Morreu nesta quinta-feira (13), aos 94 anos, o historiador Sérgio da Costa Franco. Um dos mais renomados pesquisadores das histórias de Porto Alegre e do Estado, com quase 30 livros lançados, Costa Franco estava internado no Hospital Moinhos de Vento há duas semanas, onde tratava uma trombose. Ele contraiu covid-19 durante a internação e morreu por insuficiência cardíaca, segundo relatou o filho Miguel da Costa Franco. O velório será realizado nesta sexta-feira (14), na capela 6 do cemitério da Santa Casa, das 9h às 17h.
Filho de pais fluminenses, naturais da região serrana do Rio de Janeiro, Costa Franco nasceu em Jaguarão, no Rio Grande do Sul, em 1928. A família mudou-se para o Estado porque o pai, Álvaro da Costa Franco, recebeu a oportunidade de trabalhar como juiz na fronteira gaúcha. Quando Sérgio nasceu, o sétimo dos oito filhos do casal, Álvaro já havia deixado a magistratura para trabalhar como advogado no interior.
Após a morte do pai, em 1935, Costa Franco veio com a mãe, Gilda, e os sete irmãos para Porto Alegre. Estabeleceram-se no Menino Deus, bairro que foi crucial para o despertar de sua trajetória como historiador. Deixou a região ainda na infância, mas voltou a viver ali havia cerca de seis anos, quando se mudou para um apartamento na Avenida Getúlio Vargas.
Na infância e adolescência, estudou no antigo Ginásio Estadual Anchieta, localizado na Rua Duque de Caxias, no Centro. Aos 15 anos, dava aulas de reforço para um menino de família rica a fim de conseguir o próprio dinheiro. Já na década de 1940, matriculou-se no curso de Geografia e História da UFRGS, depois de ter passado um curto período em São Paulo - pretendia estudar Filosofia, mas acabou desistindo e voltou para Porto Alegre.
Anos depois, Costa Franco ingressou na graduação em Direito. Em entrevista concedida em 2012 a Zero Hora, o historiador celebrou a decisão de seguir os passos do pai na profissão.
— Graças a Deus, resolvi fazer o vestibular para Direito. Isso me permitiu uma carreira boa e vantajosa do ponto de vista financeiro — disse.
De fato, a carreira no Direito foi promissora. Costa Franco prestou concurso para promotor de Justiça, passou e atuou nas cidades gaúchas de Encantado, Quaraí, Erechim e Soledade. Nessa última, onde trabalhava em 1964, quando teve início a Ditadura Militar no Brasil, chegou a ser preso pelos militares. O motivo: havia se filiado ao Partido Comunista Brasileiro quando tinha 18 anos. A recordação não passou batida pelo regime, ainda que ele a considerasse um erro de juventude.
Um ano antes, quando ainda estava em Erechim, começou a escrever o livro Julio de Castilhos e sua Época a convite da editora Edaglit, que pertencia a Leôncio Basbaum. A obra traça uma biografia do político gaúcho e é considerada uma das maiores contribuições de Costa Franco. Foi publicada pela primeira vez em 1967 e, anos depois, reeditada pela Editora da UFRGS, quando o autor começou a achar que havia pegado leve demais com o biografado.
- A essa altura achei o livro imperfeito. Eu tinha tratado de forma muito amena o autoritarismo de Castilhos, e me dei conta disso quando o livro saiu - chegou a dizer a Zero Hora.
A Porto Alegre de Sérgio
Em 1976, Costa Franco foi transferido do trabalho para Porto Alegre, onde passou a atuar como procurador de Justiça, cargo que conquistou em uma promoção. Pediu aposentadoria em 1977 para evitar conflitos com o Regime Militar, conforme contou em 2012.
— Aposentei-me em 1977, quando o general Ernesto Geisel estava na Presidência ameaçando fulminar a justiça com seus ukazes. Caí fora enquanto era tempo, já tinha tempo de serviço e me aposentei — explicou a Zero Hora.
Foi depois disso que Costa Franco decolou como historiador e cronista. Pelo menos duas décadas antes, em meados dos anos 1950, ele já atuava como jornalista opinativo, escrevendo artigos para jornais do Estado. E quando deixou de vez a carreira no Direito, passou a se dedicar com mais ênfase a sua outra faceta profissional: de 1978 a 1983, chegou a comandar editorias do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre.
Nesse período, publicou seu primeiro ensaio sobre a história da capital gaúcha. Foi o trabalho que acabou por fazê-lo criar gosto pelas idas ao Arquivo Histórico Municipal a fim de investigar a formação da cidade onde não nasceu, mas adotou como sua terra. Dessa prática, nasceram algumas de suas obras mais importantes, como Porto Alegre Ano a Ano - Uma Cronologia Histórica 1732-1950.
Na lista de publicações célebres estão também Porto Alegre: Guia Histórico, A Guerra Civil de 1893, Gente e Espaços de Porto Alegre e Porto Alegre Sitiada: um Capítulo da Revolução Farroupilha, entre outros, todos sobre a história do Rio Grande do Sul e seus personagens. Também publicou Memórias de um Escritor de Província, livro no qual narra suas memórias e conta detalhes de sua vida pessoal.
É nele que fala de como conheceu a esposa Ignez Maria Casella da Costa Franco, com quem se casou em 1951. Com a companheira de mais de seis décadas, Costa Franco teve cinco filhos: Sérgio, Maria Ignez, Miguel, Fernando e César.
O último livro de Costa Franco foi lançado em 2020, dias antes do início da pandemia. Em Cena os Presidentes - De Deodoro a Bolsonaro apresenta pequenas biografias de todos os presidentes do Brasil, de Deodoro da Fonseca a Jair Bolsonaro.
Em nota de pesar, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre lamentou o falecimento do historiador, lembrando que sua especialidade era escrever sobre Porto Alegre. "Franco também escreveu a biografia de Júlio de Castilhos. Em 2005, sua obra Os viajantes olham Porto Alegre venceu o Troféu Açorianos, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura. Em 2009, o historiador recebeu o Prêmio Joaquim Felizardo."