carvalho e Rafaella Gianinni, da HBO Latin America, e Gustavo Mello, da Boutique Filmes, que também assina a direção. Os quatro episódios são semanais e possuem uma hora de duração cada. Ainda não há informações se a série será disponibilizada no HBO Go, serviço de streaming do canal.