Não se pode negar que a história da atual trama das 19h é inovadora e interessante. Uma família do século 19 é vítima de um naufrágio, todos ficam congelados em blocos de gelo por 132 anos e despertam, milagrosamente, em 2018. O início foi promissor, com ótimas cenas do contraste entre mentes antiquadas diante das novas ideias deste século. Os escravos foram os mais afetados por tantas mudanças, afinal, ainda tiveram que lidar com a recém-adquirida liberdade.
O estranhamento dos personagens diante desta realidade tão assustadora foi o ponto alto da trama. O problema é que, aos poucos, todos se adaptaram, cada um a seu jeito. Até Dom Sabino (Edson Celulari) acabou se adequando ao século 21, sabe mexer em celulares e até ensina o amigo Eliseu (Milton Gonçalves) sobre bitcoins — a moeda virtual. O senhor de escravos virou empresário, se divorciou da esposa e assumiu um romance bem moderno com Carmen (Christiane Torloni), sem oficializar a união ou manter as tradições de sua época.
Clichês
Com os congelados sucumbindo à modernidade, a trama perdeu metade da graça. O tempo parou na novela, com perdão do trocadilho. É um folhetim como tantos outros, com direito aos clichês que permeiam o gênero: teste de DNA falsificado, irmão gêmeo do vilão aparecendo do nada — Emílio morreu e João Baldasserini voltou como Lúcio — e outros "truques" que a teledramaturgia recicla à exaustão. É uma pena, a inovação da trama ficou lá, congelada nos primeiros capítulos.