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Depois de "La Casa de Papel"

"Elite": série da Netflix é um "Gossip Girl" espanhol mal resolvido 

Aposta da plataforma de streaming faz boa reflexão sobre questões relacionadas ao público jovem, mas peca em sua trama

Júlio Boll

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netiflix / divulgação
Nadia (Mina El Hammani), à esquerda, é um dos destaques de "Elite"

Na primeira vez em que Serena Karry Van Der Woodsen (Blake Lively) aparece em cena, na temporada inicial de Gossip Girl, o espectador já percebe que o reino de jovens ricos de Nova York será abalado. Rebeldia, festas caras, traição e namoros são assuntos bem tratados no seriado norte-americano que teve seis temporadas. Numa tentativa de entrar na mesma praia — aquecendo tudo isso com um crime —, Elite, nova aposta da Netflix, até cumpre bem este papel, mas peca ao fazer um suspense mal finalizado. 

O seriado com oito episódios, lançado na última sexta-feira (5), começa com o enredo ousado. Três estudantes de baixa renda - liderados por Samuel (Itzan Escamilla, de As Telefonistas) - ganham bolsas de estudo para a escola mais elitista da Espanha, numa tentativa de compensar o erro de uma construtora em sua instituição de origem. No entanto, logo nas primeiras cenas, iremos descobrir que a investigação de uma morte dentro do colégio será o norteador dos capítulos.

Ao lado de Samuel, estão a palestina Nadia (Mina El Hammani), que irá enfrentar o preconceito de ser obrigada a tirar o lenço muçulmano da cabeça para assistir aulas, e o "engraçadão" Christian (Miguel Herrán, o Rio de La Casa de Papel). Ao lado deles, os dilemas do irmão de Nadia, Omar (vivido pelo estreante Omar Ayuso), que tem dificuldades para aceitar a própria sexualidade em um caso amoroso com Ander (Aron Piper), são alguns dos pontos mais reflexivos de Elite.

Isso mesmo: os personagens secundários são o grande destaque do seriado espanhol. O motivo é Samuel, que passa grande parte da série lutando por seu relacionamento com Marina (María Pedraza, a Alison de La Casa de Papel), e não consegue assumir as rédeas da trama. Ele é insosso. 

Todos os problemas ao redor dos jovens estudantes - incluindo aí o mundo das drogas, a corrupção de famílias ricas para se "manter no poder" e também a aceitação da sua orientação sexual - são muito mais interessantes do que o crime que deveria permear a tensão de todos os episódios.

É claro que o espectador, com o avançar dos episódios, fica curioso em saber como a morte da personagem acontece - e em quais condições -, mas nada que aumenta a expectativa com o caminhar do roteiro assinado pelos espanhóis Carlos Montero (O Tempo Entre Costuras) e Darío Madrona (Génesis). O grande lance de Elite é que, sim, a vida e as nuances dos personagens são muito mais interessantes do que o sangue escorrendo na beira da piscina da instituição de ensino.

Um exemplo claro disso é a namorada de Guzmán (Miguel Bernardeau) - o irmão da protagonista Marina -, a patricinha Lucrecia. Interpretada por Danna Paola, atriz mexicana que ficou popular no Brasil por participações em novelas como A Menina da Mochila Azul e Maria Belém, faria Blair, de Gossip Girl, ficar invejada. Na história, ela luta com posturas ousadas para sustentar sua popularidade como a melhor estudante da escola elitista - ameaçada por Nadia -, além de brigar para manter seu namoro firme com Guzmán com tudo o que pode. 

Por esses elementos todos, maratonar Elite é quase como uma sessão terapêutica para os fãs de Gossip Girl, The O.C. e outros seriados na mesma linha. O desfecho do seriado espanhol - que até tem um quê de surpresa - não decola por ser corrido e deixar, obviamente, uma brecha para uma segunda temporada. Se vierem novos protagonistas, pode até ser que uma nova aposta com os atores de La Casa de Papel valha à pena. 

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