Um dos grandes nomes da Semana ARP (Associação Rio-Grandense de Imprensa) Especial 60 Anos, o britânico Simon Tunstill veio ao Rio Grande do Sul nesta semana para falar de um tema que suscita debates entre intelectuais, comunicadores e espectadores: o poder da TV e da publicidade no tempo dos vídeos online. Diretor de comunicação da Thinkbox, empresa focada na promoção mercadológica da televisão no Reino Unido, o especialista conversou com Zero Hora sobre questões inquietantes do futuro do audiovisual.
No atual contexto de consumo cada vez maior de vídeos online, a televisão como a conhecemos está desaparecendo?
Não, não mesmo. A televisão está mudando, mas os fundamentos da televisão e o modo como a assistimos não estão diferentes. A TV continua sendo vista ao vivo e por transmissão. Agora, com as novas tecnologias e a internet, temos mais oportunidades para ver TV onde e quando queremos.
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Então não é mais difícil definir o que é TV hoje?
Não. Há um espectro do vídeo, e a televisão reside na ponta de maior qualidade. A definição de TV tem a ver com o audiovisual feito de modo profissional. Não há uma linha clara quando TV deixa de ser TV e um vídeo de internet deixa de ser apenas um vídeo de internet. Mas as pessoas normalmente entendem naturalmente o que é televisão. Elas assistem à Netflix e encaram aquilo como TV, ou um clipe no YouTube. Elas sabem o que é TV.
E a publicidade é capaz de se adaptar aos novos modos de se assistir à televisão?
Sim, claro. Se você pensar, a maior parte da publicidade da TV continua em comerciais de televisão, entre os programas – esta já foi comprovada como uma forma eficiente. Mas as emissoras no Reino Unido têm investido muito em novos modos de ver TV – sob demanda, por exemplo. Ali, também há outros formatos de publicidade que podem ser usados. Há uma coleta rica de informações e dados, com frequência em determinado programa ou questões demográficas. São informações interessantes, novas oportunidades e vantagens.
A HBO lançou recentemente um novo serviço somente sob demanda no Brasil. É uma tendência haver somente serviços no formato Netflix daqui para frente?
Acho improvável. Há muitas razões diferentes pelas quais as pessoas assistem à TV. Uma das mais fortes é a razão social. O ser humano gosta da humanidade, de ser sociável, então as pessoas gostam de assistir à TV juntas. A grande maioria do consumo de televisão e de vídeo é por meio da TV ao vivo, e a razão por trás disso é humana: gostamos de compartilhar. Ao menos a metade das pessoas que veem televisão no Reino Unido faz isso junto a alguém. Gostamos de ver TV com nossos amigos, comentar o que vemos com eles, no Twitter, no Facebook, por meio de mensagens. Isso é, de fato, algo que a internet trouxe que melhorou a televisão. Não sentamos mais apenas em um sofá; sentamos em um sofá virtual com o resto do mundo para assistir junto. Isso torna a TV ao vivo ainda mais importante, pois, se você perder aquela linha de transmissão e seus amigos, não, eles podem estragar o programa para você. É imperativo assistir ao mesmo tempo que todo mundo.
Como você avalia a questão da narrativa transmídia? Hoje, no Brasil, a Globo tem utilizado muito esse recurso.
É um recurso ótimo. É popular, pode ser bem integrado às campanhas publicitárias. Publicidade nunca é só publicidade na TV. Se for feito só ali, é muito bom, mas os melhores resultados são vistos quando combinamos TV com outros mídias. A publicidade esperta usa a TV, mas amplia seus efeitos em outras plataformas.
Hoje, os desafios são os mesmos para canais abertos e fechados de TV?
A televisão paga no Reino Unido está prosperando, bem como a não paga, mas a paga não tem comerciais entre os programas. As pessoas diziam que a Netflix poderia substituir a TV paga. Entretanto, uma pesquisa no Reino Unido mostrou que as pessoas que têm Netflix também têm TV paga, ou seja, não se trata de uma substituição. As pessoas querem tanta televisão quanto puderem conseguir. As pessoas adoram televisão.