Correção: sediado no Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues, o Atelier Xico Stockinger foi totalmente alagado e não saiu ileso da enchente, como publicado entre 23h06min de 19 de junho 18h41min de 24 de junho. O texto já foi corrigido.
Um dos principais palcos de Porto Alegre e entre os espaços culturais mais afetados pela cheia de maio, o Teatro Renascença não tem previsão de reabertura. A água que invadiu a Cidade Baixa e o Menino Deus também se espalhou por suas dependências, ultrapassando o porão, encobrindo o palco e alcançando a quarta fileira de poltronas.
Foi algo inédito na história do teatro, inaugurado em 1978 junto com toda a estrutura do Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues, onde fica abrigado. Ali também funcionam a Biblioteca Municipal Josué Guimarães e a Sala Álvaro Moreyra. Por se situarem no mesmo nível do saguão de entrada, os dois espaços saíram praticamente ilesos na enchente. Já o Atelier Xico Stockinger foi totalmente alagado e teve perda total.
Já o Renascença, com uma inclinação entre as poltronas de cima, situadas no nível do saguão, e o palco lá embaixo, na altura da calçada, sofreu danos maiores justamente na parte mais baixa.
Coordenador de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura e diretor teatral com 30 anos de carreira, Jessé Oliveira diz que o porão do Renascença, abaixo do palco, frequentemente ficava inundado. Neste pavimento inferior, há uma bomba projetada para expulsar a água em episódios de pequenos alagamentos, além de todo um maquinário instalado na época em que o centro cultural foi inaugurado.
A bomba, contudo, foi engolida pelo volume incomum de água.
— Pequenos alagamentos no porão do teatro é um problema histórico, mas a água ficava circunscrita ao porão, lá embaixo. Nunca tinha atingido o teatro — afirma.
Imerso por dias seguidos, o palco não precisará ser trocado. Há pequenas elevações entre as madeiras inchadas de água, algo que um lixamento pode consertar, estima Jessé. Já os quadros de energia elétrica, que ficam ao lado do palco, foram atingidos. Toda a energia elétrica do Lupicínio Rodrigues foi desativada para que os danos na fiação sejam avaliados.
Algo pior poderia ter acontecido caso o projeto de melhorias previsto para o Renascença já tivesse saído do papel. No ano passado, Jessé orçou a troca de todas as 285 poltronas e do carpete, já bastante gastos. Se tivessem sido substituídos, agora teriam sido dados como perdidos. Na época, a reforma foi estimada em cerca de R$ 1 milhão. Após os estragos da enchente, o valor precisará ser revisto.
Eu não consigo precisar, mas levará meses para o Renascença reabrir.
JESSÉ OLIVEIRA
Coordenador de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura
— São poltronas originais de 1978, que jamais foram trocadas. Já estavam muito deterioradas, inclusive com cupins — diz o gestor.
Enquanto equipes de manutenção ainda limpam o teatro, removendo o lodo do chão e tirando o mofo das poltronas, seu futuro fica em suspenso. Como o projeto de substituição do mobiliário ainda está em fase de definição e sequer há sinalização para a liberação do orçamento, o Renascença deve permanecer fechado por pelo menos três meses — isso se houver celeridade no processo.
Maior que a Sala Álvaro Moreyra e capaz de receber até mesmo espetáculos de dança, é um palco que costuma oferecer, em média, 20 apresentações por mês, agitando a cena cultural na região entre o Menino Deus e a Cidade Baixa.
— Eu não consigo precisar, mas levará meses para o Renascença reabrir. E isso gera um impacto gigantesco, que afeta toda a cadeia produtiva do teatro. Cada apresentação envolve, no mínimo, seis pessoas, isso no caso de espetáculos solos. Mas pode chegar a 20 pessoas na produção, sem falar nos artistas — destaca Jessé.
Assim que forem concluídos os reparos na parte elétrica, a expectativa é que os demais espaços do Lupicínio Rodrigues sejam reabertos.