No mínimo, seis por noite. Isso quando cantam pouco. É o número de vezes que Paulo Ricardo da Silva, 51 anos, estima ouvir a música Evidências, composição de Paulo Sérgio Valle e José Augusto eternizada nas vozes de Chitãozinho & Xororó. De quarta-feira a sábado, ele escuta o hit em pelo menos 24 oportunidades por semana.
Ao lado de sua ex-esposa, Ilva Oliveira, Paulo é proprietário do Babilônia Karaokê, localizado no bairro São Geraldo, zona norte de Porto Alegre. O estabelecimento, que surgiu como boteco, completou 40 anos em 11 de agosto. Celebrando essas quatro décadas, o negócio irá se expandir: o Babilônia Karaokê Pub será inaugurado nesta terça-feira (28), em evento para convidados. Ou seja, mais chances para se cantar e ouvir Evidências.
O novo espaço fica na Av. Pernambuco, 2.380, ao lado do tradicional Babilônia. Conforme Paulinho Babilônia, como também é conhecido o empresário, as duas casas serão distintas, com diferentes administrações. O novo espaço vai abrir a partir das 18h — o atual inicia as atividades às 20h —, com uma tendência ao happy hour. O Pub conta com mezanino e uma sala privativa. Essa sala tem capacidade estimada para 30 pessoas e contará com DJ e garçom próprios, além de ter uma janela de vidro que dá para a pista.
De acordo com Paulinho, o Pub será um local com uma aspiração mais moderna, que deve trazer um novo público ao karaokê. Antes, o prédio abrigava uma ferragem, mas os proprietários — Dennis Martins e Karina Santos — pensavam em mudar de ramo. Após uma conversa entre vizinhos, o novo karaokê começou a tomar forma.
— Sempre sonhei em montar um bar ao lado — relata Paulinho. — Via um potencial por ser um local aberto com mezanino em cima. O pessoal da ferragem estava pensando em mudar de ramo. Como a procura estava sendo muito grande agora no Babilônia, conversamos, e eles toparam fazer. Com a liberação dos bombeiros, iniciamos a obra.
O Babilônia Karaokê Pub irá abrir para o público geral nesta quarta-feira (29); porém, o funcionamento do estabelecimento será de quinta a domingo.
Como tudo começou
Fundado em 1983, o Babilônia foi assumido por Paulinho em 6 de janeiro de 1998, realizando o sonho antigo de ter um negócio próprio. Seu irmão, Marco Aurélio, trabalhava como garçom no bar e soube que o patrão queria vender o estabelecimento. Na ocasião, Paulinho era garçom no Mega Bingo e recém havia saído de outro emprego, em que tinha obtido a rescisão. Ele também teria ajuda do irmão e da mãe, Tereza Schmitt, nessa investida.
— Quando apareceu a oportunidade, meti os peitos — recorda. — Dei aquele dinheiro de entrada e pedalei o resto em 12 vezes.
No entanto, o movimento era escasso nos primeiros anos da nova gestão. Às vezes, tentava-se incluir algum grupo de pagode ou alguma atração musical, mas nada. A virada veio em 2000, após Paulinho saber que alguns bares estavam lotando por causa do karaokê. Ele visitou alguns estabelecimentos para confirmar a notícia e ficou surpreso: viu filas tanto para cantar quanto nas entradas dos recintos, isso em uma quinta-feira.
Então, Paulinho comprou um aparelho parcelado e montou um palquinho no bar. A cada dia foi melhorando o movimento. O Babilônia nunca mais funcionou sem o karaokê.
O local se transformou com o tempo. Em meados dos anos 2010, o karaokê começou a ser realizado por computador, contando com disco rígido que armazenava milhares de músicas. Em seguida, com a melhora na rede de internet, a cantoria passou a ser intermediada pelo YouTube. O Babilônia original, hoje, abriga dois espaços de karaokê: um na frente e outro nos fundos, onde antes funcionava uma pista de dança.
O público também foi se transformando, como observa Paulinho. Se no início o Babilônia era frequentado por trabalhadores da região e uma galera que desembocava no karaokê vindo de outros bares, houve uma mudança de perfil a partir de 2015 — um público eclético, do alternativo ao pessoal em uma celebração (aniversário, festa de firma etc.). Para exemplificar, o empresário atesta que o Babilônia já recebeu três despedidas de solteira ao mesmo tempo.
Paulinho crê que a mudança de perfil do Babilônia começou em 2015, quando o cineasta Lucas Cassales (diretor do longa Disforia, de 2019) e seus amigos passaram a frequentar o local. No boca a boca, o público foi aumentando, ao mesmo tempo em que o karaokê também virou um tendência na Capital.
Aos 40 anos, Cassales lembra que passou a frequentar o local após indicações de amigos. Para ele, a ida ao Babilônia era um momento de trocar ideias com pessoas de diferentes idades e bolhas, ouvir músicas que não estavam necessariamente em seu radar e arejar as ideias. Cassales reflete que a quantidade de vezes que foi ao karaokê é grande:
— Num dia tu vais com um grupo. Depois, vais com outro. Amigos levam amigos e, quando vês, tu acabas encontrando muita gente conhecida por lá. Fico feliz de ter participado um pouco dessa história e ver o negócio crescer do jeito que cresceu. Isso se deve ao acolhimento que sempre recebi quando fui lá.
Outra frequentadora do Babilônia que também ajuda a "espalhar a palavra" é a gerente de projetos Victoria Jardim, 29 anos. Uma amiga a apresentou ao local, e, de lá para cá, ela começou a visitar o karaokês com inúmeros grupos de amigos diferentes: faculdade, trabalho, infância e visitantes de fora.
— Já levei vários norte-americanos lá, argentinos, uruguaios, chilenos, paulistas, cariocas, catarinenses e por aí vai — relata. — É um lugar extremamente acolhedor, no qual você pode ser quem é. Já fui para lá depois do trabalho, com roupa de esporte, fantasiada de Mario Bros. ou bruxa e até vestida de gala. O que importa é cantar e celebrar.
Paulinho ressalta que a única coisa proibida no karaokê é a vaia:
— Os que cantam mal são os mais aplaudidos. Quem canta com emoção e coração, mesmo que desafinado, faz o pessoal pular e delirar.
Nesses momentos de cantoria, há músicas que surgem com mais frequência, como A Lenda, de Sandy & Junior, e Bohemian Rhapsody, do Queen. Mas Evidências ainda é a mais cantada, como assegura Paulinho. E, surpreendentemente, ele não se cansa de escutá-la várias vezes na mesma noite:
— Não tem como enjoar dessa música, a letra é linda! — garante. — Todo mundo canta junto, dá emoção para o karaokê. É o hino do karaokê.
Babilônia Karaokê
- Onde: Av. Pernambuco, 2.384, zona norte de Porto Alegre.
- Horários: de quarta a sábado, das 20h às 3h.
- Ingresso: R$ 30.
- Instagram: @babiloniakaraoke
Babilônia Karaokê Pub
- Abertura: nesta terça-feira (28) para convidados e nesta quarta (29) para o público geral (depois, o funcionamento será de quinta a domingo).
- Onde: Av. Pernambuco, 2.380.
- Horários: quintas e domingos, das 18h à meia-noite, e sextas e sábados, das 18h à 2h
- Ingresso: R$ 30.
- Instagram: @babiloniakaraokepub