Quando os diretores Alexis Bloom e Fisher Stevens começaram a seguir Debbie Reynolds e sua filha Carrie Fisher, a proposta era iluminar os bastidores de uma das mais célebres famílias de Hollywood, cujos integrantes protagonizaram na vida real episódios dignos da mais inspirada ficção. O documentário Bright Lights: Starring Carrie Fisher and Debbie Reynolds foi recebido com entusiasmo no Festival de Cannes, em 2016. Mas sua estreia mundial na TV, pelo canal HBO, domingo passado nos EUA e segunda no Brasil, deu ao tributo o tom de réquiem. Carrie morreu em 27 de dezembro, aos 60 anos, e Debbie se foi no dia seguinte, aos 84, quando preparava o funeral da filha.
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Perpassa o documentário, que tem reprise neste domingo, às 12h55min, no canal HBO, o tom de humor sarcástico que era característico, sobretudo, de Carrie, eternizada no cinema aos 20 anos como a princesa Leia da saga Guerra nas Estrelas. Ela e Debbie, vizinhas em um condomínio de Beverly Hills, exibem-se, mais do que mãe e filha, como grandes amigas. Em Carrie ficaram impressas as turbulências enfrentadas com drogas, remédios, internações, bipolaridade e depressão. Parece fisicamente mais velha do que a idade que tinha à época – as imagens principais foram registradas entre 2014 e o começo de 2015. Já Debbie segue encarnando a diva que teve seu auge nos anos 1950 e 60 estrelando clássicos como Cantando na Chuva (1952). Preserva no rosto traços da vivaz beleza da juventude como namoradinha da América.
Imagens de arquivo embaralham a vida profissional e privada da família – o irmão caçula Todd Fischer entra em cena como o coadjuvante que lança contrapontos na narrativa. É lembrado o grande escândalo que foi a separação de Debbie e Eddie Fischer, cantor que a trocou por Elizabeth Taylor, amiga íntima da família, quando Carrie e Todd eram pequenos – filha e pai moribundo têm um emocionante reencontro diante da câmera registrado em 2010, pouco antes de Eddie morrer.
Lembranças de Hollywood – nome em português do filme de 1990 com roteiro de Carrie adaptando seu livro autobiográfico sobre atriz que, em meio aos atritos com a mãe famosa, tenta se recompor na vida após uma overdose de drogas – poderia ser também o título deste documentário, que se torna melancólico ao mostrar como mão e filha se empenham para seguir vivendo sob os holofotes. Carrie é acompanhada no penoso processo de perder peso para voltar a encarnar a Princesa Leia em Star Wars: O Despertar da Força (2015) e também faturando uma grana extra com aparições nas convenções dos fanáticos pela franquia espacial. Debbie faz shows em cassinos e clubes atraindo fãs idosos e volta e meia organiza leilões para reforçar a renda se desfazendo da vasta memorabilia (de figurinos a peça de cenários) que adquiriu junto a colegas famosos e estúdios. O ponto alto do documentário é a cerimônia de entrega do Screen Actors Guild Awards de janeiro de 2015, ocasião em que Debbie ganhou do sindicato dos atores um prêmio honorífico por sua carreira.
É a veterana estrela que sintetiza a motivação para seguir em frente levando Carrie pelo braço em meio às lembranças de aconteceu de bom e nem tanto em suas vidas de conto de fadas. "As nossas memórias são como um velho amigo que sempre está por perto para nos confortar e fazer rir".