Morreu, nesta sexta-feira (27), a coreógrafa e bailarina Iara Deodoro, aos 68 anos. Segundo o esposo, Paulo Romeu, ela teve uma parada cardíaca no final de maio e ficou hospitalizada por quatro meses, com lesão cerebral. Nesta sexta, teve uma nova parada cardíaca e não resistiu.
Como forma de homenagem à parceira, ele afirmou:
— Aos afros do Sul, para chegar a Ubuntu, tem que passar por Sankofa. É o que a nossa Nação faz há 50 anos no Rio Grande do Sul, no Brasil e no Exterior. Olorun se mexeu.
Ao longo de sua trajetória, Iara se tornou uma das mais renomadas coreógrafas no segmento das danças afro. É considerada uma mestra por bailarinos gaúchos que hoje despontam no Brasil e no mundo.
Ela também fez parte da fundação, em 1974, e seguiu como uma das líderes do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê, espaço de referência da cultura negra em Porto Alegre. O projeto surgiu da reunião de músicos e bailarinos para disputar um festival estudantil e, com o tempo, foi expandindo seu escopo.
— Não tínhamos pretensão de chegar tão longe, nem mesmo dimensão de que poderíamos, porque era uma coisa muito nossa — lembrou Iara à reportagem de Zero Hora em fevereiro deste ano. — Éramos adolescentes negros inquietos com a própria identidade, tentando entender o porquê da discriminação e do ódio — acrescentou ela, que tinha apenas 18 anos quando o Afro-Sul foi criado.
O trabalho como Instituto Sociocultural começou a ser oficializado com as crianças que participavam das turmas mirins de música e dança afro que o grupo passou a oferecer. O foco, então, passou a ser usar a arte para para promover o letramento racial dos pequenos. Iara, se sentia um pouco "mãe" daqueles que passavam pelo Afro-Sul.
— Nossa preocupação nunca pôde ser só com a parte artística. Hoje, nosso grande objetivo é proteger as crianças do racismo, fazer com que não passem pelo que passamos. A gente trabalha para que elas cresçam com autoestima e com ferramentas para se manter saudáveis nesse Estado, que não é fácil — afirmou Iara, também a ZH.
Nas redes sociais (veja abaixo), o instituto homenageou Iara, ressaltando que a artista "é legado" e estará presente "florescendo e semeando a cultura afro-gaúcha nos territórios negros mundo afora".
Já a Imperadores do Samba a definiu como "uma verdadeira Griô e Mestra da nossa cultura". "Que o legado de Iara siga inspirando e transformando vidas negras por onde ecoar", acrescentou a agremiação em publicação nas redes sociais.
O velório ocorre neste sábado (28), a partir das 10h, no Cemitério Ecumênico João 23, em Porto Alegre, para amigos e familiares.