É tempo de transgressão. Mais de seis décadas depois de Juventude Transviada (1955) conquistar o público com o charme do encrenqueiro James Dean, as obras para o público adolescente seguem apostando na rebeldia, com ou sem causa. Não é diferente em Euphoria, nova série da HBO que estreou no último domingo (16), com produção executiva do rapper Drake, na qual as lentes não se esquivam do universo de ansiedade, redes sociais, sexo e drogas da juventude do século 21.
Na história criada por Sam Levinson - que também assina o roteiro, inspirado na série israelense homônima -, Zendaya Coleman deixa os tempos de estrela da Disney para trás para interpretar Rue, uma jovem de 17 anos que sofre inúmeros distúrbios mentais: transtorno obsessivo compulsivo, ansiedade, síndrome do pânico e mais, e só encontra "silêncio" ao se drogar. Ainda nas primeiras cenas, depois de uma temporada em um clínica de reabilitação, a primeira parada da jovem após o reencontro com a família é com seu traficante.
Além de protagonista, Rue é a responsável pela narração dos capítulos, em mais um paralelo com a controversa série 13 Reasons Why, da Netflix, que da mesma forma buscou abordar os dramas juvenis de forma crua, mas foi duramente criticada pelas cenas que poderiam ser um gatilho emocional para parte da audiência. Em Euphoria, contudo, a garota admite não ser a narradora mais confiável, deixando claro que aquela é sua visão sobre os acontecimentos. "Vocês devem me odiar agora", lamenta em certo momento do episódio piloto, enquanto o sofrimento de sua mãe e irmã são evidentes, com as fortes imagens da última overdose de Rue aparecendo em um flashback.
Mas esta não é a história de uma garota só. Logo a atenção da protagonista se divide entre sua trajetória e Jules, a garota nova na cidade, interpretada pela modelo transexual Hunter Schafer — conhecida também por seu ativismo nas causas LGBT+. As duas desenvolvem uma ligação íntima instantaneamente, também pela forma como nenhuma delas parece se encaixar perfeitamente no ambiente ao seu redor.
Não que os outros jovens em cena estejam tranquilos. Todos parecem orbitar entre a insegurança e o desejo de encontrar aceitação e popularidade, com um enfoque especial ao papel da tecnologia — da forma como as garotas são julgadas por vídeos íntimos, os famosos "nudes", o acesso rápido e simples a pornografia.
Boicote
Atrativa especialmente para os jovens, a série traz cenas de sexo explícito e uso de drogas. Essa abordagem vem gerando polêmica desde antes da estreia, mas agora uma associação de pais dos Estados Unidos chegou a pedir o cancelamento do seriado para a AT&T, grupo que controla emissoras como a HBO.
O Conselho de Pais da TV norte-americana alega que está preocupado com o conteúdo que está sendo exibido na TV. "A HBO, com seu novo programa centrado no ensino médio, parece estar publicamente e intencionalmente comercializando conteúdo adulto extremamente gráfico (sexo, violência, e uso de drogas) aos adolescentes e pré-adolescentes."
Antes do pedido, o presidente de programação da emissora, Casey Bloys, já havia falado sobre o tom do seriado e defendeu o ponto de vista da narrativa por reproduzir nas telas acontecimentos que adolescentes vivem na realidade. "Euphoria não é para todos. Inevitavelmente, as pessoas falam, mas não é sensacional ser sensacional. Pode parecer um empecilho a ideia de reproduzir isso na TV, mas alguém os viveu", destacou.
Até o momento, a série de oito episódios segue normalmente prevista para ir ao ar às 23h de domingo, na HBO. Os capítulos também ficam disponíveis no HBO Go, a plataforma de streaming da companhia.