Quem acompanha de perto a teledramaturgia já deve ter percebido que muita coisa mudou. As mocinhas estão mais empoderadas e tomam as rédeas das próprias vidas, nem sempre precisando apelar para um herói salvador. Aliás, as protagonistas de novela passaram por tantas modificações ao longo dos anos que, em algumas tramas, dão espaço para companheiras de cena brilharem tanto quanto elas. Apostar em trios de protagonistas, não só em uma personagem central, vem se tornando cada vez mais frequente na telinha. Quem sai ganhando é o público, que pode escolher suas favoritas (ou simpatizar igualmente com as três), assistir a amores, encontros e desencontros de tipos cada vez mais humanos. Tri legal isso, né?
Confusão em dose tripla
Das quatro tramas atuais da Globo, duas apresentam protagonismo dividido por três. Em Salve-se Quem Puder, o trio Alexia (Deborah Secco), Kyra (Vitória Strada) e Luna (Juliana Paiva) divide as cenas, soma talento e multiplica confusões, movimentando a história.
Após testemunharem um assassinato, as moças vivem escondidas com novas identidades: Josimara, Cleyde e Fiona, respectivamente. Novas vidas, mas as mesmas personalidades.
Com qual simpatiza?
Alexia é a comilona, impulsiva e "mãezona" do trio. Kyra derruba o que estiver pelo caminho, mas é um doce de pessoa e chega a ser ingênua. Luna, não à toa, costuma ser chamada de "mascotinha" pelas amigas — afinal, tem aquele ar de quem precisa ser protegida.
Com três atrizes tão diferentes em cena, seria de se esperar que uma se sobressaísse, certo? Não necessariamente. Com tipos tão distintos, cabe ao público ter empatia com quem bem entender.
Mãezonas em ação
Já no horário nobre, uma figura materna seria pouco para mensurar o que representa o legítimo Amor de Mãe. Por isso, Lurdes (Regina Casé), Thelma (Adriana Esteves) e Vitória (Taís Araujo) mostram, cada uma a seu jeito, o quanto o sentimento materno é intenso.
É inegável enxergar em Lurdes a personagem mais humana e com quem o público pode se identificar mais facilmente. Mas, por outro lado, há um pouco de Thelma e Vitória em cada mãe que todos nós conhecemos por aí.
A possessividade, beirando a loucura, da mãe de Danilo (Chay Suede) não é só coisa de novela. Há muitas Thelmas capazes de se tornar invasivas em seu jeito meio torto de amar.
Já com Vitória, a identificação vem se dando aos poucos. Se, no início da trama, boa parte dos telespectadores torcia o nariz para a arrogância da advogada, agora, ela vive uma fase muito mais realista de sua trajetória.
Sem emprego, com dois filhos pequenos, faz malabarismos para equilibrar as contas. E, apesar dos sacrifícios, é cobrada por não estar tão presente como gostaria na vida das crianças. Mais real impossível!
Identificação imediata
E Lurdes? Ah, a lista de atributos da "maternidade real", no caso da nordestina, é imensa. E se faz dos detalhes, desde o jeito de falar, crendices, falta de filtro na hora de dizer o que pensa, até a inseparável toalhinha que traz pendurada na bolsa. Quem não enxerga um pouco da mãe, avó, tia, ou de si mesma nessa personagem?
A força feminina: como não amar?
A autora Gloria Perez acertou em cheio ao escalar Paolla Oliveira, Juliana Paes e Isis Valverde para a mesma trama, sem que uma ofuscasse a outra. Jeiza, Bibi e Ritinha possuíam histórias muito diferentes, mas mantinham a mesma postura empoderada.
Tanto que chegaram a se enfrentar em várias cenas da novela A Força do Querer (2017). Apesar de ter desviado do bom caminho, flertando com a bandidagem, Bibi Perigosa (Juliana) mereceu seu final feliz.
O mesmo ocorreu com a volúvel sereia (Isis), que só queria ser livre, sem amarras.
A mais linear era Jeiza (Paolla) e não à toa, foi eleita a grande heroína entre as três.
Irmãs bem diferentes, mas muito unidas
O clima praiano tomou conta do horário das 19h entre setembro de 2008 e abril de 2009, em Três Irmãs. Na fictícia Caramirim, as histórias principais giravam em torno dos amores, afetos e desafetos das manas Dora (Cláudia Abreu), Alma (Giovanna Antonelli) e Suzana (Carolina Dieckmann), tão diferentes, mas sempre juntas pelo forte sentimento que as unia.
O trio principal tinha como inimiga Violeta Áquila (Vera Holtz), uma megera típica, com direito a figurino em tons escuros, destoando do clima leve dos demais moradores.
Mas o elenco talentoso e o cenário paradisíaco não foram suficientes para garantir o sucesso da trama, que teve uma repercussão abaixo do esperado.
Trio juvenil para delírio da gurizada
Até mesmo a tradicional novelinha Malhação já apostou em um trio de protagonistas. Na 14ª temporada da trama adolescente, em 2007, a clássica fórmula "casalzinho principal + vilões" foi quebrada por uma novidade.
Três meninas encabeçavam o elenco: as amigas Marcela (Thaila Ayala), Vivian (Fiorella Mattheis) e Cecília (Maria Eduarda Machado). Cada uma tinha sua própria história de vida, par romântico e desafetos, sem que o trio pendesse apenas para um lado só.
Vida de empreguete
Um dos maiores sucessos da TV nos últimos anos, além de ter sido uma trama pioneira ao unir conteúdo digital e os capítulos da novela, Cheias de Charme (2012) colecionou méritos. Mas, é claro: não seria um sucesso estrondoso não fosse o trio de empreguetes mais querido de todos os tempos!
Penha (Taís Araujo), Rosário (Leandra Leal) e Cida (Isabelle Drummond) viviam uma rotina dura, de humilhações, dinheiro contado no final do mês e pouco reconhecimento pelo trabalho de doméstica. Até que, como em um passe de mágica, uma brincadeira na casa da patroa Chayene (Cláudia Abreu) alçou as meninas ao estrelato.
Que jogue o primeiro esfregão quem nunca cantarolou: "Levo vida de empreguete/ Eu pego às sete! / Fim de semana, salto alto / E ver no que vai dar".
As Marias e um crime misterioso
Maria José (Gloria Pires), Maria Augusta (Nádia Lippi) e Maria da Glória (Maitê Proença) encabeçavam As Três Marias (1980). Na novela da Globo, as três amigas de infância se reencontram anos depois, envolvidas em um misterioso crime.
É preciso coragem
Apostar em três personagens principais não é uma opção inovadora, tampouco recente na teledramaturgia. Pioneira no gênero "novela para toda a família", Irmãos Coragem (1970) contava a trajetória dos manos João (Tarcísio Meira), Jerônimo (Cláudio Cavalcanti) e Duda (Claudio Marzo). A novela, escrita por Janete Clair (1925 – 1983), ficou por mais de um ano no ar!
Em 1995, ganhou remake adaptado por Dias Gomes (1922 – 1999), com Marcos Palmeira (João), Ilya São Paulo (Jerônimo) e Marcos Winter (Duda) nos papéis principais.