Quando peguei este crachá, um filme passou na minha cabeça. Lembrei de minha mãe, eu e três irmãos enfiados em um banheiro cedido por uma vizinha após sermos despejados. Não tínhamos televisão, então ela cantava músicas de sua infância toda noite, e esse era o momento esperado.
Não sonhava em trabalhar na tevê. Aliás, só ouvíamos a televisão da vizinha. Na época, nossa diversão era ouvir as falas da novela Que Rei Sou Eu? e ficar imaginando como eram as lutas de espada. Hoje, eu dou rolê no Projac, onde a novela foi gravada.
Hoje, todos elogiam meu cabelo, mas quando peguei piolho e minha professora mandou raspar a cabeça, minha mãe disse que ia passar veneno. Ela não queria cortar meu cabelo porque gostava do black power, o mesmo black power que hoje está no crachá da Globo. Me pergunto de onde minha mãe tirava forças para não ficar louca.
Hoje, como em restaurantes chiques, mas lembro que, com as sobras que trazia do restaurante onde trabalhava, minha mãe fazia verdadeiros banquetes. Foi aí que aprendi a fazer televisão: se eu tirasse boas reportagens das periferias como ela tirava pratos gostosos das sobras eu iria vencer.
Mãe, vencemos. Vou fazer na Globo o que minha mãe fazia nas faxinas: o meu melhor. Quero dedicar esse crachá para dona Ivanete, minha mãe, porque a fruta nunca cai longe do pé.
Batalha do Conhecimento
E neste sábado, no Jornal do Almoço, tem mais uma disputa da Batalha do Conhecimento. Os combatentes são Felp, 17 anos, do Bairro Boa Saúde, em Novo Hamburgo, e Jean, 16 anos, do Bairro Rubem Berta, na Capital. Confere lá!