O episódio de domingo de Game of Thrones, o quarto da sétima temporada, foi o ápice de um fenômeno que vem se desenrolando aos poucos na trama: a ascensão das mulheres em uma história antes dominada pelos homens. (Nem preciso dizer: este texto contém spoilers.)
George R.R. Martin e os produtores da série têm recebido desde o início muitas acusações de que GoT é machista e misógina demais, com as personagens femininas relegadas a esposas e amantes, além de objeto de inúmeros estupros ao longo dos anos. Se Martin ouviu as reclamações ou se era para ser assim desde sempre, talvez nunca venhamos a saber, mas o fato é que o jogo virou para as mulheres em Westeros.
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Analisando o último episódio, percebe-se que praticamente todas as cenas foram protagonizadas por elas – algo que talvez nem salte aos olhos dos menos atentos, já que a trama naturalmente as levou para os principais postos de poder nos Sete Reinos. Personagens que, lá no começo, pareciam fadadas a ser acessórios dos homens agora ditam os rumos da guerra. Ninguém explicou melhor a situação do que a sábia Lady Olenna Tyrell mais cedo nesta temporada, ao aconselhar Daenerys: "Conheci muitos homens inteligentes. Eu sobrevivi a todos eles. Sabe por quê? Eu os ignorei".
Dany, aliás, é o melhor exemplo desta ascensão. Vendida como esposa-escrava a Khal Drogo para ajudar a reivindicação de seu irmão ao Trono de Ferro, deu à luz três dragões, conquistou reinos, conseguiu uma legião de seguidores fiéis e, agora, tem Jon Snow à sua mercê em Dragonstone. No domingo, trucidou as forças de Jamie Lannister com o fogo de seu dragão, em uma das cenas mais esperadas (e incríveis) de GoT. Do sofá, a gente vibrou: "Dracarys neles, Dany!".
Jamie, este, que é mais um fantoche nas mãos da irmã-amante Cersei, que subiu ao trono em Porto Real depois de ver marido e dois filhos morrerem com a coroa na cabeça. Hoje, é a grande rival de Dany e põe medo em todos os seus súditos (e em quem não é súdito também). É ela, e mais ninguém, quem decidirá se quer ou não uma aliança com os Greyjoys ao casar com o sádico Euron. De resto, nem se preocupa com as más línguas – se alguém achar ruim ela levar o irmão para a cama, com certeza vai perder a cabeça.
Ao norte, depois do reino de terror de Ramsay Bolton, Winterfell tem três mulheres à frente. Duas delas nunca quiseram ser lady, tampouco esposa de alguém: Arya Stark e Brienne de Tarth, que sabem lutar melhor do que a maioria dos caras em Westeros (certamente mais do que o pobre Podrick).
Mas foi Sansa quem mais sofreu em sua jornada até ali porque era justamente a mais ingênua. Ela, sim, queria um marido e lindos vestidos, mas o mundo se mostrou duro com a ruiva Stark. Humilhada pelo psicopata rei Joffrey, vendida por Mindinho e estuprada por Ramsay, ela ressurgiu com o exército do Vale para salvar o irmão na Batalha dos Bastardos e jogar os cachorros no ex-marido (em outra das cenas mais satisfatórias da série). Sem contar que, na ausência de Jon, Sansa está controlando Winterfell.
Com a iminente chegada dos Caminhantes Brancos, não se sabe se restará algum trono para ser ocupado em Westeros. O certo é que tem sido ótimo ver a mulherada comandando na série mais popular do mundo.