Mais do que um programa de gastronomia,o Chef’s Table aborda a vida de pessoas que são chefs. O episódio dedicado a você é exemplar nesse sentido. Ele foi concebido dessa maneira?
Esse é o intuito da série. O criador, David Gelb, concebeu-a para justamente mostrar o que há por trás dos pratos dos chefs. Acho uma ótima oportunidade para mostrarmos esse bastidor da cozinha.
O que te levou ao Chef’s Table?
A abordagem do diretor (Clay Jeter) me deixou muito seguro para participar da série. Ele e sua equipe entraram em contato comigo já com uma pesquisa aprofundada sobre o trabalho que realizo no D.O.M. e,principalmente, no Instituto Atá.
No início do episódio, você fala sobre o ciclo da vida de uma semente e sobre estarna flor, seu momento mais belo. Isso pode ser interpretado como um paralelo com sua carreira e com o momento da gastronomia, que atingiu seu apogeu. É assim que você pensa? Você se sente mais reconhecido até como artista?
Penso na minha vida e na minha carreira em ciclos. Hoje estou na flor, como você disse, mas isso não significa que acabou. Acho que nunca podemos pensar que atingimos o nosso melhor – devemos continuar buscando sempre. Não me considero um artista, e sim um cozinheiro. Gosto de ressaltar isso: sou um cozinheiro.
Há uma sequência sua abatendo uma ave e falando, ao mesmo tempo, sobre o respeito que é preciso ter com a morte que gera o alimento. Você se sente um agente da cozinha consciente?
Não me considero um agente, mas uma pessoa que busca trabalhar em conjunto com entidades, produtores e comunidades.Disseminar a cadeia do alimento, do campo à mesa, é essencial para nos reaproximarmos da comida. O homem moderno e urbano se distanciou dela devido à industrialização. Precisamos resgatar essa relação.
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É possível mudar o modo de produção massivo e, de certo modo, cruel dos alimentos no Brasil? E no mundo?
Sim. Não apenas os chefs, mas todos os consumidores têm força para transformara indústria. Não se deve impor regras para ninguém, mas as pessoas não devem comprar produtos com os quais não se identificam.Temos de nos recusar a utilizar ingredientes com os quais não concordamos.Talvez seja essa a tática mais efetiva para criar uma demanda de mercado e fazer com que as empresas se adequem a ela.
Você acha que os programas de culinária da televisão estão ajudando a conscientizar mais as pessoas sobre a origem de seus alimentos e até a necessidade de comer com mais qualidade?
Minha intenção foi participar de um projeto que mostra todo o caminho percorrido que há por trás de um prato. A série me chamou a atenção por esse motivo.
O que você imagina que virá de retorno da sua participação no Chef’s Table?
Essa é mais uma oportunidade para consolidarmos uma marca chamada Brasil. A série levará para o mundo mais do que o meu nome; vai levar, isso sim, várias mensagens. Especialmente, todos os sabores ricos que o Brasil pode oferecer.
Você tem ambições na TV?
Não. Já tive um programa há alguns anos,e é uma rotina que exige muitas horas de dedicação. Hoje meu foco está nos restaurantes e nos projetos do Instituto Atá.