O apresentador do Jornal Hoje, Dony de Nuccio, 35 anos, pediu demissão da Globo nesta quinta-feira (1°) após a revelação de que havia recebido mais de R$ 7 milhões, em dois anos, para produzir conteúdo para o Banco Bradesco.
Sua saída ocorre dois anos depois de assumir a bancada no lugar de Evaristo Costa, em 1º de agosto de 2017. Em carta enviada ao diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, De Nuccio reconhece que contrariou o código de conduta dos jornalistas ligados à emissora.
"Nas últimas semanas me vi mergulhado em uma infindável onda de ataques, com a vida dentro e fora da Globo vasculhada e revirada, sigilos fiscais violados, endereços expostos, trabalhos de exclusiva veiculação interna publicados, e até e-mails privados hackeados", disse De Nuccio, em carta enviada a Kamel.
De acordo com reportagem do jornalista Daniel Castro veiculada no portal Uol, De Nuccio participava de eventos institucionais em vídeos, road shows telepresenciais, cartilhas e palestras para a instituição financeira. A reportagem mostrou ainda uma troca de e-mails entre o apresentador e o Bradesco no qual o âncora negociava valores com a instituição financeira. O jornalista estaria negociando um novo contrato que geraria uma receita de mais de R$ 60 milhões em três anos.
"Quanto mais perto estamos do topo da montanha, mais forte é o vento. E é esperado que seja assim. Mas essa contínua campanha para me destruir e sangrar a qualquer custo não pode prosperar. Não faz bem nem a mim, nem à minha família e nem à emissora. Não é justo com nenhum de nós. Por esse motivo, embora com aperto no coração, solicito meu afastamento do telejornalismo", argumenta De Nuccio na carta.
Ele diz ainda que pede seu desligamento da emissora com o espírito leve e com a consciência tranquila. "Jamais tive o intuito de burlar regras ou obter benefício que julgasse incompatível com as funções que ocupava na emissora (isso sim, seria incompatível com a minha história pessoal). Trabalhei, duro e dobrado, para complementar a renda, fora do horário da Globo, e dentro dos limites que ao meu ver eram compatíveis e aceitáveis. Se errei, não foi com dolo, e humildemente peço desculpas."
Há 30 anos na Globo, Kamel respondeu à carta dizendo acreditar que De Nuccio não tenha agido com dolo, mas que aceitaria o pedido de demissão por ser "o melhor caminho a seguir". "Agradeço sua carta honesta e transparente. Aceito o seu pedido de demissão com pesar mas, assim como você e pelas razões que você aponta, com a certeza de que é o melhor caminho a seguir. Entendo que é absolutamente sincero quando afirma que não agiu com dolo, e esta carta é uma prova eloquente disto. Nossa longa conversa de hoje cedo permitiu que eu entendesse as suas motivações e você entendesse as razões da Globo. Agradeço os anos em que trabalhou na Globo, que você descreveu tão bem. E o seu empenho e a sua dedicação", escreveu o diretor de jornalismo.
Dony de Nuccio entrou na emissora em 2011 e passou por vários telejornais. Ele foi repórter do Bom dia São Paulo, SPTV e Jornal da Globo. Além disso, também foi comentarista de economia do Hora 1 (Globo) e apresentador do programa Conta Corrente, da GloboNews.
Confira o comunicado da Globo:
A direção de Jornalismo da Globo informa que foi procurada por alguns de seus jornalistas que relataram que foram contratados por terceiros para participação em eventos institucionais gravados em vídeo, mas sempre com proibição expressa de que as imagens fossem veiculadas ao público externo ou a clientes. Em alguns casos, a participação se deu com autorização da Globo por não ferir as políticas atuais da empresa. Em outros casos, a participação foi inadequada, mas sem má-fé. Todos informaram que não possuem empresas prestadoras de serviços de marketing, assessoria de imprensa ou de projetos de comunicação empresarial. A Globo, ciente agora de que persistem em algumas dúvidas sobre como agir diante de convites, informou que em breve um comunicado reiterará o que é proibido e o que não é, em detalhes, levando em conta a era digital em que vivemos.