Tenho um amigo que, anos atrás, escreveu uma crítica sobre um filme do Batman. "Chorei três vezes", dizia ele, o que virou motivo de chacota entre nós, na redação, por alguns anos – e ainda é. Por isso, fiquei com receio de dizer o que vou dizer, mas lá vai: chorei vendo o Amor & Sexo desta quinta-feira. Segurei tudo que pude, mas bem no finalzinho, não aguentei. Chorei.
Amor & Sexo é o melhor programa da TV aberta atual. Tem muitos outros programas bons, é óbvio (Tá no Ar já é um clássico, e a releitura da Escolinha do Professor Raimundo é uma boa opção para os domingos em família, ainda que algumas piadas extrapolem a inocência do horário), mas poucos conseguiram o que o Amor & Sexo conseguiu. O que aconteceu com a atração comandada pela linda Fernanda Lima ao longo de nove temporadas é o que acontece com a gente ao longo da nossa vida sexual: ficou mais seguro, mais atraente e também mais sensível. O Amor & Sexo amadureceu.
De um programa que começou como uma grande piada e jogos de intimidade bobos entre casais famosos (lembro de um episódio bem ruim com Bruno Gagliasso e Giovana Ewbank contando, de uma forma meio mecânica, algumas coisas sobre a rotina de casal que me fez pensar "que coisa ruim"), ele se tornou um fórum de discussões e reflexões fundamentais diante do momento de intolerância que a gente vive. Não perdeu o bom humor – pelo contrário, ficou mais refinado. Continua trazendo jogos sexuais e colocando o elenco em situações engraçadíssimas (dou muita risada com a Mariana Santos, sempre), mas nos deixa com aquele incômodo ao falar de coisas que, muitas vezes, estão presentes no nosso dia a dia, mas a gente evita olhar ou falar, por medo, por vergonha, por receio de não ser aceito. E isso vai desde brinquedinhos eróticos e fetiches até questões que envolvem aceitar a própria sexualidade, criar os filhos em um mundo menos machista e garantir que homens e mulheres tenham oportunidades iguais.
O Amor & Sexo ainda faz tudo isso com um toque de música boa e performances teatrais que extrapolam a sensibilidade – nesta quinta, tivemos nu frontal no encerramento, ao som de "Um homem também chora", de Fagner, um clássico da MPB (e eu imagino o choque da família brasileira). E foi nesse momento que eu chorei. Não deu pra segurar.
Meus lamentos são que: a) Amor & Sexo seja um programa do tipo "ame ou odeie" e b) que ele, talvez, esteja esgotando a fórmula. Principalmente porque tudo que se discute ali precisa ser levado a todas as camadas da população _ e, às vezes, tenho a impressão de que, assim como as pessoas mantém na timeline do Facebook os discursos que se parecem com os seus, quem assiste ao programa já tenha um certo nível de consciência sobre o que se fala ali e apenas reafirme o que já pensa. Mas, ainda assim, torço para que todo mundo enxergue o valor que uma atração dessas tem em um canal como a televisão aberta. E que a gente aproveite mais do Amor & Sexo. Na TV e na vida.