A reprise de novelas nas quatro principais faixas horárias da Globo – praticamente ao mesmo tempo – será um fato inédito na história da teledramaturgia brasileira. Pela primeira vez, também a linha de produção de folhetins da emissora foi totalmente paralisada devido à pandemia de coronavírus, o que exigiu as reprises para preencher os buracos na grade de programação.
Fina Estampa é a primeira a voltar à telinha, a partir das 21h de desta segunda-feira (23). A atração exibida em 2011, de autoria de Aguinaldo Silva, entra no lugar de Amor de Mãe, que esgotou sua frente de episódios inéditos no último sábado.
Na próxima segunda-feira (30), será a vez de Totalmente Demais (2015) preencher o espaço deixado pela atual novela das 19h, Salve-se quem Puder e Novo Mundo (2017) será revista na faixa das 18h, com o término de Éramos Seis na próxima sexta (27), que teve suas cenas finais gravadas em apenas dois dias.
A única reprise ainda sem data para ir ao ar é a de Malhação: a temporada atual, Toda Forma de Amar, terá seu final antecipado de maio para abril. Em seu lugar, entrará Malhação: Viva a Diferença, exibida entre 2017 e 2018.
No entanto, o recurso das reprises diante de razões excepcionais já ocorreu antes na Globo, nas décadas de 1970 e 1980, em razão de censura, morte de um ator e greve. Veja abaixo.
SELVA DE PEDRA
Estava tudo pronto para que Roque Santeiro, de Dias Gomes, fosse ao ar em 27 de agosto de 1975. No dia da estreia, porém, a produção foi censurada pela ditadura militar. Às pressas, um compacto de Selva de Pedra (1972), de Janete Clair, foi colocado na extinta faixa das 20h. A reprise durou três meses. A Globo pediu à autora que escrevesse outro folhetim para entrar no horário e assim nasceu Pecado Capital (1975), que acabou se tornando um dos principais sucessos da carreira de Janete e da teledramaturgia brasileira. Roque Santeiro acabou sendo produzida 10 anos depois e, finalmente, levada ao ar.
O BEM-AMADO
Em janeiro de 1977, novamente a censura não permitiu que Despedida de Casado, novela de Walter George Durst, fosse exibida na faixa das 22h. Foi escolhida para seu lugar a primeira novela em cores da televisão brasileira: O Bem-Amado (1973). O público teve a oportunidade de rever o icônico personagem Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), prefeito de Sucupira, por cinco meses. Em junho do mesmo ano, estreou Nina, do mesmo autor e com o mesmo elenco do folhetim impedido de ir ao ar.
O CASARÃO
A morte do ator Jardel Filho, em 1983, abalou a equipe de Sol de Verão, novela da faixa das 20h. A Globo chegou a fazer uma pesquisa com o público para saber se deveria dar continuidade à produção. Apesar da maioria dos entrevistados achar que a novela tinha que ficar no ar, o autor Manoel Carlos decidiu colocar um ponto final na trama. Os últimos 17 capítulos foram escritos e gravados às pressas. O problema é que sua substituta, Louco Amor, de Gilberto Braga, ainda não estava pronta. A solução encontrada foi reprisar O Casarão (1976), de Lauro César Muniz, que foi compactada em 30 capítulos até a estreia da nova trama.
LOCOMOTIVAS
Uma greve de atores e técnicos no Rio de Janeiro, em 1986, fez com que as gravações da novela Direito de Amar, de Walther Negrão, atrasassem três meses. O folhetim estava escalado para entrar no lugar de Sinhá Moça, de Benedito Ruy Barbosa, que terminou em novembro daquele ano sem uma substituta na faixa das 18h. Por conta da paralisação, a Globo precisou reprisar Locomotivas (1977), primeira novela gravada totalmente em cores para o horário das 19h. Curiosamente, Locomotivas e Sinhá Moça tinham como protagonista a atriz Lucélia Santos.