Gaúcho que é gaúcho de verdade sabe que uma boa festa de aniversário tem que ser em família. Tem que reunir os parentes que vêm de longe, ter um bolo com velinhas, roda de chimarrão, muita música e – por que não?! – apresentar a chegada de um novo membro para aquecer os corações.
Não seria diferente com o Galpão Crioulo (RBS TV, às 5h44min), que completa 37 anos neste domingo (28) e ganha uma edição comemorativa repleta de convidados especiais. Como se não bastasse a celebração de um dos programas regionais de maior longevidade da TV brasileira como motivo, Shana Müller, 39 anos, traz outra razão para comemorar: ela aproveita a data para passar o bastão do comando do Galpão à cantora Analise Severo, 44 anos.
Nos próximos seis meses, a artista gaudéria apresenta a atração ao lado de Neto Fagundes, enquanto Shana curte o nascimento do segundo filho, Francisco, previsto para vir ao mundo em maio.
– É um tempo necessário para mim, onde meu foco precisa estar. Eu confio muito na Analise e preciso curtir este momento que é muito importante para o pequeno e para mim mesma – conta Shana, amiga de longa data da sua substituta.
A mamãe de dois guris, frutos do seu casamento com o médico Juliano Chibiaque, 39 anos, ainda completa:
– A vida tem que ter este espaço. É um processo essencial e forma laços para a vida toda. Gonçalo (o seu primeiro filho, dois anos e sete meses) chamava a mãe pela TV nos primeiros meses de vida.
As duas colegas de apresentações em CTGs por todo o Estado se conheceram em uma das primeiras edições do Festival Um Canto Para Martin Fierro, no início dos anos 2000, quando Shana estreou em sua primeira transmissão como âncora no rádio. Desde então, a dupla confia muito no trabalho uma da outra a ponto de conversar sobre diferentes aspectos de suas vidas.
– Tem a personalidade dela, a identidade e confio muito no trabalho dela. O resto, a gente aprende fazendo.
A Analise conhece muito da nossa cultura e as pessoas do nosso meio gaudério. Ela realmente surgiu porque é uma guria que tem conteúdo – afirma Shana sobre a sua substituta.
Laços fortalecidos
Neste domingo, além do “ritual” de passagem entre as comadres, o Galpão Crioulo receberá Luiz Marenco, Aninha Pires e Adriana Sperandir. Para dividir a cuia de chimarrão durante a atração, Os Serranos também marcam presença por um motivo especial: o grupo se apresentou na primeira edição do Galpão, em abril de 1982.
Aliás, a história de Os Serranos, que teve início em 1969, está fortemente atrelada à atração da RBS TV. Segundo os irmãos Edson e Everton Dutra, um dos momentos mais marcantes do grupo foi durante o lançamento do disco Mercosul de Canções, em 1996. Foi quando a iluminação do Galpão especial na TV e do show de estreia do álbum, no Auditório Araújo Viana, tiveram a mesma estrutura.
– Nos sentimos em casa e sempre estamos bem à vontade, pois, para nós, é um reencontro de amigos. Estreitamos laços desde o começo. Qualquer novidade, nós trazemos aqui, em primeira mão – conta Edson.
Além disso, serão relembrados marcos na linha do tempo do Galpão. O grupo Os Fagundes pega carona no quadro De Mala e Cuia e parte para um passeio pelos jardins do DMAE, em Porto Alegre.
Já no Cozinha de Galpão, Shana e Neto são os convidados de El Topador em um almoço cheio de recordações. O programa ainda terá outra novidade: ganhará, em média, mais meia hora de duração, e irá de quatro para cinco blocos com mais tempo para a música regional gaúcha. Já o Compartilhe RS que, ia ao ar aos domingos, reforçará o menu do Jornal do Almoço.
Renovado, mas fincado em suas raízes
A partir do domingo que vem, Neto Fagundes segue no comando do Galpão ao lado de Analise. Desde que foi incumbido da missão, ao receber a apresentação do tio Nico Fagundes (1934 – 2015), o cantor gaudério é um símbolo do quanto o programa se preocupa em manter suas raízes.
Para a gerente de programação da RBS TV, Alice Urbim, algumas mudanças só colaboraram para o sucesso do programa.
– Acompanhei todo esse processo, e ele (o Neto) traz a coisa familiar. Nós sempre procuramos deixar ele à vontade. Foi legal essa transição, da história dos dois (de Nico para Neto) e, depois, com a chegada da Shana Müller – acredita Alice.
Para os próximos meses, a coordenadora antecipa que o programa continuará com a missão de valorizar a música regional e a cultura gaudéria em diferentes formatos. Novos quadros e um espaço para a memória – recuperando artistas e outros gaúchos que já passaram pelas quase quatro décadas de Galpão – estão nos planos da produção.
Com visualizações também pelo Globoplay, o Galpão Crioulo é uma forma de todo o mundo seguir conectado com a sua terra. Segundo Alice, até telespectadores da China acompanham a atração dominical pelas plataformas digitais.
– Nos orgulhamos de ser a marca que está na mente dos gaúchos, de todas as querências. Gaúcho desgarrado é o que mais tem. Então, somos a forma de ele se conectar com esse território. Estamos sempre de portas abertas – finaliza Alice.
Analise Severo: “É um verdadeiro presente dela para mim”
Analise Severo, 44 anos, substituirá Shana Müller até outubro deste ano. Também cantora de música regional, há mais de 20 anos, a artista fará a sua estreia oficial no comando do Galpão do dia 5 de maio. Natural de Santa Maria, Analise é radialista e cantora de música gaudéria há mais de 20 anos. Tem cinco CDs no currículo e um EP.
Seu último trabalho musical foi em dobradinha com Jean Kirchoff, parceiro de vida e trabalho. Intitulado A Gente Faz o que Gosta, foi lançado em 2015, em Portugal e no Rio de Janeiro.
E o público já pode se preparar para o seu próximo projeto. Intitulado Bem Gaúcha, o EP conta com canções sobre a representatividade da mulher na sociedade e está em processo de finalização. Deve ser lançado ainda no primeiro semestre.
Como está o coração ao assumir o comando do Galpão com o Neto?
Estou muito emocionada, porque sempre me senti representada pela Shana, e é incrível estar ao lado do Neto Fagundes, que é uma figura tão emblemática para todos nós. É uma honra, um verdadeiro presente dela para mim. Participar do Galpão é como estar em casa. Sempre acompanhei desde pequena e já participei como cantora.
E como está a preparação para esta estreia?
Estou estudando mesmo o programa. Apesar de ser dos CTGs, é um outro processo aqui, porque tem a interação com a câmera, com o próprio Neto. Então, é entender essa estrutura mais “jornalística”. O Galpão tem uma série de pequenos detalhes. Quero deixar isso mais natural para mim. Se tiver alguma dúvida, a Shana já disse que o WhatsApp está aí para isso (risos).
Além do Galpão, em que outros projetos estás envolvida?
Estou preparando um EP (intitulado Bem Gaúcha) que traz músicas alegres sobre a representatividade feminina dentro da cultura gaudéria. Está sendo produzido desde março e deve ser lançado muito em breve. As letras falam sobre o que as mulheres desejam que seja cantado dentro do estilo, englobando a igualdade, a sociedade e outras questões.
A cultura gaudéria está mais aberta às mulheres?
Há muita sororidade (união entre as mulheres). Existe uma força para mudar tudo isso. Nós, como apresentadoras e cantoras de CTG, temos a missão social de ajudar nessa mudança. Não estamos aqui para nos mostrar e ficar nos bajulando o tempo todo que estamos lindas. Temos a vida real, temos de lutar sempre. Acredito que (eu e a Shana) buscamos incentivar essa transformação da sociedade em tudo o que fazemos.