Na semana em que Lygia Fagundes Telles completa 94 anos, a TV Cultura apresenta nesta sexta-feira, às 22h30min, o especial Lygia, Uma Escritora Brasileira, dirigido por Helio Goldsztejn e produzido pela equipe da emissora.
Bem documentado, o especial não escapa ao formato usual – muitos depoimentos, imagens de época, entrevistas com parentes e com a própria personagem em diversas fases de sua vida. É bem sacada a ideia de buscar a contemporaneidade de uma autora que, afinal, vem escrevendo, com regularidade e sucesso, ao longo de sete décadas. Também adequado vinculá-la à sua cidade, uma São Paulo que ainda tinha vida social, inteligente e articulada.
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Entre os depoentes, há escritores como Ignácio de Loyola Brandão, Marcelino Freire e Walnice Nogueira Galvão; jornalistas como Paulo Werneck, Manuel da Costa Pinto e Tati Bernardi; a psicanalista Ana Verônica Mautner e o apresentador e escritor Jô Soares. Além deles, acrescente-se a presença forte da atriz Guta Ruiz dando voz a alguns textos de Lygia. É muita gente falando, mas, no caso, assunto não falta, pois vida e obra de Lygia comportam mesmo tantos comentários e tantos elogios.
Ponto alto é o relato de sua união com o crítico Paulo Emilio Salles Gomes (morto em 1977), o segundo dos seus casamentos (o primeiro foi com o jurista Goffredo Telles). Cinéfilo, pensador do cinema e criador da Cinemateca Brasileira, Paulo Emilio trouxe Lygia para sua seara. Juntos escreveram o roteiro de Capitu, transcrição de Dom Casmurro, de Machado de Assis, filmado por Paulo César Saraceni. Lygia também trouxe Paulo Emilio para sua arte. Pouco antes de morrer, o crítico estreava na ficção com seu Três Mulheres para Três PPPs. "Eram o Casal 20 da época", diz um dos entrevistados.
Autora de livros como Ciranda de Pedra, Antes do Baile Verde, As Horas Nuas, Conspiração das Nuvens e As Meninas, entre tantas outros, Lygia é desses escritores que fazem da literatura uma missão. Terra a ser arada a cada dia, sem férias nem feriados, meta além do horizonte a ser perseguida sem descanso. "Lutar com palavras, a luta mais vã", dizia Drummond, seu amigo. A biografia de um escritor é medida de quanto ele se aproxima do ideal inatingível da expressão completa. Sem ser didático ou completo, o documentário nos dá ideia dessa trajetória de Lygia em sua arte.
*Por Luiz Zanin Oricchio