A estreia da série Supermax, da Globo, causou divisão no público. De um lado estão os que decidiram dar um voto de confiança à produção que marca a entrada da maior emissora aberta brasileira em um novo segmento, mix de terror, suspense e thriller. No extremo oposto estão os espectadores que já deram o veredito logo de cara: a história é clichê, o elenco é fraco e não vale a pena seguir adiante. ZH assistiu aos 11 episódios do seriado que estão disponíveis no Globo Play e pode adiantar: há inconsistências no enredo e na construção de alguns personagens, mas o desenrolar do pseudo-reality despertará muita curiosidade em quem continuar acompanhando a trama (se você não quer spoiler, é bom parar de ler por aqui).
Originalidade não é a melhor palavra para definir Supermax. A história faz referências claras a seriados como True detective, Lost e The walking dead – o que os criadores José Alvarenga Jr., Marçal Aquino e Fernando Bonassi já tinham adiantado em entrevistas. Mas o problema não é esse. Na verdade, a grande questão que surge já no morno primeiro episódio é sobre a escolha e a atuação do elenco. Para os que só assistiram à estreia, pode não ter ficado claro se a ideia era ter diálogos pobres e clichês, justamente pelo enredo tratar do primeiro dia de um reality show no qual 12 pessoas estão confinadas em uma prisão desativada na Amazônia, ou se o texto era realmente fraco e as atuações deixaram a desejar. Além disso, também causou estranhamento a participação de Mariana Ximenes e Cleo Pires em uma série que deveria ter prezado por um elenco completamente desconhecido do público de TV, para fazer jus ao mote do seriado.
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Conforme a história vai ganhando ritmo, a construção do texto melhora de leve – os ganchos nos fins dos capítulos deixam o público bem curioso para os próximos passos dos confinados. Alguns personagens são decepcionantes, como a enfermeira Bruna de Mariana Ximenes. Macabra ao extremo, chega a ser caricata e fica deslocada na trama. A surpresa é Sabrina, vivida por Cleo Pires: carismática e misteriosa, a psicóloga ganha protagonismo e é a responsável por uma das cenas mais dolorosas (e bem feitas) do seriado. Entre os destaques positivos do elenco também está o gaúcho Ravel Andrade – ligado ao satanismo, o jovem Dante é um dos que vai despertar a aura mais sombria da trama.
Aliás, esse prometido mix de gêneros que reúne terror, thriller, suspense e ação realmente se confirma na tela. O impasse, porém, é a miscelânea de forças do mal: seitas satânicas, mortos-vivos, visões proféticas e espíritos malignos estão em uma história confusa para o espectador até o sexto episódio. Depois, os mistérios começam a ser desvendados, e a história se encaixa de forma até surpreendente.
No fim, a sensação que fica é de um enredo pouco profundo, reflexo, talvez, da própria concepção da série. A produção serviria facilmente para mais de uma temporada, só que precisou ser resolvida em 12 episódios – a versão americana, por exemplo, está sendo pensada para mais de três anos. Alvarenga Jr, Aquino e Bonassi revelaram que a pretensão inicial não foi fazer uma série mais longa, o que, segundo eles, teria sido um erro – até agora, uma segunda temporada de Supermax ainda não está confirmada. Em apenas 12 episódios, os autores precisaram correr para explicar a história de 12 pessoas envolvidas em problemas sérios com a justiça, criar um enredo impactante, cheio de elementos sobrenaturais e que, no final, ainda fizesse sentido sem decepcionar os fãs do terror.
Supermax pode não ser a melhor série da Globo da última década, mas obrigou a emissora e o espectador a saírem da zona de conforto. Apesar dos percalços, é um marco dentro de um nicho esquecido na TV aberta. Essa é uma boa hora para o público começar a abraçar as produções nacionais inovadoras com olhar crítico e mente aberta, sem ranço por não ser um produto americano. Supermax merece ganhar uma chance dos amantes de seriados.